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Duda Beat diz que se preparou 'a vida toda' para o Rock in Rio e que quer cantar na posse de Lula

Rainha da sofrência pop se prepara para estrear como uma das atrações principais no festival

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A cantora Duda Beat posa na varanda da galeria Pivô, no edifício Copan, localizado no centro de São Paulo Karime Xavier/Folhapress

Duda Beat chegou de mansinho no Rock in Rio. Escalada como atração surpresa em um diminuto palco alternativo, a recifense viu dezenas de pessoas correrem em sua direção quando reverberaram as primeiras batidas de seu repertório. Era outubro de 2019. Ao final da apresentação, disse a si mesma que, quando retornasse ao festival, performaria como artista principal. Passados três anos, o desejo de Duda foi atendido —na próxima quinta (8), será sobre ela que recairão as luzes do palco Sunset.

"Meio clichê falar isso, mas é uma coisa para a qual você se prepara a vida toda", afirma ela sobre a experiência que se aproxima. "Foi foda. Sonho realizado mesmo", diz, relembrando o momento em que recebeu o convite, no final de 2021.

Às vésperas de uma das apresentações mais importantes de sua carreira até aqui, a rotina da cantora de 34 anos tem se dividido entre ensaios diários com seu balé e a burocracia da montagem de um novo apartamento em São Paulo —ela hoje vive na ponte aérea entre a capital paulista e o Rio. Com compromissos empilhados em sua agenda, ela tem pressa, mas caminha com calma sobre um salto agulha rosa cintilante pelas ruelas no entorno do edifício Copan, no centro da cidade paulistana. É lá onde recebe a coluna.

A cantora Duda Beat posa na varanda da galeria Pivô, no edifício Copan, localizado no centro de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

A cantora não dá muitas pistas sobre o que planeja para o Rio de Janeiro. Diz que o número de integrantes da banda e de dançarinos sobre o palco será maior que o habitual, e que quer todos muito atentos às cenas que serão exibidas no telão. "Não [quero] inventar tanta moda, principalmente musicalmente. Acho que é muito maravilhoso subir num palco tão importante e se sentir confortável."

Já na coreografia, Duda deve arriscar alguns passos além. Para a empreitada, recrutou o coreógrafo Flavio Verne, que assina trabalhos com nomes como Pabllo Vittar e Luísa Sonza. "Flavio entendeu muito o que eu queria. Entendeu o meu som, respeitou a minha essência na dança."

Que som é esse? "Tem música que é um trap com um pagodão baiano, que é um maracatu com coco. É o que eu gosto de ouvir. E é o resumo exato de Eduarda Bittencourt. Não falo nem em Duda Beat. Duda Beat vem depois", explica. "Acho que é por isso que meu som é pop. Ele conversa com vários outros estilos. Todo mundo acaba se identificando com essa mistura toda, nem que seja uma faixa. Ser uma voz da minha geração é uma coisa maravilhosa."

O nome de batismo citado por ela precede em muito o artístico. A alcunha Duda Beat só tomou forma no ano de 2018, quando a então estudante de ciência política estava prestes a se formar e decidiu alterar a rota de sua vida lançando seu primeiro álbum, "Sinto Muito".

A cantora Duda Beat na varanda da galeria Pivô, no edifício Copan, localizado no centro de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Antes disso, Eduarda passou sete anos matriculada no cursinho pré-vestibular tentando entrar em um curso de medicina. Não conseguiu. "Depois que passou essa loucura que eu encasquetei de que queria ser médica, fui ver um negócio de sangue. Menina, eu passei mal. Fiquei branca, me segurando nas coisas. Minha mãe [perguntou]: ‘Ô, menina, como é que tu queria ser médica?’", conta, rindo. Após tantas tentativas frustradas, ela trocou as ciências biológicas pelas humanas, e o Recife, sua terra natal, pelo Rio de Janeiro.

A música como possibilidade de realização profissional surgiu depois de conhecer um retiro de meditação e passar dez dias em silêncio. "Eu tinha uma vontade muito grande de ser protagonista de novo da minha vida, que estava há muito tempo voltada para outras pessoas. E isso eu só descobri no silêncio. Eu me ouvi", diz.

