Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Pandemia é pandemia, porra!, diz a apresentadora Fernanda Lima

Gaúcha conta que o pai morto pela Covid-19 chamava a doença de gripezinha

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A vida secreta do casal Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert anda com mais amor e menos sexo. “A gente é do tipo que depois que consegue botar os filhos para dormir, dorme. O Rodrigo é o primeiro. Às vezes ele vai antes da Maria [risos]”, conta a apresentadora —eles são pais de Maria Manoela, de um ano e meio, e dos gêmeos Francisco e João, 12.

“Falta tempo para o casal, de fato”, diz a gaúcha de 43 anos sobre a rotina de trabalhar e criar três filhos. “Isso é chato pra caramba, porque você sente falta de ter a pessoa só para você e poder se divertir, com a porta aberta, botar um som, brincar de diferentes formas. Mas precisa se reinventar e achar graça. Não pode ser um peso, senão leva ao divórcio.”

Os dois estão juntos desde 2006. “Às vezes falo: ‘Temos que dar mais beijos, faz tempo que não nos beijamos!’ É algo que sempre tem que lembrar que existe, porque a vida vai te levando a um distanciamento. Não queremos perder o que nos fez ficar juntos.”

O terceiro filho fez com que a divisão de tarefas do casal fosse equivalente. “Foi uma decisão que tivemos juntos. Não sei se eu teria tido [o terceiro] filho. Mas o Rodrigo pediu muito, então cobrei ele desde o início. ‘Tu quer esse filho, mas tu vai ter que estar comigo minuto a minuto’.”

“Ele é muito compreensivo no sentido de entender que carga mental é um negócio difícil pra cacete que fica muito em cima da gente. A mulher tem a tendência de pegar tudo, né? De achar que só ela sabe fazer. Eu também tinha isso. Aos poucos, fui entendendo que não deve ser assim. Tem que levar ao dentista? Ele leva! Levo na próxima.”

Mas uma coisa é fato: “Sua vida sexual nunca mais vai ser a mesma [depois que os filhos chegam]. Pode ir tirando o seu cavalinho da chuva [risos].”

Fernanda e Rodrigo estreiam na quinta (15) o programa “Bem Juntinhos”, no GNT. A atração tem 15 episódios gravados há dois meses e nos quais a dupla recebe convidados como Claudia Raia e Dani Calabresa para conversar sobre temas como educação, sexo e relacionamento.

A ideia de fazer um programa juntos surgiu em meio ao isolamento social. “A gente estava sentindo muita falta de ver pessoas, de poder trocar ideias sobre o que estamos vivendo, sobre utopias”, diz ela. “Estamos muito carentes de afeto. Essa é uma das partes que mais pega [na pandemia], tirando, óbvio, todo o luto.”

Fernanda Lima com os filhos, os gêmeos João e Francisco, e o pai, Cleomar
Fernanda Lima com os filhos, os gêmeos João e Francisco, e o pai, Cleomar - @fernandalima no Instagram

Fernanda perdeu o pai para a Covid-19 em julho do ano passado. A morte dele não foi completamente assimilada por ela. “Ainda pego o meu WhatsApp para escrever para ele”, conta. “Ao mesmo tempo em que vivo isso [tristeza], tenho um pouco de indignação, de fúria. Me sinto mal de não ter conseguido convencê-lo de que a coisa era séria”, diz.

“Ele negou [o perigo do coronavírus], sabe? Falou: ‘Isso não é nada, é uma gripezinha mesmo’”, lembra a gaúcha. Cleomar Lima morreu aos 84 anos depois de 120 dias internado por complicações do novo coronavírus. “O meu pai ia estar vivendo a época mais feliz da vida dele, vendo a minha filha.”

Fernanda e Rodrigo adotaram o isolamento social desde março do ano passado, quando se mudaram com os filhos para um sítio em Teresópolis (RJ). “Óbvio. Pandemia é pandemia, porra! [risos] Por que a gente vai pensar o contrário disso? Porque um cara irresponsável vai na televisão e fala que isso não é nada? O que esse cara sabe?”, diz. “Pandemia? Isola!”

Atualmente, eles vivem em uma casa em São Paulo. Foi de lá que a apresentadora conversou com a coluna, por chamada de vídeo, na terça-feira (6).

O isolamento social tem fortalecido o elo da família. “Eu pergunto todo dia para os meus filhos: ‘Como vocês estão se sentindo?”, conta ela.

“A gente já tinha uma vida meio quarentenada, porque eu e o Rodrigo somos bastante caseiros. Eu pago para ficar em casa [risos]”, brinca a apresentadora. “Acho que as crianças, por viverem essa vida como a gente, também acabam apreciando bastante isso. Então não são meninos que estão sentindo tanto [o isolamento], porque felizmente somos privilegiados, vivemos em uma casa, temos gramado. Tenho o privilégio de poder estar em casa. Não há o que reclamar. Seria muito injusto.”

