Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Universidade ainda vale a pena?

Em muitas ocupações de elite, o preço da admissão é um diploma de elite

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No início de setembro de 2023, um artigo publicado no jornal The New York Times chamou a atenção para expressiva mudança da percepção da população dos Estados Unidos em relação às perspectivas da trajetória universitária.

Recentes pesquisas de opinião pública mostram que os sentimentos dos americanos no que diz respeito ao ensino superior não andam muito bem. Isso contrasta com o cenário vivido na Europa. Por lá, vários países estão aumentando consideravelmente a taxa de jovens adultos com diplomas universitários.

Existem diversos fatores que ajudam explicar tal cenário. Um deles está ligado ao potencial prêmio salarial que completar essa etapa de formação pode conferir vis-à-vis outros caminhos possíveis. Esse prêmio pode ser medido pela diferença entre os salários médios daqueles com ensino superior em relação àqueles que não têm diploma universitário.

No entanto, o retorno gerado pela formação universitária é influenciado por forças que vão além dos muros das instituições de ensino.

Sala de aula da Escola Politécnica (Poli) da USP vazia
Sala de aula da Escola Politécnica (Poli) da USP - Danilo Verpa - 26.set.2023/Folhapress

As universidades podem ajudar na oferta de mão de obra mais qualificada; contudo, a demanda no mercado de trabalho representa outro vetor que afetará não somente os salários, mas ditará a magnitude em que a oferta será absorvida. Essa demanda pode ser impactada, por exemplo, por ambiente institucional, políticas públicas e crescimento econômico de cada região e país.

Nesse contexto, olhar somente o retorno gerado pelo ensino superior deixa a conta incompleta. Quando se leva em consideração todos os custos envolvidos, os retornos financeiros de cursar uma faculdade podem não ser muito claros.

Esse é o caso dos Estados Unidos, lugar em que a educação universitária não costuma ser barata. Isso ajuda a explicar a razão pela qual para muitos americanos o ensino superior não é mais considerado um investimento de primeira linha como foi no passado recente.

No Brasil, também não é raro ver alguém contestando o valor da universidade. Apesar do prêmio salarial de cursar determinados cursos e universidades ser relativamente elevado no país, os relatos de casos de motoristas da Uber com diploma universitário, algo recorrentemente explorado pela mídia, pode desestimular milhares de continuar estudando e tende a deixar o debate sobre os retornos educacionais em uma zona cinzenta.

Nesse debate, muita ênfase costuma ser dada ao diploma universitário como se fosse uma credencial automática para maiores retornos no mercado de trabalho. Porém, no meio dessa discussão, é comum esquecer que diversas universidades estão em uma luta inglória para corrigir as falhas de aprendizagem oriundas de um ensino básico deficiente.

Pouco se discute também o fato de que as universidades de maior prestígio e as instituições de ensino privadas dos ricos não são somente lugares de aprendizado, mas também espaços nos quais se pode ter acesso a uma seleta rede de contatos que impactará os retornos futuros. Como bem destaca o texto do The New York Times, em muitas ocupações de elite, o preço da admissão agora é um diploma de elite.

Além disso, várias universidades, tanto públicas quanto privadas, ofertam cursos com pouca demanda do mercado de trabalho. No caso daquelas de menor prestígio, tem-se que muitas são de péssima qualidade. Em diversas situações, o retorno social dessas instituições é duvidoso. Muitos daqueles que não nasceram em berço de ouro estão realizando consideráveis esforços para obter um diploma dessas universidades para, em seguida, descobrirem que ele não servirá para quase nada.

O texto é uma homenagem à música "Jovens", composta e interpretada pela banda Onda Vaga.

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