Desde então, Duda se consolidou como "rainha da sofrência pop", transitando entre o pop, o brega e tantos outros ritmos. Suas letras trazem versos para todos os estados de espírito, como "Me olhei no espelho/ Estou gostosa e cansada", "Só mais uma vez não vai fazer diferença" e "Cheguei e tava tocando nosso som/ Grave bateu e doeu meu coração".

Não que amor, superação e desilusões sejam seus únicos temas. No single "Meu Primeiro Amor", composto por Lucas Santtana e cantada por ele em parceria com Duda, a preferência pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é explícita. "Nasci menino longe da cidade/ No semiárido lá do sertão/ Não tinha água tampouco comida/ Até que Lula veio e deu a mão", diz a canção.

No início deste ano, a cantora integrou o corpo de artistas que regravou o jingle "Lula Lá", originalmente usado na campanha do petista de 1989. "Isso já mostra muito do que eu penso e o meu voto, que não é secreto, nesse caso [risos]. Somos seres políticos, a gente faz política o tempo todo."

"E quero cantar nessa posse", diz, rindo. "Acredito muito que ele é um bom candidato para a gente no momento. E, por favor, quem está lendo esse jornal, leia os programas de governo dos candidatos", continua. "Ali diz o que o cara vai fazer nos próximos anos. Isso é importante demais antes de decidir seu voto."

Duda conversa com a coluna desde a sacada da galeria Pivô, no Copan, e é acompanhada por seu stylist, Leandro Porto, pela assistente Maria Antônia Valadares e por sua maquiadora, Camila de Alexandre, que também faz as vezes de melhor amiga e backing vocal.

A cantora Duda Beat posa na varanda da Galeria Pivô, no edifício Copan, localizado no centro de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Com seu salto rosa cintilante e um conjunto monocromático formado por uma saia midi com pregas, camisa e jaqueta jeans, ela está envolta, do pescoço aos pés, por peças da grife de luxo Miu Miu. A marca só não se faz presente em seu cabelo descolorido, que, preso por alguns grampos, é escovado de tempos em tempos por sua maquiadora enquanto ela dá entrevista e é fotografada.

A paixão da recifense pela moda se estende também à sua composição familiar: suas duas gatas, que vivem com ela e seu marido, Tomás, na casa que mantêm no Rio, se chamam Miu Miu e Chanel. "E eu estou louca para pegar a terceira", diz ela, que já tem um nome em mente. "Vivienne. Ela precisa existir", segue, citando estilista Vivienne Westwood.

É em casa, a propósito, onde Duda busca a calmaria em meio a uma rotina agitada. "Toda vez que vou para casa, tento puxar minha rotina de volta, ir ao mercado, essas pequenas coisas. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é arrumar o meu armário. Eu amo. Amo!"

A cantora Duda Beat posa na varanda da Galeria Pivô, no edifício Copan, localizado no centro de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

"O que mais me dá prazer é estar ali com as minhas gatas, botar a música que eu gosto e arrumar o meu armário. Às vezes, eu tomo até um vinhozinho, é bom demais [risos]. Acho que nesses momentos eu consigo meditar e falar: ‘Caraca, hoje esse dia é meu.’"

Após uma extensa turnê pela Europa neste ano, Duda já planeja seu terceiro álbum de estúdio —mas não quer falar dele. "Estou tentando aproveitar o momento que estou vivendo, ficar mais no presente. É uma coisa que eu tinha esquecido um pouco. Até a reta final de divulgar esse meu segundo disco ["Te Amo Lá Fora"], quero aproveitar o agora."

Respeitar o próprio tempo é uma ideia que a cantora diz tentar levar para o seu processo. Em tempos em que músicas se destacam depois de viralizar no TikTok, Duda diz sentir falta do ócio criativo, embora reconheça que a plataforma tenha revelado muitos talentos recentemente.

"Tento não me pressionar com essa história de TikTok, de lançamento a toda hora. Quero olhar para trás e ver que as minhas músicas envelheceram bem. Isso, para mim, é uma meta. Se virar um hit, virou. Massa. Se não virar, também está tudo bem. A gente tem que se realizar, e não entregar só por entregar."

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