Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu casamento

Será que teremos uma explosão sexual pós pandemia?

Quando a nossa vida amorosa e sexual voltará ao normal?

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Muitos leitores e leitoras me perguntam: "Será que a nossa vida amorosa e sexual irá voltar ao normal?"

Não sei como responder à pergunta já que não creio que exista "vida normal", especialmente no amor e sexo. Até escrevi um livro intitulado "De perto, ninguém é normal".

Com o objetivo de compreender a tão desejada "normalidade", realizei uma enquete no LinkedIn que foi respondida por 279 pessoas de 10 a 24 de janeiro de 2022: "Durante a pandemia, sua vida amorosa e sexual: melhorou, piorou, ficou igual ou não tenho?"

Sem tentar generalizar as respostas, até porque o grupo que participou pertence a uma elite educacional e econômica, achei interessante o resultado: para 34% a vida amorosa e sexual piorou; para 28% ficou igual; para 25% melhorou; e para 13% a vida amorosa e sexual não existe.

Jane Fonda em cena da série "Grace e Frankie"
Jane Fonda em cena da série "Grace e Frankie" - Reprodução

Foram apontados como inimigos do tesão: preocupação e ansiedade excessiva, estresse, convivência intensa e conflituosa, excesso de intimidade, brigas, críticas, cobranças, reclamações, implicâncias, irritações, rotina, tédio, insegurança, incerteza, desemprego, desesperança, falta de dinheiro, falta de reconhecimento e reciprocidade, falta de escuta e romance, violência, ignorância, intolerância, pânico, desespero, angústia, exaustão, depressão entre outros.

Os 28% que responderam que ficou igual revelaram que a pandemia não afetou suas vidas amorosas e sexuais. Mas como uma tragédia tão cruel, que provocou tantas mortes, doenças, perdas e sofrimentos, pode não ter impactado o tesão?

Os 13% que não têm vida amorosa e sexual não explicaram as causas da ausência de relacionamento, mas, obviamente, a pandemia dificultou novos encontros, impossibilitou as "escapadinhas", o sexo casual, as aventuras e relações extraconjugais. Não deve ter sido nada fácil arranjar uma boa desculpa para se encontrar com a (ou o) amante no meio da pandemia, não é mesmo?


Por fim, 25% afirmaram que melhorou porque estão com mais tempo e disponibilidade para se dedicar ao prazer do parceiro e ao próprio prazer, com mais momentos de namoro, intimidade e romance.

Alguns raros casais me contaram que o amor e o sexo estão melhor do que antes. Para outros, o amor e o sexo pioraram bastante. Nesses casos, o relacionamento já estava em crise e a pandemia só intensificou o que era insatisfatório. Nenhum casal me disse que a vida sexual melhorou apesar da amorosa ter piorado.

Uma jornalista de 45 anos me contou que a vida amorosa melhorou com a pandemia, apesar de a vida sexual estar "devagar quase parando". A intimidade aumentou, assim como o companheirismo, a cumplicidade e a amizade, mas "o tesão foi para a cucuia". Para ela, a reciprocidade, o reconhecimento e o amor são muito mais importantes do que o sexo, especialmente em um momento tão trágico.

"No primeiro mês da pandemia foi uma verdadeira lua de mel. Curtimos cada momento de intimidade e transamos todos os dias. Meu marido até me deu de presente de aniversário um vibrador maravilhoso. Mas fui ficando deprimida e perdendo completamente o tesão. Cuido dos meus pais, dos filhos, marido, amigas e não tenho tempo para cuidar de mim. Com tanto pânico, desespero e exaustão, como vou conseguir ter tesão? Nem com o George Clooney e com o vibrador mais caro do mundo. Não é à toa que o número de divórcios e de separações cresceu muito na pandemia. E vai crescer ainda mais quando a pandemia terminar".

Ela disse que o marido é mais otimista:

"Ele leu estudos que mostram que cresceu o número dos adeptos de sexo virtual e de sites pornográficos e que aumentou muito a compra de vibradores e de outros brinquedinhos sexuais. Leu também pesquisas que revelam que, depois das epidemias e das guerras, acontecem verdadeiras explosões de sexo, festas e prazer. Ele acredita que, quando essa tragédia acabar, vamos ter uma explosão do tesão, uma overdose de sexo. Assim, iremos recuperar o tempo perdido e compensar a miséria sexual dos últimos dois anos. Mas quando será que esse pesadelo vai ter um fim?".

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