Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki
Descrição de chapéu

A hora da verdade: Doria vai despir a fantasia de prefeito?

Prefeito, que não é unanimidade no PSDB, lançou-se pré-candidato ao governo do estado

O prefeito de São Paulo, João Doria, participa de reunião sobre segurança pública realizada com prefeitos em Brasília
O prefeito de São Paulo, João Doria, participa de reunião sobre segurança pública realizada com prefeitos em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O homem das máscaras não pode mais disfarçar. Acaba de anunciar que irá tirar a fantasia que usou nos últimos 14 meses, a de prefeito de São Paulo.

Na campanha de 2016, ele enganou os paulistanos, que não o conheciam, com uma máscara de gestor, de joão trabalhador, de não político. O descrédito com a política deu-lhe a vitória no primeiro turno e o direito de administrar o maior município do mundo ocidental.

Um desafio e tanto para um gestor, uma oportunidade única para demonstrar capacidade administrativa e competência política. Mas, mal começou a governar, fantasiou-se de gari, de cadeirante, de agente de trânsito, em um marketing pessoal que iludiu, por algum tempo, a maioria dos paulistanos.

Os mais atentos perceberam que, por baixo dessas vestes, inexistia um projeto para governar uma cidade complexa como São Paulo, fora reverter ações de seu antecessor, vender o patrimônio público e mendigar doações privadas.

Agressivo, de modo coerente com a lamentável intolerância que vigora no país, atacou jornalistas, ativistas e especialistas que contestavam suas iniciativas.

Insatisfeito com o cargo que ocupava, passou a sonhar com voos mais altos. O vazio da política nacional levou muitos a acreditarem que ele poderia ser o novo “messias” que salvaria o país. A mosca azul subiu à cabeça. Passou a articular sua candidatura a presidente, realizando 47 viagens para fora da cidade em menos de um ano.

Apoiado por movimentos obscurantistas, recebeu homenagens e títulos de cidadão de municípios onde nunca antes havia pisado e de estados onde nada havia feito.

Criou uma marca “fake” (como ele próprio?), Cidade Linda, enquanto a cidade real estava com semáforos apagados, suja, com equipamentos sociais fechados e sistema de drenagem entupido. Estádios de futebol no país e até mesmo no exterior exibiam essa marca, em propaganda eleitoral antecipada, paga por empresas privadas.

Embora negasse que quisesse deixar a prefeitura, seus próprios aliados de primeira hora desconfiaram que tinham construído um traidor. Com o abandono da cidade e os cada vez mais indisfarçáveis trejeitos de político, os paulistanos se deram conta que ele não tinha nada de gestor.

No final de 2017, sua reprovação triplicou. Sem sustentação em seu projeto nacional, ele recuou. Abandonou ações espetaculares e voltou-se para as articulações de bastidores, esperando ser ungido candidato a governador de São Paulo.

Agora, chegou a hora da verdade. Não sendo unanimidade em seu partido, lançou-se pré-candidato a governador para disputar a indicação do PSDB. Já sem a máscara de gestor, ele terá que despir sua última fantasia, a de prefeito de São Paulo.

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