Michele Oliveira

Jornalista, já trabalhou nas áreas de esporte, política, cidades e design

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Descrição de chapéu Copa do Mundo

Sérvia? Já estou sofrendo nas oitavas

Qualquer resultado ruim a partir de hoje será um grande drama nacional

São Paulo

O Brasil joga nesta quarta (27) contra a Sérvia, mas quem é que ainda está pensando nisso? Meus olhos estão desde sábado (23) na Alemanha, nosso possível adversário nas oitavas de final. Balanço a cabeça em negação toda vez que lembro que esse reencontro pode acontecer daqui a poucos dias.

Fico imaginando qual a razão de tanto sofrimento antecipado. Medo de perder? Pode ser, mas a derrota será menos dolorida se for para o México? Duvido. Qualquer resultado ruim a partir de hoje será um grande drama nacional. Poderemos ter um novo 7 a 1? Difícil. A conjunção astrológica é outra, o Mineirão está bem longe da Rússia e o Júlio César virou convidado da Ana Maria Braga. A Terra girou, o mundo mudou e agora tem até o VAR nos prometendo justiça. Parece improvável outra goleada com essa dimensão.

Começo a escalar a equipe e o assombro volta. Estavam na seleção de 2014 Neymar, Marcelo, Paulinho, Willian, Fernandinho e Thiago Silva. O zagueiro, coitado, nem jogou a semifinal e, mesmo assim, toda vez que vejo sua sofrida expressão facial na TV lembro imediatamente daquela tarde. Ele exala uma vibe 7 a 1 tanto quanto o Fuleco.

Esforço-me para olhar o lado bom, listar os prós. Os alemães são os primeiros do ranking da Fifa, mas estamos em segundo. Eles são tetra, mas somos penta. E também tivemos nossas vingancinhas. Ou não valeu nada o Brasil ter ganhado o ouro sobre a Alemanha na final da Olimpíada do Rio?

E o 1 a 0 no amistoso de março? Fico confiante: o Tite tem jeitão de CEO, o Philippe Coutinho é bem concentrado e o time está embalando. Podemos, sim, ganhar. Mas uma vitória será suficiente para deixarmos de falar no 7 a 1 como fazemos quase todo dia desde aquele 8 de julho? Eu mesma tinha como meta evitar o assunto neste espaço e as palavras que o acompanham --humilhação, trauma, vergonha--, porque a impressão é que tudo já foi dito. Mas não penso em outra coisa.

Desconfio que o medo, no fundo, é este: que nada, nem uma consistente vitória em cima da Alemanha ou nem mesmo o hexa, possa tirar esse amargor que já virou rotina. Uma sensação que tem tudo para aumentar quando formos obrigados a trocar as mesas-redondas pelos debates entre candidatos. Ou quando vier à tona tudo o que o Temer anda fazendo nos palácios de Brasília enquanto estamos todos em frente à TV. Pode ser que um dia a gente saia do 7 a 1, mas o 7 a 1 parece que nunca vai sair da gente.

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