É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.
Em busca de equilíbrio
Confessar as nossas invejas é sempre muito difícil, como constatei quando perguntei aos meus pesquisados: "O que você mais inveja em um homem?" "E em uma mulher?".
Mas eu confesso: eu invejo os ataráxicos.
Ataraxia é um termo grego para descrever um estado lúcido e tranquilo, caracterizado pelo equilíbrio emocional, pela tranquilidade da alma e pela ausência de preocupação, de inquietude e de ansiedade.
O meu tipo ideal de ataraxia é uma pessoa serena, madura, confiante, que não se deixa seduzir pela vaidade ou pelo poder, não se preocupa com a opinião dos outros, não sente culpa ao dizer não, não sofre para provar o próprio valor, não se ressente por não ter o reconhecimento que merece, não se faz de vítima e não se paralisa pelo medo.
Não é explosiva, intensa, tensa e ansiosa. Não é eufórica ou deprimida, não briga, não explode, não grita, não se desespera, não se irrita, não se vinga, não tem pressa. E, o que é mais invejável, não sofre de insônia.
Ela não se afeta, para o bem ou para o mal, com o que os outros pensam ou fazem. Não se abala com críticas violentas ou elogios exagerados. Tem sempre o foco na própria vontade e reconhece seus erros sem grandes dramas. Não se desvia do caminho que traçou para si, mesmo quando os outros tentam destruí-la. Ela consegue deletar da sua vida todas as pessoas negativas, destrutivas e invejosas. Não fica deprimida com algum comentário desagradável ou com uma mensagem agressiva. Ela simplesmente não se afeta, é imperturbável.
Aprendi com os ataráxicos que a indiferença pode ser o melhor remédio contra a agressividade, a grosseria e a ignorância. E que rir de si mesmo é um antídoto para muitas inseguranças e preocupações desnecessárias.
Como resultado de um enorme sofrimento relacionado a um momento tão dramático do Brasil, estou tentando não me afetar tão profundamente com a grave crise política, econômica e ética e, também, não ter tanto medo das agressões gratuitas e das violências cotidianas. Devo confessar, no entanto, que é impossível não sofrer com o drama social que temos testemunhado diariamente e com o sofrimento de tantos brasileiros. Minha angústia, meu medo e minhas noites de insônia só têm aumentado. O que fazer?
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