A apresentadora Fernanda Lima
A apresentadora Fernanda Lima - Tato Belline

A apresentadora vê mais dificuldade na criação de meninos. “Com a quantidade de informação que é bombardeada numa menina hoje, sobre relações feministas e de igualdade, vejo elas muito sagazes e muito preparadas, com um discurso muito pronto”, avalia.

“Os meninos ainda estão absorvendo uma masculinidade super tóxica que é muito presente nas coisas mais sutis, mesmo vindo de nós, da família. Às vezes a gente se atrapalha e ainda reproduz discursos bem machistas.”

“Falamos tanto [sobre feminismo em casa] que o meu filho, para qualquer coisa que a gente fala, diz: ‘Isso é masculinidade tóxica, mamãe’”, conta ela, rindo. “Daí eu falo: ‘Olha, isso o que você falou não tem nada de machismo, mas aquilo que você falou antes, sim’. Estou sempre conversando”.

Recentemente, um dos seus filhos perguntou a ela o que é “sugar daddy” —fetiche de homens que sentem prazer em sustentar financeiramente jovens mulheres em troca de afeto e sexo. “Ele: ‘A minha colega falou que queria muito um sugar daddy. Ela queria que alguém pagasse umas bolsas”, lembra Fernanda.

“‘Falei: ‘Filho, isso é uma coisa complexa, não imaginei que você já tivesse ouvido falar’. Expliquei. A gente acha que eles não sabem de nada e de repente lançam uma que você cai completamente torta na hora errada e não pode fugir do assunto.”

Segundo ela, a experiência de ter apresentado o programa “Amor & Sexo”, na TV Globo, foi útil para falar de sexo com os filhos. “Me ajudou muito a criar vocabulário.”

Ela diz ter pulado a fase da cegonha para explicar de onde vem os bebês. “Foi sempre muito natural, sem tentar esconder nada deles, mas também tentando respeitar a fase”, lembra. “Sempre começo pelo ciclo menstrual. Acho interessante aquela coisa de que é como se a mulher criasse dentro dela um ninho para receber o esperma que formaria o embrião, e que quando isso não acontece desce aquele sangue. Até para eles não ficarem com aquela coisa de ‘Ai que nojo’. Não tem nada de nojo, a natureza é assim.”

“Mas na época eu não falei sobre penetração”, diz ela —detalhes só apresentados recentemente. Ela se diverte ao lembrar de outro episódio: “Eles me falaram: ‘Sexo é pra fazer filho, né?’ Aí eu: ‘Também!’ [risos] Mas o sexo também é por prazer. Agora, é uma coisa feita por adultos. E com consentimento! Tudo bem explicadinho [risos].”

“O bonito disso é que você vê uma criança crescendo sem grilos, sem véus cor de rosa que escondem as coisas. E fica tudo tão mais fácil, sem tabu nem neurose. Falo para eles: tudo o que vocês quiserem saber, sobre qualquer assunto, podem me perguntar. Não tenham vergonha. Eu também já quis saber. E eles me perguntam loucuras. Tento não me chocar.”

Fernanda completa 30 anos de carreira desde que iniciou na vida profissional como modelo —profissão que não desejava seguir. “Eu queria sair de Porto Alegre, viajar, falar outras línguas”, lembra.

“A história de modelo pintou porque eu tinha uma vizinha que era muito linda, uma Barbie, que queria ser modelo. Ela me pediu para ir com ela se inscrever num concurso. Eu fui e [a organização] me convenceu a me inscrever”, conta. “Eu me achava feia, sabe? Horrorosa, pra falar a verdade. Claro, era o olhar que eu tinha de mim, como todo adolescente que não se valoriza e não se gosta. Eu também era assim.”

A apresentadora é crítica do governo de Jair Bolsonaro, contra quem se manifestou em 2018 apoiando o movimento #EleNão. Ela, porém, diz nunca ter gostado “dessa coisa de ser polêmica”. “Sempre achei isso um exagero, como se você ter uma opinião sobre algo é ser polêmico”, afirma.

“E ali depois do #EleNão eu senti uma bruta diferença em relação a público, de as pessoas te aceitarem ou de repente não te quererem mais.”

“Uma das vantagens da idade é aprender que não importa o que pensem de você [risos]. Sou bastante coerente com as minhas ideias, e cada vez fica mais difícil de aceitar determinadas coisa. Então hoje em dia tudo é mais pensado no sentido de que eu não quero ir contra as coisas que acredito, mas relaxado no sentido de que vão falar mal, e é isso aí.”

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