Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson de Sá
Descrição de chapéu jornalismo mídia

2020 termina com opinião pública mais concentrada nos EUA

Sites nativos como HuffPost passam por consolidação em meio à pandemia; jornalistas se refugiam no Substack

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os sites noticiosos americanos, que por um momento chegaram a ameaçar o New York Times e toda a mídia tradicional, “mainstream”, estão em consolidação, eufemismo para corte de custos.

Não é de agora, também eles vinham perdendo publicidade, mas a pandemia e o fim da cobertura eleitoral aceleraram o processo, cujo símbolo maior talvez seja a assimilação do HuffPost pelo BuzzFeed, anunciada na quinta (19).

Com isso, o NYT vai coletando fundadores-editores que saíram pelo caminho, tornados agora colunistas, de Kara Swisher, ex-Re/code e AllThingsD, a Ben Smith, ex-BuzzFeed News, e Ezra Klein, ex-Vox.

Outros arriscam a opção independente do Substack, plataforma de newsletters que podem cobrar assinatura e que mais recentemente atraiu Matthew Yglesias, outro dos fundadores do Vox, e Casey Newton, que deixou o site The Verge.

Mais significativamente, foram para lá os jornalistas Glenn Greenwald, saído do Intercept, e Andrew Sullivan, da revista New York (já em sexto e quinto na lista do Substack, acima).

Os dois, antes de suas passagens mais significativas pelo “mainstream”, respectivamente no Guardian e na Atlantic, mantiveram blogs legendários no início do século, Unclaimed Territory e Daily Dish, que ajudaram a estabelecer o jornalismo de opinião e análise na internet.

A leitura de ambos pelo Substack, agora, deixa a sensação de recuo no tempo, déjà vu, num site que, fora o formato simplificado de assinatura, inova pouco ou nada.

Viabiliza o trabalho profissional de vozes alternativas, aproveitando-se de um mercado de assinaturas digitais que foi desenvolvido ou recuperado por NYT e outros para o jornalismo, com bastante risco, nesta década.

Greenwald e Sullivan retornam às suas trincheiras online quando está para começar um novo governo democrata e aparentemente intervencionista nos EUA, mas eles estão mais isolados do que há 15 ou 20 anos.

Com a consolidação não só dos sites nativos, mas do jornalismo regional, a opinião pública americana fecha 2020 mais concentrada —e com crescente suporte editorial das plataformas de tecnologia. Boa notícia para Joe Biden.

ANONYMOUS LIVRE

Ficaram pelo caminho experiências mais ativistas e radicais com informação, também desenvolvidas na internet da primeira década do século, como o WikiLeaks e o grupo Anonymous.

No caso, a concentração se deu por intervenção do estado, com Julian Assange completando dez anos de confinamento, entre prisões e asilo em embaixada, e os hacktivistas do Anonymous escolhendo entre colaborar com a polícia ou passar anos na cadeia.

Jeremy Hammond, protagonista no livro de referência sobre o grupo, escrito pela acadêmica Gabriella Coleman, “Hacker, Hoaxer, Whistleblower, Spy” (Verso, 2014), acaba de sair da penitenciária de Memphis, no Tennessee, depois de oito anos. Tinha 27 ao entrar.

Coleman festejou, “uma coisa boa em 2020!” (acima). Na descrição da Associated Press, nestes oito anos ele foi “elevado a um status quase mítico na internet”. Mas o Anonymous que alimentava as publicações de WikiLeaks e outros desapareceu.

Para registro: Ao ser condenado, Hammond afirmou, como noticiaram então NYT e sites de tecnologia, que havia sido manipulado pelo FBI em 2012 para hackear “sites governamentais no Brasil” e repassar as “backdoors”.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.