O New York Times manchetou, de lado a lado, que “Explosões consecutivas de violência com armas chocam a América”. Logo abaixo, “Num país que se tornou quase entorpecido diante de homens armados abrindo fogo em escolas e igrejas, tiroteios em massa no Texas e em Ohio deixam público abalado”.
Mas não demorou e Donald Trump surgiu na governista Fox News e noutros canais, dizendo que os dois atiradores seriam “realmente muito seriamente doentes mentais”, ou seja, casos isolados. Que os tiroteios vêm acontecendo “por muitos e muitos anos”, ou seja, não é culpa dele.
Falou também que “o ódio não tem lugar no nosso país”, que “vamos cuidar” do problema, mas a mensagem estava dada. Ela se repete a cada novo tiroteio, uma argumentação desenvolvida por anos, para não responsabilizar a indústria de armas e, agora, o discurso racista.
A colunista de mídia do Washington Post, Margaret Sullivan, expressou a frustração generalizada diante da cobertura que se repete, quase igual, agora de um dia para o outro: “Se o jornalismo deve ser uma força positiva na sociedade —e sabemos que pode ser— isso não está funcionando. Nada muda”.
Partiu daí para uma análise em que chega a sugerir “tomar partido”, como na defesa dos direitos civis nos anos 1960. Mas terminou seu texto novamente em frustração, com uma única conclusão: “Temos que parar de fazer aquilo em que nos tornamos tragicamente tão competentes: Fazer a mesma coisa”.
O noticiário do próprio WP pareceu concordar, com chamadas noticiosas carregadas de opinião, como “Questão não é mais se Trump vai reagir a um tiroteio em massa como fizeram outros presidentes, mas se ele contribuiu para a carnificina”.
Outra mudança, mais importante e sublinhada do NYT ao Wall Street Journal e à CNN, é que as autoridades, ao menos no Texas, “estão tratando o ataque como terrorismo doméstico”, interno, rompendo a resistência americana a chamar o racismo pelo nome.
DENÚNCIA
Na manchete do mexicano Excelsior, “México vai apresentar denúncia por terrorismo contra mexicanos nos EUA”. Reforma e La Jornada também saíram por aí. Seis mexicanos foram mortos no Texas.
HUAWEI, NÃO
A Bloomberg noticiou que, com a escalada da guerra comercial de Trump contra a China, Pequim “se volta à soja brasileira”, mais uma vez.
Mas a escalada de Trump foi precedida pela visita do secretário americano do Comércio, que acenou com acordo comercial Brasil-EUA —e confirmou em entrevista ao Valor que deixou advertência contra a chinesa Huawei.
EUROPA, TAMBÉM NÃO
Além da China, o secretário americano também falou contra o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia. Um dia antes de Jair Bolsonaro cancelar a reunião com o chanceler francês, para tratar exatamente do acordo.
EMERGÊNCIA CAPILAR
O chanceler francês esnobado por Bolsonaro deu entrevista ao Journal du Dimanche, tentando rir de si mesmo:
"Parece que houve uma emergência capilar, uma preocupação que pessoalmente desconheço."
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