Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

O novo voo da galinha

Dado do BC é a confirmação de que estamos em uma recuperação que não se sustenta

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O BC (Banco Central) estima que a atividade econômica brasileira caiu 1,1% em agosto. O "mercado" já esperava uma queda, pois o crescimento de julho foi grande e, quando isso acontece, normalmente há um freio de arrumação no mês seguinte. Ainda assim, a queda efetiva de agosto foi bem maior do que a esperada (1,1% vs 0,5%).

Contrariamente ao discurso de Bolsonaro e Guedes, o resultado anunciado pelo BC é a confirmação oficial de que estamos em um "voo de galinha", uma recuperação econômica que não se sustenta.

Todos os sinais da economia demonstram que Bolsonaro e Guedes rasparam o tacho do orçamento e crédito público para produzir um soluço de expansão econômica na véspera da eleição, sabendo que isso acabará em nova estagnação no final de 2022.

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O ministro Paulo Guedes (Economia) em evento em São Paulo - Zanone Fraissat - 23.ago.2022/Folhapress

Você acha minha opinião viesada? OK, vamos aos números do mercado, que não é exatamente petista. Segundo o último relatório Focus do BC, a expectativa média dos analistas financeiros é um crescimento de 2,7% do PIB neste ano.

Parece alto? Se o Brasil mantivesse o ritmo de recuperação da primeira metade do ano (em média 1,1% por trimestre), o crescimento de 2022 seria de 3,5%. A expectativa de 2,7% reflete, portanto, uma forte desaceleração da economia no segundo semestre, ou seja, a partir de agora.

Desaceleração para quanto? Para algo próximo de "crescimento zero" no restante de 2022. Especificamente, ainda deve acontecer uma pequena expansão da economia no terceiro trimestre, seguida de queda no quarto.

Traduzindo do economês: para tentar continuar no poder, Bolsonaro e Guedes "esvaziaram o tanque" do Brasil antes da eleição, sabendo que esse tipo de ação tende a deixar a maioria da população "a pé" no final do ano.

Olhando para frente as coisas pioram. A expectativa mais recente do mercado para 2023 é de crescimento de apenas 0,6% por ano. Como a população brasileira cresce a uma velocidade de 0,7% ao ano, a expectativa de mercado significa queda da renda por habitante.

Parte da estagnação projetada para 2023 vem de fora. Devido à contração monetária para combater a inflação, os EUA irão desacelerar no próximo ano. Na Europa, os efeitos do "choque Putin" também tendem a gerar recessão, com o adicional de paralisação e crise política em economias importantes como Reino Unido e Itália.

E na China a situação é mais preocupante, pois apesar de a inflação de lá estar baixa em comparação ao ocidente, o modelo chinês de crescimento forçado por endividamento para construir infraestrutura sem demanda garantida parece ter chegado ao seu limite.

A outra parte da estagnação brasileira projetada para 2023 vem de nós mesmos. Do lado monetário, para controlar a inflação, ainda teremos juro real elevado por vários meses e isso reduz o crescimento da economia. Do lado fiscal, a destruição do orçamento público promovida por seis anos de Temer e Bolsonaro já deixou um legado de grande incerteza econômica.

Há pressões de todos os lados, para reformar tributos, reconstruir programas e gastos essenciais, recuperar o salário mínimo, negociar com servidores, quitar precatórios, compensar Estados e municípios e outras bombas fiscais criadas pelo "dread team" Temer e o "mad team" Bolsonaro.

Para não desanimar os leitores, com bom senso, tempo e negociação, é possível desarmar todas as bombas deixadas por Temer e Bolsonaro, reequilibrando as contas públicas no médio prazo, isto é, até 2026. Porém, o primeiro passo para recuperar a economia está na política e não na economia. O primeiro passo é votar Lula para presidente.

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