Tive a sorte de encontrar Irene, minha melhor amiga, aos 16 anos, quando saí da minha casa em Santos e fui morar sozinha em São Paulo. Foi o turning point da minha vida: consegui ter a coragem de fugir de um inferno familiar e começar a construir uma vida mais livre e feliz.

A vocação da Irene sempre foi cuidar da família, amigos e seres frágeis e desamparados (como eu), além dos cachorros e gatos resgatados da rua.

A sua filosofia de vida é muito simples e prática. Irene não tem medo de nada, pois acredita que tudo o que acontece já está escrito e, portanto, que não temos controle sobre o nosso destino.

Para lidar com a perversidade dos outros, ela se faz de "boba" e finge que não percebe a maldade, nunca revida nem entra na mesma vibe. Não se preocupa com roupas, cabelos, maquiagem, não compete, não sente inveja, não briga, não xinga, não sente ódio e raiva de ninguém.

Irene vive a vida do seu jeitinho, sem se afetar com as opiniões e julgamentos dos outros.

Todas as segundas-feiras, eu ligo para Irene (ela mora em São Paulo e eu no Rio de Janeiro). Em média, nossas conversas duram três horas e, todas as vezes que desligamos o telefone, eu me sinto uma mulher mais corajosa e plena.

No dia do seu aniversário, 17 de fevereiro, postei o seguinte texto no meu Instagram.

"Meio século de amizade: Irene, minha melhor amiga, faz 71 anos hoje. Irene continua a mesma mulher generosa e alegre que eu conheci quando ela tinha 21 anos. Ela sempre diz que o nosso amor e amizade vem de outras vidas. Sem Irene, eu não teria sobrevivido e me transformado na Mirian que eu sou hoje. Você tem a sorte de ter uma Irene na sua vida? Se sim, ligue agora para ela e diga simplesmente: ‘Eu te amo, muito obrigada por ser minha amiga’".

Tenho quase 68 mil seguidoras no meu Instagram, mulheres inteligentes e amigas que sempre comentam os meus textões diários. Fiquei impressionada com a quantidade de comentários que recebi de mulheres que querem muito ter uma Irene em suas vidas, mulheres que se sentem muito sozinhas e que perderam suas melhores amigas.

Tive então uma ideia: vou criar o "Tinder das Amigas".

E se, como naqueles anúncios em que as pessoas buscam encontrar um relacionamento, eu construísse um lugar acolhedor para encontrar novas amigas? Em vez de "Você quer namorar comigo?", um lugar para perguntar: "Você quer ser minha amiga?".

Seria só escrever um anúncio do tipo: "Eu sou uma amiga... Procuro uma amiga..."

Sabe o tal do "match" dos aplicativos de relacionamentos, quando duas pessoas se curtem e começam um relacionamento?

Dar "match", no "Tinder das Amigas", seria começar uma amizade.

Pensei em como seria o meu próprio anúncio:

"Eu sou uma amiga que ama escrever e escutar histórias de superação. Não julgo nem patrulho as escolhas das minhas amigas e consigo enxergar os aprendizados positivos em todas as situações, mesmo nas mais difíceis. Procuro uma amiga que me ensine a me divertir mais, me faça dar risadas das minhas vergonhas e me ajude a encontrar os caminhos de libertação para as mulheres e fazer a Revolução da Bela Velhice. Você quer ser minha amiga?".

Postei um texto no Instagram, no dia 24 de fevereiro, contando a minha ideia de criar o "Tinder das Amigas". Recebi milhares de comentários de apoio à minha ideia e centenas de mulheres já ficaram amigas, combinaram encontros presenciais, passeios e viagens.

Como sempre termino meus textões no Instagram com "Tamojuntas?", até pensei em dar outro nome para o meu movimento: "Juntamigas!" Mas meu "Tinder das Amigas" bombou tanto, e já está dando tantos "matchs", que acho melhor deixar assim mesmo.

Vocês acham que é possível construir um espaço de amizade, conexão, escuta, apoio, amor, reciprocidade, reconhecimento e acolhimento para quem está se sentindo só?

Hoje, Dia Internacional da Mulher, 8 de março, às 19 horas, irei conversar sobre a minha ideia de criar o "Tinder das Amigas" e sobre o meu novo livro: "A arte de gozar: amor sexo e tesão na maturidade". Será on-line no meu Instagram @miriangoldenberg e no YouTube @universofestival

Tamojuntosamizade?