Um áudio de Shantal Verdelho para uma ex-paciente de Renato Kalil, dizendo que a delegada que investiga as denúncias de abuso e violência obstétrica contra o médico "tá com a gente", tem circulado em grupos de WhatsApp de outras mulheres que tiveram a gestação acompanhada por ele.
Algumas pessoas que receberam o áudio questionam a declaração de Shantal sobre a delegada, pois ela dá margem à interpretação de que a investigação estaria sendo conduzida de maneira parcial contra o médico. Em casos policiais e de Justiça em que se comprova qualquer tipo de parcialidade por parte de quem está à frente deles, esse profissional precisa ser afastado.
Uma das mensagens que circulam diz que Shantal estaria "angariando ex-pacientes para se juntar a ela no tal inquérito, com um discurso de 'vamos cuidar umas das outras', [falando] inclusive pro advogado dela acompanhar essas mulheres à delegacia".
O áudio em que Shantal afirma que a delegada "tá com a gente" foi enviado em uma troca de mensagens privadas, à qual a coluna teve acesso, entre ela e outra ex-paciente do médico. Essa mulher a procurou, via Instagram, para saber como denunciá-lo por violência obstétrica e pedindo o contato do advogado da influenciadora. Nas mensagens, a interlocutora diz, entre outras coisas, que o médico também teria proferido insultos a ela e a chamado de "mimada, patricinha e chiliquenta" em consultas.
"O inquérito policial contra o Kalil está andando superbem e já tem mais de 15 pessoas ouvidas, de todos os perfis, médicos, vítimas, vítimas pacientes, funcionários de casa, enfim. E, quanto mais pessoas derem depoimento na delegacia, maior o caso vai ficar e mais fácil de parar ele, né, e combater toda essa violência", diz Shantal na mensagem de voz.
E prossegue: "O que a gente [que denunciou] fala muito entre a gente é que uma está defendendo a outra, a gente não está fechando os olhos e deixar que uma se vire sozinha. Todo mundo está junto nessa. Vamos se [sic] proteger e fazer o que é certo".
Depois, a influenciadora pergunta se a mulher que a procurou toparia ir à delegacia fazer a denúncia. "Meu advogado pode te acompanhar, pode falar com você no telefone antes pra te explicar como está o andamento disso, como estão os depoimentos. A delegada é superacolhedora, tá com a gente. Se você me permitir, eu passo seu telefone para o meu advogado. Antes mesmo de você decidir se quer ir lá ou não ele pode te explicar tudo para você ficar tranquila e ver como todas as vítimas estão indo lá falar", diz.
Advogado de Kalil, Celso Vilardi afirma estar "perplexo com as declarações atribuídas à sra. Shantal, ainda mais com o fato de que há relatos no sentido de que pessoas estão sendo 'angariadas', o que deverá ser apurado. De toda forma, confio no trabalho da delegada e na Polícia Civil, e lamento que a autoridade tenha sido exposta de forma leviana".
Procurado pela coluna para comentar a declaração de Shantal, o advogado da influenciadora, Sergei Cobra Arbex, afirma que "a delegada está do lado da lei e está fazendo um trabalho isento e primoroso". E segue: "Já são mais de 18 depoimentos colhidos no inquérito policial que confirmam a prática de violência obstétrica e sexual por parte do médico. É sobre isso que ele tem que se defender e se manifestar".
A coluna também procurou a delegada responsável pelo caso, mas a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que ela não pode se pronunciar porque o inquérito está sob segredo de Justiça.
Sobre a afirmação de que Shantal estaria "angariando" pessoas para denunciar Kalil, o advogado Cobra Arbex diz que é a influenciadora quem está sendo contatada por outras mulheres.
Isabela Del Monde, advogada colaboradora do MeToo Brasil, diz que não haveria nenhuma ilegalidade caso Shantal tivesse procurado outras mulheres para se juntarem à denúncia contra Kalil.
"A junção de vítimas é uma prática legítima e que costuma trazer mais força aos processos, porque tem uma comprovação de que há um comportamento em série [do agressor]. Foi esse tipo de prática que revelou outros homens agressores no Brasil e fora do país", afirma Del Monde. "O equivocado seria se Shantal estivesse criando versões e pedindo para que essas mulheres replicassem de forma mentirosa."
DENÚNCIA DE SHANTAL
Shantal foi a primeira mulher a acusar Kalil, considerado referência na obstetrícia brasileira e famoso por fazer partos de celebridades, de violência obstétrica durante o parto de Domenica, sua filha com Mateus Verdelho, em setembro, em SP.
A denúncia foi feita após áudios privados da influenciadora sobre o médico terem se tornado públicos.
"Ele [Kalil] me xinga o trabalho de parto inteiro. Ele fala 'p*rra, faz força, filha da mãe, viadinha, ela não faz força direito'. [...] Tem vídeo dele me rasgando com a mão, era só para eu ficar arrebentada e falar 'ah, você tinha razão, eu deveria ter feito a episiotomia'."
A episiotomia é um procedimento cirúrgico feito no períneo para facilitar o parto, pois aumenta a abertura vaginal para a saída do bebê.
Em outra mensagem, a influenciadora diz: "Ele chamou meu marido e falou: 'Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela'. Ele falava de um jeito como 'olha aí, onde você faz sexo, tá tudo f*dido'".
Trechos do vídeo do parto feitos por Mateus Verdelho, em que o médico aparece proferindo xingamentos a ela, foram divulgados posteriormente. À polícia Verdelho explicou por que não reagiu aos xingamentos de Kalil na hora do parto da filha.
Shantal também afirma que Kalil receitou a ela o medicamento Misoprostol para induzir o parto. Ele é contraindicado para pacientes que já tenham feito cesárea, caso da influenciadora.
Kalil, que está sendo investigado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), nega as acusações. Ele afirma que o parto de Shantal ocorreu sem "qualquer intercorrência" e que o vídeo foi editado, com frases retiradas de contexto.
PALCO
O empresário Pedro Herz foi assistir à atriz Clarice Niskier em "A Alma Imoral". A peça escrita por Nilton Bonder teve sessão para convidados como a atriz Gabriela Duarte e o ex-tenista Fernando Meligeni e sua mulher, a atriz Carol Hubner, na terça (1º), no Teatro Morumbi Shopping, em SP
JOELMIR TAVARES (interino), com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH
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