Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

'Se machuca, não é mais piada', diz humorista Rafael Portugal

Comediante celebra sucesso de quadro no BBB, diz que o politicamente correto ajuda o humor e que prepara projeto musical

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rafael Portugal

O humorista Rafael Portugal comanda o programa CAT BBB dentro do reality da Globo Fábio Rocha/Globo

Quem acompanha o trabalho do comediante Rafael Portugal não imagina que o humor não era a sua primeira opção dentro da profissão de ator. “Sempre fui muito dramático, queria fazer as pessoas chorarem, fazer peças bem pesadas”, diz.

Só que a vontade de seguir pelo caminho do drama não deu muito certo. “O meu perfil não ajudava”, diz, entre risos. “Tudo o que aparecia de texto ficava engraçado comigo. Às vezes, eu nem queria que ficasse tanto, mas ficava por causa dos meus trejeitos, das coisas que eu fazia.”

Hoje com 36 anos, Portugal começou no teatro com 15. Nascido no bairro do Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, ele integra o coletivo Porta dos Fundos, participa do programa “A Culpa É do Cabral”, no canal Comedy Central, e comanda o quadro de humor CAT BBB (Central de Atendimento ao Telespectador) do reality da TV Globo pelo segundo ano seguido.

Nele, o comediante diverte os telespectadores do Big Brother Brasil ao atender ligações, ouvir pedidos e, claro, fazer piadas dos participantes e do jogo. O quadro, que vai ao ar às terças-feiras, se tornou queridinho do público. Portugal diz que os diretores do programa lhe dão “uma liberdade muito grande” e credita o sucesso do CAT à união de diversos fatores, entre eles a sintonia que tem com a equipe de roteiristas e o elenco das edições. O BBB 21 termina na próxima terça-feira (4).​

Ele conta que é muito crítico e que prefere não assistir aos seus trabalhos. “Me cobro bastante. Mas, ultimamente, tenho gostado de olhar à minha volta e ver as pessoas dando risada do que estou fazendo, me deixa menos neurótico. A psicanálise tem me ajudado muito nisso”, segue.

Apesar de rasgar elogios ao reality show, Portugal diz que não se inscreveria para participar do BBB. “Não tenho estrutura, sou muito caseiro. Quando faço qualquer viagem de trabalho sinto muita saudade da minha família”, diz. Ele mora em uma casa em Campo Grande, no Rio, com a mulher Vanelli, 39, com quem é casado desde 2012, suas duas enteadas, Maria Eduarda, de 16, e Marcela, de 13, dois cachorros e dois gatos.

O comediante diz que se surpreende com a visibilidade que o CAT BBB lhe deu —semanalmente seu nome vai parar nos assuntos mais comentados no Twitter. Ele diz que conta com uma pessoa para auxiliá-lo com suas redes sociais: são mais de 5,7 milhões de seguidores no Instagram e 2,8 milhões no Twitter.

“Consegui alcançar uma parte bem querida nisso tudo. Me sinto muito privilegiado em ser um cara que não é cancelado na internet”, completa.

“Nós estamos sujeitos a errar. E acredito que o cancelamento às vezes toma uma proporção muito grande, que pode fazer um mal que não precisa, sabe? Ele deve existir, obviamente. As pessoas devem mudar e entender que estão erradas. Mas também é preciso ter uma segunda chance.”

“Meu medo não é ser cancelado, mas sim ferir e machucar alguém com uma piada”, segue. “Existe um monte de piada para ser feita sem precisar entrar num assunto que vai machucar. E se machuca, acabou. Não é mais piada”, continua.

Ele acredita que o chamado “politicamente correto” ajuda o humor —e não o contrário. “Caramba, o Mussum era maravilhoso, Os Trapalhões eram maravilhosos, eu amo. Mas tinha algumas coisas que o Mussum ria e que alguns amigos meus negros não achavam graça e lhes fazia mal”, diz.

“Foi um momento, ok. Agora vamos viver esse outro aqui. Eles fizeram uma geração inteira muito feliz. Mas que pena que fizeram algumas pessoas sofrerem e a gente não percebeu. Se a gente está percebendo isso agora, vamos fazer de outro jeito?”

