Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson Barbosa

Desenvolvimento verde

Questão ambiental deve ser tratada como oportunidade de investimento em infraestrutura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O aumento das queimadas na Amazônia colocou o Brasil no centro do debate mundial sobre o clima, por maus motivos.

O descaso de Bolsonaro com o ambiente é realmente chocante, mas, se considerarmos os últimos cem anos, o aquecimento global ainda se deve mais às emissões de gases efeito estufa por países desenvolvidos do que ao desenvolvimento de emergentes.

Ainda assim o desafio climático é global e requer ação imediata por parte de todos, com contribuições maiores dos países mais ricos, devido ao seu histórico ambiental e à maior renda per capita.

Do ponto de vista econômico, o combate ao aquecimento global pode abrir uma nova frente de investimentos, gerando uma "destruição criadora" do atual modo de produção e consumo mundiais, em prol de padrões mais sustentáveis.

No passado, guerras e militarismo foram grandes indutores de investimentos e transformação econômica, mas com grande custo humano. Felizmente essa "saída" de crises não é mais possível hoje.

O combate ao aquecimento global pode ser o equivalente econômico do século 21 às guerras do século 20, só que sem custo humano e com melhoria do padrão de vida de todos.

Traduzindo do economês: combater o aquecimento global pode gerar mais investimento e empregos em reflorestamento, preservação de rios e oceanos, reciclagem, geração de energia renovável, transporte urbano e, principalmente, renovação de toda a infraestrutura existente para maior "eficiência ambiental" (menos poluição e menor uso de energia por unidade produzida).

Como tudo em economia, mudar a infraestrutura de produção e consumo tem um custo e um benefício.

O custo é geralmente mais claro, pois sabemos quanto pagar por cada investimento ou ação ambiental. O benefício é mais difuso, pois o ganho é nacional ou global, isto é, não necessariamente apropriado por quem incorreu no custo.

Diante desse problema, que nós, economistas, chamamos de "externalidade", cabe geralmente ao governo definir o preço da preservação do ambiente e cobrá-lo da sociedade via impostos sobre a renda corrente ou emissão de dívida (que são impostos sobre a renda futura).

Mesmo com boas intenções ambientais, aumento de impostos tendem a dar errado em um contexto de lento crescimento econômico, como evidenciou o recente fracasso de Macron ao elevar a tributação sobre combustíveis na França.

No contexto atual de lento crescimento mundial e baixas taxas de juro real, o caminho mais adequado é financiar o "desenvolvimento verde" via emissão de dívida, deixando o ajuste de impostos para se e quando a renda se recuperar de modo duradouro.

Propostas nesse sentido têm sido feitas nos EUA, no âmbito dos debates entre pré-candidatos do partido democrata às eleições presidenciais de 2020.

Chamado de "New Green Deal", a ideia é lançar amplo programa de investimentos e regulação ambiental para incentivar inovações e aumentar a renda e o emprego de modo sustentável.

O mesmo tipo de iniciativa poderia ser adotado no Brasil, acrescentando o reflorestamento da Amazônia e da mata atlântica como prioridades imediatas, além de renovar e melhorar a infraestrutura urbana, gerando empregos nas cidades.

Existe saída para nossa crise econômica, mas isso exige pensar diferente em termos fiscais e ambientais.

Ajuste fiscal sim, só que mais gradual em relação ao que vem sendo feito. E tratar a questão ambiental não só como custo mas também como oportunidade de investimento em nova infraestrutura, para gerar emprego e renda de modo sustentável no século 21.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.