A imprensa chinesa acordou para a eleição na reta final, com pelo menos três extensas análises do impacto da eventual vitória de Lula sobre a política externa do país e da América Latina.
Acima, o Pengpai Xinwen ou The Paper, de Xangai, ligado à revista digital Sixth Tone, destaca que "pode ser o clímax do retorno da esquerda latino-americana", que já trouxe alguma cooperação regional, citando a retomada das relações entre Colômbia e Venezuela.
Assinado por pesquisador do Instituto de Estudos Internacionais da China, ligado do Ministério do Exterior, avalia que "o latino-americanismo ofuscou o pan-americanismo, ideário utilizado nos últimos anos pelos EUA para promover sua ‘Doutrina Monroe’".
Mas a cooperação latino-americana "está sujeita a grande incerteza", com o "efeito pêndulo" eleitoral. Deve prosseguir no curto prazo, porém "o cabo de guerra geral entre latino-americanismo e pan-americanismo continuará".
O site da rede de televisão Ifeng ou Phoenix, de Shenzhen e Hong Kong, também recorreu a um pesquisador, do centro de estudos D&C, para avaliar "por que os dois candidatos são anti-EUA?", já que "ambos manifestaram sua insatisfação".
Sobre aquele que "provavelmente vencerá", diz que "os EUA certamente não gostaram de Lula quando ele estava no poder, mas agora as coisas mudaram". De todo modo, "algumas contradições não podem ser eliminadas", como Lula ser "defensor do Brics".
"Para a China, quem quer que vença é uma oportunidade, pois ambos precisam do apoio chinês para suas agendas", encerra. "Em particular, só a China tem potencial para ajudar o Brasil a melhorar sua infraestrutura precária."
Por fim, o Huanqiu, original em chinês do Global Times, de Pequim, mobilizou cinco profissionais para perguntar: "A eleição do Brasil impulsiona a onda rosa da América Latina?". Avalia que, apesar do resultado "histórico" na Colômbia, "o espaço político e econômico enfrentado é estreito".
Os governos, "sejam de esquerda ou de direita, têm significativamente menos dinheiro nas mãos", em relação à onda de duas décadas atrás. Com isso, "os eleitores podem não mostrar muita paciência".
Entrevistado, um membro do Instituto Latino-Americano da Academia Chinesa de Ciências Sociais diz que o novo grupo também "adota mais pragmatismo" e que "um exemplo típico é que o parceiro de Lula é seu último adversário, Geraldo Alckmin".
VOLTA POR CIMA DRAMÁTICA, IMPRESSIONANTE
A cobertura da eleição também disparou no Ocidente, com El País (acima), Libération (abaixo) e Financial Times disputando qual dedica mais espaço, entre os jornais europeus.
O espanhol chegou a fazer entrevista com Silas Malafaia dizendo que "o PT quer voltar à cena do crime". Já o francês, em editorial, saúda "Lula, uma performance incrível", mas alerta que "ele ainda tem armadilhas a superar, para triunfar sobre Bolsonaro, de extrema-direita".
O financeiro inglês produziu vídeo e podcast e também um editorial, "A eleição imperfeita do Brasil", lamentando que "uma safra de candidatos da ‘terceira via’ não floresceu, queimada pela intensa polarização". Critica Lula por ele "falar pouco sobre a reforma de um Estado cronicamente ineficiente", cobra "caras novas" e reclama que, com sua provável vitória, será só "a opção menos ruim".
De todo modo, no subtítulo, o FT destaca que "Lula está prestes a dar uma volta por cima dramática".
Em sua cobertura também intensificada, o New York Times recorre à mesma expressão para salientar que Lula pode alcançar "uma volta por cima política impressionante". Sobre o atual presidente, ressalta que o "partido de Bolsonaro ataca sistemas de votação do Brasil, sem prova".
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