Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Nos 100 dias da guerra, verdes e social-democratas retomam militarismo alemão

'Com fervor moral', partidos disparam orçamento militar; Süddeutsche prevê 'nova guerra por procuração', na África

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No fim de 2021, o velho esquerdista Oskar Lafontaine, 78, líder histórico da social-democracia alemã, ex-ministro das finanças e ex-candidato a primeiro-ministro, abandonou de vez a política com um alerta para o militarismo em ascensão, uma vez mais, na Alemanha.

Concentrou fogo nos "verdes e seus apoiadores no jornalismo", ele que, por ironia, fez sua despedida num dos jornais da cadeia direitista Axel Springer, o Die Welt. Falou que, se os verdes tomassem a diplomacia, "seria catástrofe", com "aumento do risco de guerra", porque "seguem acriticamente a política americana de confronto com a Rússia".

Em mídia social, escreveu que "os verdes passaram de partido da paz a partido da guerra", criticando o apoio a "guerras que violam o direito internacional, rearmamento, entrega de armas, o cerco da Rússia pelos EUA". Falou ser "um horror" imaginar os "verdes controlados pelos EUA" numa "crise intensificada com a Rússia na Ucrânia".

Com sinal trocado, elogiando, o Washington Post publicou então, sob o título "Partido Verde em ascensão ecoa políticas dos EUA", que o grupo surgido como "mistura de ativistas pela paz e céticos do poder ocidental" estava agora colocando "uma postura dura em relação a Moscou no centro das promessas de política externa".

Isso foi meio ano antes de os verdes ocuparem os ministérios do exterior e da economia, os mais voltados ao confronto com Moscou, antes mesmo da invasão. Mas com a persistência da guerra, entre armas à Ucrânia e sanções à Rússia, até os "apoiadores no jornalismo" começam a questionar, caso do Süddeutsche Zeitung.

Nesta semana, com título apontando o grupo como a nova direita alemã, mas "ecológica", o jornal destacou o "Adeus ao pacifismo e ao antimilitarismo: o partido se libertou de suas velhas raízes" ao aprovar o envio de armas, "com fervor e paixão moral". O Süddeutsche ouviu de Antje Vollmer, 79, líder por décadas, que "isso trai a alma verde".

Na manchete do FAZ, a aprovação de 100 bilhões de euros para a Bundeswehr, as forças armadas unificadas da Alemanha - Reprodução

Mas Lafontaine não tinha se voltado só contra os verdes, no Die Welt. Também alertou então sobre o agora primeiro-ministro Olaf Scholz, "seu ex-amigo dos dias de social-democracia". Scholz, afirmou ele, representa hoje "armamentos, operações militares da Bundeswehr", as forças armadas alemãs, "e cortes sociais".

Foi Scholz quem no último dia 19 de fevereiro, falando na Alemanha logo após visitar Vladimir Putin, chamou de "ridícula" sua denúncia de supressão da etnia russa em Donbas. O Kremlin reagiu dizendo que "não cabe aos líderes alemães fazer piada sobre questões de genocídio". Cinco dias depois, começou a invasão.

Passados cem dias, nas manchetes desta sexta (3) por Frankfurter Allgemeine Zeitung e quase todo o país, Scholz aprovou no parlamento "o rearmamento da Alemanha", estabelecendo um fundo de € 100 bilhões para a Bundeswehr, oficialmente para defesa do país.

Mas o Süddeutsche já projeta nesta mesma sexta, no alto, "uma nova guerra por procuração no país mais rico em petróleo da África", a Líbia, e com os mesmos protagonistas da atual na Ucrânia: Otan e Rússia.

"A maior parte do petróleo líbio está na fronteira com o Egito, e Moscou está no comando lá", diz o jornal —que na semana passada acompanhou Scholz por uma turnê africana, atrás de petróleo.

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