Antes da epidemia da Covid-19, diz que estava fazendo shows de comédia semanalmente com público de 450 pessoas em cada um deles. “Estava super bombado. Já tinha vendido ingressos para apresentações em junho e julho. E aí, veio essa dor no coração, saber que as pessoas envolvidas naquele trabalho não teriam mais esse dinheiro.”

Ele diz que tem ajudado muitas pessoas com doações em dinheiro, cestas básicas e “tudo o que você pode imaginar”. E se emociona ao contar da batalha do humorista Paulo Gustavo, que está internado com coronavírus em estado grave. “Todos os dias eu peço a Deus que ele saia dessa situação”, segue. Diz que já ouviu algumas vezes o último áudio que recebeu do amigo, em que ele dava detalhes de um projeto que realizariam no futuro.

Portugal diz que o humor, em meio à epidemia, também serve como uma forma de cura para as pessoas. “Estamos levando um pouco de conforto, de cura. É muita notícia ruim o tempo todo e todo mundo preso dentro de casa. Me sinto privilegiado por fazer parte de uma classe que tem sido o remédio dentro dessa loucura.”

Ele afirma que admira o trabalho de colegas que fazem críticas sociais e políticas em seus trabalhos, mas diz que não é o seu estilo. “Acho incrível que o Fábio [Porchat], o [Marcelo] Adnet podem estar fazendo isso, é o momento deles. O meu é poder tirar as pessoas dessa discussão política em família nos grupos de WhatsApp. E não me sinto menos importante por isso”, segue.

Ele acredita que o humor é político “quando se pode e se quer fazer”. “Quero que nas minhas redes a pessoa de esquerda e a de direita, que são diferentes no que pensam, possam ser iguais na hora de rir e de se divertir. E esquecer um pouco essa loucura que estamos vivendo”.

“Faço minha parte como cidadão na hora de votar e na hora de explicar para as minhas filhas. Mas sinto que hoje meu trabalho é levar entretenimento às pessoas. E faço diferentes tipos de humor”, segue.

Ele participa do Porta dos Fundos desde 2015. “É um sonho que eu vivo todos os dias, que me acrescenta como ser humano e no meu caráter. Entrei morrendo de medo, porque todos ali são ídolos.”

E critica tentativas de censura. Em 2020, por exemplo, a Justiça determinou a retirada do ar do episódio de Natal do Porta dos Fundos veiculado pela Netflix, atendendo a ações de líderes religiosos. O trabalho retratava um Jesus gay e um Deus mentiroso.

“Se eu assisto uma coisa de que não gostei, é só mudar de canal e ponto. Nossa intenção é fazer a pessoa rir. Graças a Deus temos a liberdade de assistir, ouvir e ler o que a gente quiser. Agora, me impedir de falar? Cuidado, isso é perigosíssimo.”

Portugal se empolga ao contar sobre seu projeto musical, o RP Feat, em que convida artistas para interpretarem músicas de sua autoria. Ao longo deste ano, pretende lançar singles nas plataformas digitais —sempre acompanhados de vídeos em seu canal no YouTube.

Até agora, lançou dois: “Te Dar a Flor” e “Dona da Pista”. Diz que já teve conversas com nomes como Tierry e Wesley Safadão e que sonda ex-participantes do BBB para parcerias.

Ele afirma que não precisa de muito dinheiro para ser feliz. Já trabalhou vendendo jornal, pastel e caldo de cana na rua, em supermercado, como auxiliar de escritório e lojista —conseguiu quitar uma dívida de R$ 400 mil com trabalhos em campanhas assim que entrou no Porta dos Fundos. E diz que o que lhe dá alegria é poder partilhar experiências com familiares e amigos de infância.

Sobre o futuro, diz que muitas coisas estão previstas para acontecer, mas que ainda não pode entrar em detalhes —inclusive sobre uma “proposta linda que veio lá da Europa”. E o CAT BBB, voltará em 2022? “Ainda não tem conversa sobre isso. Torço que sim, porque as pessoas amam demais. Acontecendo, vamos ficar muito felizes. Se não, valeu o tempo dele, foi incrível. Pra mim é só gratidão.”

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.