Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu LGBTQIA+

Mais da metade dos roteiristas do Brasil afirma escutar comentários homofóbicos no trabalho, diz pesquisa

Levantamento apresenta depoimentos anônimos de profissionais que dizem ter sido vítimas de diferentes tipos de assédio e violência no mercado audiovisual

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Uma pesquisa inédita realizada pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra) mostra que mais da metade (67%) dos profissionais do setor afirma escutar expressões consideradas discriminatórias contra pessoas LGBTQIA+ em seu ambiente de trabalho.

O levantamento levou em conta comentários que são considerados formas de falar preconceituosas, mas que não foram especialmente direcionados a alguém. Desse total, 16% dizem que sempre ouvem esse tipo de fala, 23% revelam que isso acontece frequentemente e 28%, algumas vezes.

O percentual dos que dizem que nunca ou só raramente escutam essas expressões preconceituosas é de 16% e 17%, respectivamente.

Mão pontando um controle para uma televisão
Plataformas de streaming disponibilizam séries e filmes para assinantes - Unsplash

O levantamento foi feito com 89 profissionais do setor —associados ou não à entidade— que responderam a um questionário online em 2022 e no início deste ano. O objetivo é que essas informações possam ser utilizadas como base para campanhas de conscientização no mercado audiovisual. Esse é o primeiro mapeamento sobre o tema realizado pela entidade.

A pesquisa não cita o tipo de local de trabalho dos respondentes. Roteiristas costumam estar presentes em diferentes ambientes profissionais, virtuais ou presenciais, como salas de roteiro, reuniões nas produtoras, emissoras ou plataformas de streaming e até mesmo conversas ou trocas de mensagens pelo WhatsApp.

Na pesquisa, 66% dos participantes disseram também que presenciaram a criação de personagens ou narrativas que consideram desrespeitosas a pessoas LGBTQIA+. Desse total, 15% afirmaram que isso ocorre sempre, outros 21% disseram que acontece frequentemente, e 30%, algumas vezes.

Outros 11% responderam que nunca viram isso ocorrer, e 23%, raramente.

A roteirista Ana Durães, que fez parte do comitê de diversidade da Abra responsável pela pesquisa, afirma que o levantamento derruba a noção de que não existiria homofobia na indústria audiovisual. "Ela mostra que existe discriminação, inclusive, em ambientes que aparentam ser mais progressistas", diz.

A pesquisa também traçou um perfil dos roteiristas participantes. A maioria informou ser homossexual (54%, sendo 37,1% gays, e 16,9%, lésbicas). Bissexuais representam 23,6% dos que responderam ao questionário, pansexuais 10,1%, e heterossexuais, 5,6% —3,4% disseram que são assexuais, e o mesmo percentual preferiu não responder à pergunta sobre sua orientação sexual.

Além disso, a maioria (58,6%) afirmou atuar na região Sudeste do país e ter entre 25 e 34 anos (39,8%).

Na avaliação da Abra, mais do que os números brutos, o que chama a atenção no levantamento são os relatos encaminhados de forma anônima. "Pensei seriamente em desistir da carreira", "me pressionou contra a parede para se 'certificar' de que eu era mesmo lésbica", "aceitaram personagens LGBT+, mas deveria 'entregar' algo para o público hétero", "recebi propostas para trabalhar de graça por ser uma pessoa trans e precisarem de 'diversidade'", "chamado pelo pronome feminino como forma de piada" são alguns dos exemplos de depoimentos colhidos na pesquisa.

"A partir desses relatos, percebemos que ocorre realmente todo tipo de violência, desde aquelas que são mais corriqueiras e até normalizadas, como piadas, até coisas mais graves, como violência física e sexual", afirma a roteirista Germana Belo, que faz parte da Abra e integrou a equipe que consolidou os dados do levantamento.


BOLA NA REDE

O ex-jogador de futebol Walter Casagrande Júnior e o jornalista Gilvan Ribeiro receberam convidados para o lançamento de uma edição atualizada do livro "Casagrande e seus Demônios" (Record), escrito por ambos, na semana passada. Os ex-jogadores corintianos Zé Maria e Sollito e o jornalista Juca Kfouri, colunista da Folha, prestigiaram o evento, que foi realizado na Livraria da Vila da Vila Madalena, em São Paulo.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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