Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu mídia

Contra Trump, 'um dos erros mais notáveis na história jornalística'

Lenta desconstrução do dossiê Steele, com denúncias sobre o ex-presidente americano, expõe mídia que se deixou levar

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Há quatro anos sem ombudsman, o New York Times não trata do assunto diretamente, mas passou a semana cercando o desastre jornalístico do dossiê Steele, um relatório pago pela campanha de Hillary Clinton contra Donald Trump.

Suas 35 páginas saíram na íntegra, em 2017, no site BuzzFeed, então editado por Ben Smith, hoje colunista de mídia do NYT. Listava supostos fatos que tornariam Trump refém do governo russo.

Na terça (16), o NYT publicou o artigo de um acadêmico, dizendo no título que "O dossiê Steele indiciou a mídia".

O senador republicano Lindsey Graham segura uma cópia do dossiê Steele durante audiência, em 11 de dezembro de 2019 - AFP

Em suma, "ele foi desacreditado por duas investigações e pelo indiciamento de uma fonte importante, deixando para os jornalistas o ajuste de contas sobre como tantos foram levados tão facilmente". O texto se concentrou no papel do BuzzFeed.

O indiciamento da fonte foi neste mês, e o Washington Post, na sequência, tirou do ar trechos inteiros de reportagens e um vídeo.

Na quinta (18), o NYT entrevistou a editora do WPost, Sally Buzbee, que defendeu a atuação do jornal à época, dizendo que "jamais publicou o dossiê ou coisa do gênero". Ao que o NYT comentou: "Entendi. Vocês não são o BuzzFeed".

Talvez Ben Smith acabe renegando sua decisão de 2017, mas não dá sinais de que vá fazê-lo. À Columbia Journalism Review, disse que "cheira a hipocrisia o fato de os principais veículos estarem dançando sobre a carcaça do dossiê", quando eles "usaram o fato de o BuzzFeed publicá-lo para alimentar seu 'loop' infinito sobre o dossiê".

Entre outros, também embarcaram à época o Wall Street Journal, a CNN e a MSNBC da apresentadora Rachel Maddow.

Um dos jornalistas que mais atuaram na lenta desconstrução da cobertura do dossiê Steele, Matt Taibbi, hoje no Substack, escreveu que tudo indica que "Smith será jogado do barco" como Judith Miller.

É a repórter do NYT que há duas décadas noticiou indícios de armas de destruição em massa no Iraque, abrindo caminho para a invasão. Outros, que agiram como ela, "saíram ou ilesos ou promovidos".

A pressão por um acerto de contas mais amplo prossegue, inclusive sobre o WPost, que ganhou Pulitzer pela cobertura. O tom é violento, nos veículos que não embarcaram. O Axios diz ser "um dos erros mais notáveis na história jornalística moderna" no país e chama de "O grande fracasso da mídia".

O DESABAFO DE HU XIJIN

O célebre editor do Global Times/Huanqiu, Hu Xijin, desabafou no Weibo, no dia do jornalista na China:

"Falando francamente, os profissionais de mídia vêm sendo sujeitados a restrições crescentes, e a maioria delas vem de departamentos do governo e de governos locais, que exigem cooperação estreita, cobrando o que a mídia deve ou não reportar. Quanto maior a interferência, menos entusiasmo terão os jornalistas."

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