Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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5 motivos pelos quais (não) votamos em mulheres, negros e indígenas

Ainda há muito a ser feito para construímos uma sociedade menos segregada e desigual

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1º) Conscientização

Nos últimos anos, em vários lugares do mundo, houve considerável progresso na discussão relacionada à diversidade. No Brasil, país cuja história é marcada pela exclusão, ainda há muito a ser feito para construímos uma sociedade menos segregada e desigual.

Inclusão não é um valor enraizado em nossa cultura. Apesar dos avanços recentes na conscientização de que a representatividade das minorias em todos os espaços sociais é relevante para o processo de desenvolvimento socioeconômico, muitas vezes, mesmo aqueles que se dizem favoráveis à diversidade não costumam apresentar ações condizentes com tal posicionamento. Muitos se apoiam nesse discurso por ser politicamente correto e, curiosamente, deixam que a inércia leve à natural reprodução das desigualdades que tendem a favorecê-los.

2º) Viés racial e de gênero

A história tem um jeito silencioso e indireto de moldar o que somos hoje. Ao longo do tempo, a construção social gerou uma série de vantagens para determinados grupos e desvantagens para outros. Apesar de vivermos em um momento histórico em que vários privilégios herdados estão sendo sistematicamente contestados, o processo de mudança é lento e gradual.

Infelizmente, não será da noite para o dia que conseguiremos acabar com todas as práticas discriminatórias que levaram anos para serem naturalizadas em nossas condutas, e que estão impregnadas em nossa cultura e nossas instituições. Recorrentemente, de forma direta e indireta, de modo consciente e inconsistente, discriminamos em favor do grupo dominante: os homens brancos de alta renda.

Punho de mulher em frente a faixa em manifestação
Marcha da Consciência Negra em protesto contra o racismo no Brasil, em São Paulo - Danilo Verpa - 20.nov.20/Folhapress

3º) Acesso a recursos

Além de os eleitores tenderem a discriminar as minorias de diversas formas e intensidades em cada região do país, os candidatos que não fazem parte do grupo dominante também precisam superar várias barreiras para conseguir ter algum nível de visibilidade. O acesso a recursos é apenas um desses desafios. Ele, porém, é fundamental para tornar a campanha de qualquer candidato competitiva.

Em 2014, enquanto as candidatas negras a deputada federal receberam, em média, R$ 45 mil, os homens brancos receberam R$ 486 mil. Além disso, cerca de 80% dos candidatos não contaram nem com 20% dos recursos totais. Tais dados fazem parte de um amplo estudo que realizei conjuntamente com os pesquisadores Sergio Firpo, Alysson Portella e Rafael Tavares, associados ao Núcleo de Estudos Raciais do Insper. Intitulado como "Desigualdade Racial nas Eleições Brasileiras", o trabalho foi veiculado por esta Folha e outros veículos.

4º) Agenda política

Aumentar a representatividade das minorias na política institucional tende a influenciar nas tomadas de decisões e na ordem de prioridade da agenda política. Existe expressiva heterogeneidade nas visões de mundo entre os mais distintos grupos sociais e, assim, as escolhas públicas são afetadas com a intensificação do processo de inclusão. Isso é algo que nem todos desejam em nossa sociedade. Alterar as regras do jogo sempre incomoda o time que está ganhando.

5º) Pauta

No caso dos negros, muitos candidatos fazem consideráveis contribuições para o avanço do debate racial levantando o tema em suas candidaturas. Entretanto, muitos ficam presos exclusivamente a essa pauta e, deste modo, acabam disputando votos entre si. Ampliar a pauta ajudaria a dialogar com uma parcela maior do eleitorado e, consequentemente, conquistar mais votos.

O texto é uma homenagem à música Politely, de Tony Allen.

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