Uma matéria da Folha —"Cresce o número de idosos que cuidam de idosos doentes"— de alguns anos atrás revelou que quase 40% das pessoas que cuidam de idosos doentes em São Paulo são também idosos. Em geral, os cuidadores idosos são mulheres e têm mais de 70 anos. 

"A gente chega na sala de geriatria e não sabe quem é o paciente e quem é o cuidador. O cuidador idoso tem uma carga de estresse grande e doenças por conta do desgaste da função. Eles vão deixando de ser o que são, descuidam da própria saúde e se tornam o único responsável pela vida do outro", disse uma assistente social para a Folha. É comum que o cuidador morra antes do idoso cuidado.

A expectativa de que os filhos cuidem dos pais na velhice é frustrada em muitos casos. Na minha pesquisa, fiquei surpresa ao constatar que muitas mulheres e homens de mais de 90 anos cuidam dos filhos já idosos. 

Em alguns casos que pesquisei, os idosos perderam seus filhos em razão de câncer, ataque cardíaco e outras doenças. Em outros, os filhos moram com os pais idosos, não para cuidar dos pais, mas para serem cuidados por eles. Quase todos os idosos que pesquisei ajudam financeiramente os filhos e netos. 

Uma das minhas pesquisadas, de 97 anos, muito lúcida, ativa e independente, disse que quer viver até os cem anos para cuidar do filho de 72 anos que teve um AVC. Ela gasta todo o dinheiro da sua pensão com os filhos e netos. 

Outro pesquisado, de 91 anos, cuida do filho de 65 anos que tem câncer e da filha de 67 que é alcoólatra. Uma pesquisada de 94 anos cuida da irmã com alzheimer.

Hoje já se diferencia os idosos (mais de 60 anos) dos muito idosos (mais de 80 anos). É importante alertar que muitos homens e mulheres mais velhos não são cuidados por ninguém e, pior ainda, são os principais responsáveis pelo cuidado de outros idosos.

A pergunta que não quer calar: quem vai cuidar dos idosos que cuidam dos seus idosos?