O maestro Dante Manovani, que foi reconduzido nesta terça (5) para a presidência da Fundação Nacional de Arte (Funarte), disse esperar que, agora, a secretária especial da Cultura, Regina Duarte, o receba para conversar.
"Espero que agora ela me receba. Vamos rezar para que me receba", diz ele.
Mantovani foi demitido por Regina do mesmo cargo, em março, por ter associado o rock ao aborto, ao satanismo e às drogas em um vídeo. E agora volta ao posto por ordem do presidente Jair Bolsonaro, que, assim, desautoriza a atriz.
"Eu nunca consegui falar com a Regina", diz Mantovani. "E tentei, tentei, tentei. Durante mais de um mês, procurei ela, pedi um encontro para explicar que minhas falas [sobre rock] foram descontextualizadas. E nada. Fui impedido de entrar no Palácio do Planalto na posse dela e exonerado no mesmo dia", diz o maestro.
Ele afirma que foi sondado na semana passada para voltar ao cargo por um assessor do Palácio do Planalto. E que não sabe se Regina Duarte, sua futura chefe, foi ao menos avisada.
"De minha parte, vou tratá-la com todo o respeito que ela merece", afirma Mantovani.
"Eu mesmo só soube hoje de manhã [que seria reconduzido à Funarte]", diz o maestro. "Quem me convidou [para voltar ao cargo] não foi exatamente o presidente Bolsonaro. Alguém deve ter falado com ele. Na semana passada, recebi o telefonema de um assessor do Palácio [do Planalto]. E, hoje, recebo a notícia de que fui nomeado", afirma.
Mantovani diz que foi injustiçado no episódio do rock. "Eu fui tratado como louco, retardado, ideológico. Sou um técnico. A arte é técnica. Ninguém aprende a tocar um violino com ideologia", diz ele.
No vídeo divulgado antes de sua primeira posse na Funarte, ele diz que o "rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto; e a indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo".
Afirmou ainda que soviéticos se infiltraram na CIA (departamento de inteligência dos EUA) para distribuir drogas no festival de Woodstock, em 1969.
"Naquela fala [do vídeo], eu estava dando aula e expunha para os meus alunos o pensamento de outros autores, de três livros diferentes. Não é o que eu penso. Eu fazia uma reflexão histórica sobre o que outros autores falavam", diz ele.
"Eu comecei a minha vida profissional tocando em uma banda de rock", diz. "O gênero surgiu na classe média, era bem aceito pela sociedade tradicional americana. Elvis Presley era um de seus ícones, aceito pelas famílias", diz Mantovani.
"Uma década depois tentaram usar o gênero com outros objetivos. Precisavam reunir pessoas em um local [Woodstock] para distribuir drogas. Ninguém nega que ali começou o ciclo das drogas", afirma ele.
"Não é um problema do gênero musical, não é um problema do rock, e sim do uso que se tentou fazer dele", segue. "É a mesma coisa que ocorre com o hip hop e o funk, que são usados muitas vezes, por exemplo, para falar mal da polícia", diz.
Mantovani afirma que pretende retomar os projetos que já tinha preparado para a Funarte. "Um deles é justamente um edital para apoiar bandas de rock", afirma.
"Eu apresentei um trabalho consistente quando estive lá [na Funarte]", afirma. "Vou retomar um programa nacional de apoio à ópera. Fiquei boquiaberto quando descobri que nunca foi feito algo parecido", diz.
"Tínhamos conseguido R$ 38 milhões para investir em arte. Vamos seguir os projetos", segue.
Mantovani é graduado em música. É também especialista em Folosofia Política de Jurídica e mestre em Linguística. Em 2013, defendeu doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina.
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