A minha coluna de maior sucesso na Folha em 2019 foi “O sexo das mulheres mais velhas”, com quase 600 mil visualizações. Para minha surpresa, mesmo na pandemia, ela continua com acesso de muitos leitores todos os dias.
Inspirada pelo interesse dos meus leitores, no dia 1º de março de 2020 terminei de escrever um livro sobre amor, sexo e traição com o resultado da minha pesquisa com 5.000 homens e mulheres, analisando os discursos, comportamentos e valores dos que têm mais de 60 anos. O livro seria lançado no Dia dos Namorados, 12 de junho.
Por que não enviei até hoje o livro para a editora?
Porque não sei se, após a pandemia, alguém terá interesse em ler um livro sobre a vida sexual dos mais velhos.
Afinal, como será a vida amorosa e sexual dos sobreviventes desta calamidade? Será que tudo o que pesquisei nos últimos trinta anos fará algum sentido? Essas questões ainda serão importantes para os brasileiros?
Nas minhas pesquisas muitos reclamam que não sentem mais tesão, que não conseguem atingir o orgasmo com o parceiro, que têm medo de falar sobre o que gostam na cama, que têm vergonha do próprio corpo. Afirmam que falta vontade, tempo, energia e disposição para o sexo, já que se sentem exaustos, estressados, deprimidos e angustiados com problemas pessoais, familiares e profissionais e, mais do que nunca, com a situação do país e do mundo.
A falta de tesão neste momento traumático é evidente no universo dos homens e mulheres que tenho pesquisado. Muitos se questionam: “Quando isso vai passar? Quando o tesão vai voltar?”
Outros têm uma dúvida ainda mais inquietante: “Será que o tesão vai voltar?”
Não tenho a menor ideia e, exatamente por isso, talvez meu novo livro nunca seja publicado. Mas, se for, provavelmente pouca gente terá interesse em ler sobre a vida sexual dos idosos. Ou será que esta falta de tesão também vai passar?
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