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Shantal faz corpo de delito e diz à polícia que Kalil sugeriu abortivo contraindicado a ela para induzir parto

Influenciadora acusa Renato Kalil de violência obstétrica e afirma que o médico insistiu para ela usar medicação de risco para quem fez cesárea anteriormente, como era seu caso

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A influenciadora Shantal Verdelho passou por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), na terça (21), para averiguar se o procedimento realizado pelo obstetra Renato Kalil durante o parto de sua filha, em setembro, acarretou lesão corporal na vagina.

Shantal acusa o médico, considerado referência na obstetrícia brasileira e famoso por fazer partos de celebridades, de violência obstétrica.

A perícia irá apurar se as manobras que o obstetra fez durante o parto, consideradas inadequadas, provocaram lesão vaginal na influenciadora.

O médico obstetra Renato Kalil - Reprodução/Todo Seu no YouTube

Kalil está sendo investigado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP) após virem à tona áudios e o trecho de um vídeo gravado pelo marido de Shantal, Mateus Verdelho, mostrando o médico gritando e falando palavrões na hora do parto da influenciadora ocorrido em setembro, no Hospital São Luiz. Em uma das mensagens ele diz que Shantal ficou "arregaçada", porque não quis fazer uma episiotomia —procedimento em que o períneo da mulher é cortado.

MANOBRA PERIGOSA

Shantal, que não tem se pronunciado, decidiu formalizar a acusação contra Kalil e prestou depoimento à polícia na sexta (17), em SP, para relatar os episódios de violência obstétrica que diz ter sofrido.

A influenciadora diz que o médico praticou em seu parto a chamada manobra de Kristeller, prática que consiste em pressionar a barriga da gestante para empurrar o bebê. O mecanismo, contraindicado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, pode comprometer a saúde da mãe e do bebê.

Shantal e o marido, Mateus Verdelho, no momento do nascimento da filha, Domenica, em setembro; ela acusa o médico Renato Kalil de violência obstétrica - Instagram/shantal

MEDICAÇÃO

No depoimento ao qual a coluna teve acesso, Shantal também acusa o ginecologista de insistir para que ela fizesse uso do medicamento Misoprostol para induzir o parto quando ela estava com 40 semanas de gestação. "A informação dele era que a indicação do remédio era para dilatar o útero, o que ia ajudar a aceleração do trabalho de parto", diz o depoimento.

A OMS (Organização Mundial de Saúde), o American College of Obstetricians and Gynecologists, dos EUA, e Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, do Reino Unido, não recomendam qualquer sugestão de indução de parto antes da 41ª semana de gestação, se a mulher não apresentar nenhuma condição médica para isso .

MEDICAÇÃO 2

O Misoprostol tem controle especial e só pode ser administrado em ambiente hospitalar, segundo determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

O medicamento conta com recomendação da OMS para seu uso como um indutor do trabalho de parto, se não houver nenhuma contraindicação.

Seu uso é contraindicado para mulheres que já tenham feito cesárea, caso de Shantal. Isso porque um ensaio clínico feito com o medicamento foi interrompido após a ruptura uterina em algumas pacientes que tiveram parto cirúrgico anteriormente, por isso a contraindicação para mulheres que fizeram cesariana.

Por provocar contrações uterinas, ele é também um abortivo e pode ser usado em casos de interrupção de gravidez autorizados pela Justiça. Sua comercialização é proibida.

MEDICAÇÃO 3

Shantal afirmou à delegada que não aceitou fazer uso da droga após pesquisar a literatura médica e consultar outra obstetra e também sua fisioterapeuta pélvica. Ambas teriam dito que a influenciadora poderia correr risco de "rompimento uterino, o que provocaria uma hemorragia e poderia levar a óbito", já que ela havia feito uma cesárea anteriormente. As duas profissionais serão ouvidas pela polícia ainda nesta semana.

AUTORIZAÇÃO NECESSÁRIA

A administração de misoprostol em qualquer hospital segue normas. O medicamento só pode ser prescrito por médicos e administrado com consentimento da paciente. No São Luiz, onde o parto de Shantal foi realizado, apenas médicos que sejam cadastrados e façam parte do corpo clínico do hospital têm autorização para prescrevê-lo.

SIGILO

Procurado, o advogado de Shantal, Sergei Cobra Arbex, diz que o processo corre sob sigilo e que não poderia comentar o conteúdo do depoimento. "Esperamos que tudo seja investigado e que a justiça seja feita", afirma.

Mateus Verdelho segura a filha, Domenica, ao lado do ginecologista Renato Kalil - Instagram/shantal

OUTRO LADO

Kalil nega as acusações. Ele afirma que o parto de Shantal ocorreu sem "qualquer intercorrência" e que o vídeo foi editado, com frases retiradas de contexto.

Sobre as acusações feitas por Shantal em depoimento à polícia, o advogado de Kalil, Celso Vilardi, diz, em nota, que as condutas do médico são "pautadas pelas boas práticas" e seguem integralmente os protocolos técnicos vigentes. E que "por respeito ao obrigatório sigilo profissional e por não ter tido acesso ao inquérito" não poderá responder aos questionamentos da coluna.

"Dr. Kalil aguarda com tranquilidade o avanço das investigações, quando poderá ser ouvido e comprovar a lisura dos procedimentos adotados", diz.

NOVAS DENÚNCIAS

O vazamento e a repercussão do caso de Shantal levaram outras mulheres a se pronunciarem sobre episódios inadequados, machistas ou de assédio moral que teriam sido protagonizados por Kalil. Os hospitais paulistanos São Luiz e Albert Einstein e o Ministério Público de São Paulo informaram que estão investigando as denúncias contra o renomado médico.

Shantal também acusa o médico de ter revelado, por meio de suas redes sociais, o sexo de sua filha sem o seu consentimento.

A jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente do jornal The Wall Street Journal no Brasil, disse ao jornal O Globo ter passado por episódios traumáticos de assédio moral no consultório de Kalil.

Segundo Pearson, após o parto de seu primeiro filho, ela ouviu o médico dizer a seu marido que não se preocupasse porque havia "feito um ponto ali", referindo-se à vagina da paciente.

Ao "Fantástico", da Globo, uma outra mulher acusou o médico de assédio sexual no ano de 1991.

CONDECORAÇÃO

O advogado Alberto Zacharias Toron recebeu a comenda Santo Ivo oferecida pela Federação Nacional dos Institutos de Advogados, na sede da entidade, em SP. A presidente do conselho do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Flávia Rahal, o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e Renato Silveira, presidente do Instituto de Advogados de São Paulo, participaram da cerimônia.

com LÍGIA MESQUITA, VICTORIA AZEVEDO, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

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