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Advogado pede exclusão de judeus da diretoria do IAB; entidade abre processo administrativo

Em nota aos associados, instituto disse repudiar 'veementemente os impropérios ditos'

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O advogado Hariberto de Miranda Jordão Filho provocou comoção na comunidade israelita do Rio de Janeiro ao pedir, em sessão ordinária do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), na quarta (20), a expulsão de todos os judeus da presidência das comissões e da diretoria da entidade.

Em sua manifestação, que durou cerca de 15 minutos, ele disse que o instituto deve "adotar o mesmo princípio" dos franceses, que teriam fixado a norma de não ter judeus na diretoria nem na presidência do Barreau de Paris (entidade que tem papel semelhante ao realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil ) após a Segunda Guerra Mundial. Isso porque, segundo ele, alguns advogados judeus teriam cooperado com os nazistas.

O advogado Hariberto de Miranda Jordão Filho discursa em sessão do IAB
O advogado Hariberto de Miranda Jordão Filho discursa em sessão do IAB - Reprodução

"Ante o fato concreto aqui devemos adotar o mesmo princípio evitando futuras imundices de judeus sionistas ou não", afirmou o advogado. Hariberto se refere ao fato de ter sido denunciado à OAB pela Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) "de forma vil, covarde e desleal" por uma manifestação que fez dentro do IAB, no ano passado. Ele disse ser vítima de uma "clara e indevida perseguição política, ideológica, religiosa, cultural e até mesmo profissional".

Em seu discurso, o advogado também criticou a entidade por não ter se manifestado contra as ações israelenses na Faixa de Gaza.

"É uma vergonha e agressão para o Instituto, há mais de 180 anos defensor da liberdade democrática, o silêncio da Comissão de Direitos Humanos diante do holocausto e limpeza étnica praticada pelas tropas israelenses sionistas contra os indefesos palestinos. O presidente [da comissão, Carlos Schlesinger] é judeu e deve ser removido de imediato."

Em outro momento, afirmou que a Fierj deveria ser fechada por ser "antidemocrática" e só reunir "fascistas, evangélicos e bolsonaristas, que nada tem a ver com o IAB".

Disse ainda que dentro do instituto existem "verdadeiras quintas colunas de covardes judeus sionistas, que repetem as ações realizadas no passado por adoradores de Hitler na Alemanha nazista".

O IAB abriu um procedimento administrativo disciplinar contra Hariberto. Em nota aos associados, o presidente da entidade, Sydney Limeira Sanches, disse repudiar veementemente "os impropérios ditos" na sessão e se solidarizar com todos os judeus e aqueles ofendidos em suas crenças.

Segundo apurado pela coluna, membros do instituto também avaliam entrar com ações criminais e de danos morais contra o advogado.

As falas geraram reação já no momento em que foram proferidas. Uma das advogadas presentes na sessão disse que Hariberto colocava no mesmo saco o governo de Israel e os judeus e que ele não poderia "falar qualquer besteira" só por ter mais de 80 anos. "A minha grande questão é: o próximo passo é obrigar a mim e aos demais judeus do instituto a usar a estrela amarela no braço. É isso?", questionou ela.

"O antissemitismo até onde eu saiba é crime. E o que eu ouvi aqui hoje é exatamente isso, uma explanação antissemita", seguiu.

A manifestação de Hariberto foi feita como uma reação a uma ação ético-disciplinar que a Fierj ingressou contra o advogado na OAB do Rio de Janeiro.

Segundo membros da IAB ouvidos pela coluna, essa representação teria sido feita por outras falas antissemitas que Hariberto teria dito.

Em seu discurso, o advogado afirmou que esse processo deveria ter sido apresentado no próprio instituto, e não na OAB, já que não teria nada a ver com a sua atuação profissional como advogado.

"O fato é inédito, pois é a primeira vez em 180 anos do Instituto dos Advogados Brasileiros, que um associado decano da instituição, da qual tenho muito orgulho de participar por mais de meio século, é indevidamente denunciado à Ordem dos Advogados do Brasil, por também fatos passados no seio do próprio Instituto dos Advogados, que também é agredido em decorrência de manifestação sem qualquer relação com o exercício da profissão por associado judeu sionista e sem caráter do próprio Instituto", disse.

Para Hariberto, a entidade deve identificar o judeu associado (ou mais de um) que entregou à Fierj a gravação do que ele disse e expulsá-lo. "Vossa Excelência não pode fugir das exposições estatutárias e deve demitir, desde logo, todos os judeus presidentes das comissões e da diretoria que envergonham o Instituto, sionistas ou não, porque religiosos", afirmou o advogado, durante a sessão, ao presidente do IAB.

Ele disse também que os que o perseguem "têm aversão às liberdades democráticas" e não respeitam "os direitos dos seres humanos de viver em paz, sem expropriar a terra e a casa de ninguém".

Hariberto pediu ainda, nominalmente, a remoção dos diretores judeus Paulo Maltz e Arnon Velmovitsky do IAB.

Em outro trecho, o advogado afirmou que "seus detratores" não sabem lições de geografia e história. Ele citou, então, o que alguns povos deixaram para a humanidade, como os egípcios que construíram as pirâmides, os gregos, a democracia, os romanos, o direito romano, e os islâmicos "belas cidades" como Granada. "Os judeus deixaram só a crucificação de Jesus Cristo. Porque nem o muro das lamentações é dele, construído por Herodes pai e filho, ambos não judeus", afirmou.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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