Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson Barbosa
Descrição de chapéu congresso nacional

IVA triplo diminuiria resistência de grandes cidades à reforma tributária

Podemos ter a CBS para a União e um Imposto sobre Bens e Serviços para estados e outro para municípios

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nem tudo é má notícia no Brasil atual. Apareceu bom senso no debate tributário, no parecer do senador Roberto Rocha (PSDB-MA) sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 110. O assunto é técnico, mas importante. Vamos por partes.

Nossa tributação indireta é uma confusão e gera muita ineficiência e custo, para empresas e governo. Temos tributos federais, estaduais e municipais, com bases e alíquotas diferentes, e interpretações diversas sobre o que deve ou não ser tributado.

A maioria dos economistas defende simplificar o sistema, com tributação uniforme sobre o valor adicionado (lucros e salários), independente do setor ou produto em questão, no ponto de venda do produto (destino).

O senador Roberto Rocha durante coletiva de imprensa no Congresso Nacional - Adriano Machado - 5.out.2021/Reuters

Traduzindo do economês, o sistema ideal é um tributo com alíquota única sobre as vendas, digamos 25% do valor de venda (“por dentro”), permitindo que as empresas possam aproveitar o tributo pago nas suas compras de insumos.

Ao vender R$ 100, a empresa deve R$ 25 ao Estado, mas ela pode descontar o tributo pago em suas compras de insumo do tributo devido na venda final. Esse crédito tributário faz com que a tributação incida somente sobre os lucros e salários gerados pela empresa, como acontece em vários países desenvolvidos.

Se o sistema é tão bom, por que há tanta resistência a ele? Vários motivos. Por limitação de espaço, menciono apenas dois.

Primeiro, hoje vários setores pagam uma alíquota baixa sobre o faturamento e, portanto, resistem a pagar uma alíquota mais alta sobe o valor adicionado. A mudança prevista pela PEC 110 diminuirá a desoneração do setor de serviços, que naturalmente se coloca contra a medida, mesmo ela sendo benéfica para o Brasil como um todo.

A solução do impasse é uma transição gradual para o novo sistema, começando com mais de uma alíquota sobre valor adicionado, mas convergindo para alíquota única no “longo prazo”. O Senador Rocha propõe sete anos, mas o importante é que, no longo prazo, a simplificação tributária elevará a renda total do país, beneficiando todos os setores, inclusive serviços.

A segunda resistência à reforma estava na unificação de tributos federais, estaduais e municipais em um só imposto, administrado por um “conselho nacional”. O objetivo era nobre, simplificar a vida do contribuinte, mas o efeito prático da medida foi disparar uma guerra entre União, Estados e Municípios, com um querendo “roubar o monte” tributário do outro.

A vida do contribuinte pode ser simplificada sem unificar os tributos do ponto de vista legal. Em outras palavras, podemos ter uma CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) para a União e um IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) para estados e municípios, sendo este último item separado em dois: o IBS-E e o IBS-M.

A PEC 110 avançou muito ao propor um IVA Dual, CBS e IBS. Falta avançar um pouco mais e propor um IVA triplo, com CBS, IBS-E e IBS-M, sobre a mesma base de arrecadação e mesma lógica de arrecadação, no destino e sobre valor adicionado, mas com competências administrativas diferentes.

O IVA triplo diminuirá a resistência dos prefeitos de grandes cidades à reforma, sem impedir que prefeitos de pequenas cidades (e até governadores) eventualmente integrem sua arrecadação ao sistema eletrônico da União, por adesão, não por imposição.

Com IVA triplo nos moldes acima, a criação da CBS abrirá caminho para o novo sistema de tributação indireta, fazendo com que o IBS-E e IBS-M sejam criados na sequência, e todos os tributos migrem para uma plataforma eletrônica única, em até dez anos. Fica a dica. ​

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.