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Roberto Alvim diz que discurso nazista foi 'engano terrível' que 'quase me custou a vida'

Ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro foi exonerado após publicação de vídeo com referência a Goebbels

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São Paulo

O ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro Roberto Alvim afirma que seu discurso com referências nazistas que o levou a ser exonerado do cargo em janeiro de 2020 foi um "engano terrível" que "quase me custou a vida".

"Meu maior erro, sem nenhuma dúvida, foi esse maldito discurso. Obviamente não sou nazista e sempre nutri repugnância radical por essa ideologia totalitária e assassina", afirma Alvim em mensagem enviada à coluna na tarde desta sexta (8).

​O dramaturgo está preparando um livro, que deve ser lançado em março.

Montagem Goebbels e Roberto Alvim
Joseph Goebbels (esq.) e Roberto Alvim (dir.) - Reprodução

No dia 17 de janeiro de 2020, Alvim publicou vídeo oficial em que dizia que a cultura brasileira deveria ser "heroica, nacional e imperativa", "ou então não será nada". A forte semelhança com um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Alemanha Nazista, resultou na exoneração do dramaturgo.

"Reitero que ignorava a origem nefasta da frase, e que se soubesse, jamais a teria pronunciado. A frase em si não tinha nenhuma conotação nazista, por isso não percebi nada de errado", diz Alvim.

"De qualquer forma, mesmo ignorando, ter deixado aquilo passar no meu discurso foi um engano terrível —que, repito, quase me custou a vida. Pedi e peço novamente perdão por isso a todos que feri e decepcionei, incluindo o Presidente Jair Bolsonaro e, sobretudo, a comunidade judaica, pela qual nutro respeito e amor incondicionais", escreve Alvim.

Leia a íntegra da mensagem de Alvim enviada à coluna:

"Não vou culpar nenhuma pessoa pelo que ocorreu. Como líder, a responsabilidade final era minha. E eu a assumi plenamente, o que me custou muito caro... Tenho um código de conduta de jamais apontar o dedo publicamente para qualquer membro de uma equipe que eu esteja liderando, tanto no teatro quanto no governo, e permanecerei agindo assim.

Não tenho medo de afirmar que cometi poucos erros em minha vida. Artisticamente, nenhum. Assino embaixo de todas as minhas mais de 100 peças teatrais, escritas e encenadas no Brasil e em outros países. No âmbito pessoal, errei com minha esposa e com meu filho, por negligenciá-los em um certo período turbulento...

Mas meu maior erro, sem nenhuma dúvida, foi esse maldito discurso. Obviamente não sou nazista e sempre nutri repugnância radical por essa ideologia totalitária e assassina. Atestando o que afirmo, cito minhas repetidas menções em entrevistas acerca da grandeza de nossa herança judaico-cristã; ter composto minha equipe com pessoas como André Sturm, meu Secretário do Audiovisual, e Mauricio Waissman, coordenador dos Pontos de Cultura, diretamente nomeados por mim; e o fato de que, duas semanas antes do ocorrido, eu havia lançado uma mensagem de fim de ano na qual meu filho estava ao meu lado vestindo uma camiseta com a bandeira de Israel, dada a ele por mim.

Reitero que ignorava a origem nefasta da frase, e que se soubesse, jamais a teria pronunciado. A frase em si não tinha nenhuma conotação nazista, por isso não percebi nada de errado. De qualquer forma, mesmo ignorando, ter deixado aquilo passar no meu discurso foi um engano terrível que, repito, quase me custou a vida. Pedi e peço novamente perdão por isso a todos que feri e decepcionei, incluindo o presidente Jair Bolsonaro e, sobretudo, a comunidade judaica, pela qual nutro respeito e amor incondicionais.

Agora é chegada a hora de seguir em frente. Estou vivo e não posso deixar que toda a minha existência fique reduzida a esse episódio degradante.

Fui diretor de teatro e dramaturgo por 30 anos, formei toda uma geração de autores, diretores e atores em minhas aulas por 20 anos, no Brasil e na Europa, sempre me pautando pela dignificação da arte e da condição humana.

Sei quem eu sou.
E vou seguir trabalhando.
Ainda não terminei"

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