Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

Júlia Zanatta evoca caso Isa Penna e se diz revitimizada após relator inocentar deputado do PC do B

OUTRO LADO: Márcio Jerry nega as acusações e diz ser alvo de notícia falsa; caso dividiu oposição e base governista quando ocorreu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) diz ter recebido como uma "péssima surpresa" o relatório lido no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados em favor do deputado Márcio Jerry (PC do B-MA), acusado por ela por importunação sexual.

O episódio denunciado ocorreu em abril deste ano, durante sessão com o ministro da Justiça, Flávio Dino, na Comissão de Segurança e Justiça da Câmara. Um vídeo mostra Jerry se aproximando de Zanatta e falando ao pé de seu ouvido, o que é apontado por ela como assédio. O deputado sempre negou.

A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) e o deputado Márcio Jerry (PC do B-MA) - @juliazanattasc no Instagram

Na quarta-feira (2), em sessão no Conselho de Ética, o relator Ricardo Maia (MDB-BA) votou contra a continuidade do processo. "Infiro que, apesar de autoria e materialidade dos fatos declinados na representação estarem demonstradas por imagens capturadas no evento, a conduta descrita não configura afronta ao decoro parlamentar", afirmou o deputado.

Um pedido de vista foi feito após a leitura do parecer, e caberá aos parlamentares do colegiado votar a favor ou contra o relatório em uma próxima sessão.

À coluna, Zanatta afirma que a confirmação do arquivamento poderá representar um retrocesso para todas as mulheres que, assim como ela, ocupam um assento na Câmara dos Deputados. "O Parlamento, o ambiente de trabalho —o meu, o teu, de qualquer pessoa— não é balada. E mesmo se fosse balada, não pode fazer isso [se aproximar por trás] se você não der permissão", diz.

"Se isso aí virar em pizza, está dado o recado de que não tem que respeitar as mulheres. Não adianta aprovar o protocolo 'Não é Não', aprovar a própria modificação do código eleitoral. Não adianta. Porque a imagem que a gente vai passar é de que a gente aprova leis, mas aqui, quando acontece, é outra coisa", segue.

A deputada bolsonarista ainda afirma que teve sua imagem e honra violadas e que se vê mais desprotegida por ser uma deputada alinhada à direita do espectro político. "Fui automaticamente excluída do feminismo por não pensar dentro de uma caixa ideológica que elas consideram um ideal. Por algumas feministas, sempre fui muito atacada", diz.

Zanatta lembra o caso da ex-deputada Isa Penna, que, na sua opinião, recebeu mais solidariedade por ser de esquerda —inclusive, por parte de Jerry. Em sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo, Penna foi apalpada pelo ex-deputado Fernando Cury, que cumpriu suspensão de 180 dias e se tornou réu.

"Esse mesmo deputado [Jerry], no caso lá de São Paulo, da Isa Penna, rapidamente ele fez o seu post bonitinho nas redes sociais dizendo que era assédio", afirma.

"Se ele tivesse honradez, teria iniciado a defesa dele [perante o Conselho de Ética] dizendo que viu a imagem [do episódio denunciado] e que é errado. Mas não. Ele está sempre acusando a vítima [Zanatta], sempre se fazendo de vítima. Sendo que a esquerda sempre fala que não pode vitimizar ainda mais a vítima."

O caso de Zanatta dividiu opiniões quando ocorreu. Parlamentares de oposição falaram em leniência dos governistas com um comportamento machista. Já os deputados de esquerda disseram que o colega do PC do B foi vítima de uma distorção.

Os congressistas que defendem Jerry apontam que Júlia Zanatta compartilhou apenas um recorte do vídeo, e que isso pode levar a outras interpretações.

Ao falar sobre o caso na época, o deputado do PC do B disse que interveio durante uma discussão acalorada entre Júlia Zanatta e a deputada Lídice da Mata (PSB-BA). A versão foi mantida por ele em fala no Conselho de Ética.

"Eu me aproximei dela [Zanatta] respeitosamente. É muito natural nesse ambiente parlamentar você falar um pouco mais próximo. Falei um pouco mais próximo dela e pronunciei a seguinte frase: 'É uma deputada [Lídice] com 40 anos de atuação nesta Casa'."

Jerry ainda afirmou que foi alvo de ameaças e notícias falsas após a repercussão do caso. "Planta-se uma fake news e, na onda dessa divulgação, uma horda vai atrás dessa fake news para atacar a vítima, que no caso sou eu. Eu sou vítima de fake news", disse, na ocasião.

"Recebi muitas ameaças e aos meus familiares, especialmente, às familiares mulheres", acrescentou.


TELONA

A atriz Isis Valverde interpreta Ângela Diniz no filme 'Angela'
A atriz Isis Valverde interpreta Ângela Diniz no filme 'Angela' - Aline Arruda/Divulgação

A atriz Isis Valverde posa caracterizada como Ângela Diniz no filme "Angela", que estreia nos cinemas no dia 31 de agosto. Com direção de Hugo Prata, o longa aborda os últimos meses de vida da socialite que foi morta a tiros em 1976 pelo namorado, Doca Street. Em um primeiro julgamento, em 1979, ele saiu do tribunal ovacionado por fãs. Foi só em 1981, que um novo júri acabou por condená-lo. Declarado culpado, recebeu pena de 15 anos de prisão.

"Espero que com o filme mais e mais pessoas abram os olhos para essa questão do feminicídio e para a importância de entendermos a mulher sempre como alguém independente, dona de si, e não um objeto de alguém", diz a atriz.

com BIANKA VIEIRA (interina), KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.