Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

Inclusão ganhou quase todas as eleições presidenciais desde 1989

Em 2018, time da exclusão buscou reforço do Judiciário para expulsar o principal craque da inclusão

Criança em favela sem saneamento em Osasco (SP)
Criança em favela sem saneamento em Osasco (SP) - Lalo de Almeida - 23.dez.15/Folhapress

Na sexta-feira passada (15), a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) publicou uma análise da mobilidade social em 30 países, colocando o Brasil em penúltimo lugar.

Devido à Copa e à reunião do Copom, a notícia não teve destaque no debate econômico nacional, mas ela é um tema que merece atenção na campanha eleitoral deste ano.

O estudo da OCDE mediu o grau de mobilidade social pelo impacto que a renda de uma geração tem sobre a da geração seguinte. Traduzindo do economês, o estudo procura medir quanto a renda dos pais influencia a renda de seus filhos.

Se essa influência for elevada, é muito provável que os filhos das classes mais pobres permaneçam pobres e que os filhos das classes mais ricas permaneçam ricos, independentemente das competências individuais de cada grupo.

Segundo a OCDE, o “grau de persistência da renda” entre gerações brasileiras é de 70%, isto é, em média, um aumento de 10% da renda de uma classe social eleva em 7% a renda de seus filhos no Brasil. A média dos países estudados é de 40%.

Outros estudos também apontaram alta correlação entre desigualdade e baixa mobilidade social, no que se convencionou chamar de “curva Grande Gatsby”, em alusão ao romance ambientado nos EUA dos anos 1920, período de elevada concentração de renda.

A curva Grande Gastby é preocupante para um país ainda tão desigual como o Brasil, pois, quando os jovens têm poucas chances de ascensão social, há desperdício de vidas e talentos, aumento da violência e diminuição da confiança nas instituições de governo.

Tudo isso contribui para um clima geral de desesperança, como indicou outro número publicado na semana passada: segundo pesquisa do Datafolha, 62% dos jovens (16 a 24 anos) deixariam o Brasil se pudessem.

O governo pode e deve reduzir a desigualdade e aumentar a mobilidade social por motivos sociais e econômicos. Para alguns de meus colegas economistas, que ainda acham essa preocupação perigosa e desnecessária, cabe apontar que mesmo estudos ortodoxos recentes sobre o tema indicam que desigualdade excessiva reduz o bem-estar da sociedade.

O grau de desigualdade no Brasil se encaixa perfeitamente na definição de “excessivo” e deve ser reduzido via políticas públicas de inclusão social. Essa é uma questão crucial para as eleições deste ano, pois teremos mais uma disputa entre o time da inclusão e o time da exclusão nas urnas.

Jogando às vezes com mais de um representante, a inclusão ganhou quase todas as eleições presidenciais desde 1989 (sim, o Real reduziu a desigualdade).

Porém, em 2018, o time da exclusão buscou reforço poderoso —do Poder Judiciário— para expulsar o principal craque da inclusão com base em um lance altamente duvidoso (não, não houve crime).
Apesar dessa decisão, ainda há chance de termos uma eleição equilibrada, caso nossa Suprema Corte decida atuar como juiz de vídeo e reveja a decisão do juiz de campo (tomara que sim).

Enquanto isso, o jogo continua entre aqueles que acham que o governo deve ser para poucos e os que acham que o governo deve ser para todos.

Nesse processo, a posição de cada candidato sobre temas como tributação progressiva e serviços públicos universais de saúde e educação é um bom indicador para saber quem está do lado da inclusão e quem está do lado da exclusão.

As escolhas de cada um são obviamente livres e devem ser respeitadas em uma democracia, mas torço para que, mesmo se com Supremo e com tudo contra, a inclusão ganhe mais essa eleição.

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