No balanço de um ano da guerra, o portal russo RT e o jornal americano The New York Times concordaram. O primeiro destacou uma análise do cientista político Dmitri Trenin, ex-Centro Carnegie de Moscou, "Como o conflito está mudando a ordem mundial".
Houve "a ascensão de mais de uma centena de atores de diferentes calibres, em muitas partes do mundo, que se recusaram a apoiar os EUA e seus aliados nas sanções à Rússia e mantiveram ou até expandiram seu comércio e outras relações com Moscou".
"Esses países insistem em seguir seus próprios interesses e buscam ampliar sua autonomia em política externa. No final das contas, esse fenômeno –chamemos de Ascensão da Maioria Global– pode ser o desenvolvimento mais importante na direção da nova ordem mundial."
O NYT deu manchete para a análise-reportagem "O Ocidente tentou isolar a Rússia. Não funcionou". Avalia que "um ano depois está ficando claro: embora a coalizão do Ocidente permaneça sólida, ela nunca convenceu o resto do mundo a isolar a Rússia. Em vez de se dividir em dois, o mundo se fragmentou".
"Um vasto centro vê a invasão como, principalmente, um problema europeu e americano. Esses países estão focados em proteger seus próprios interesses. Até aqueles que de início concordaram começaram a se mover na direção de uma posição mais neutra."
O Financial Times foi pela mesma linha, sob o título "Apelos ocidentais sobre Ucrânia fracassam em mudar o Sul Global". Também o site Politico, "Ocidente pode estar mais unido, mas está mais isolado", em análise do historiador Timothy Garton Ash, de Oxford:
"Nos EUA, a retórica da liderança do 'mundo livre' voltou. Noutras partes do mundo, porém, a maioria não acredita nessa divisão. E a razão mais fundamental para isso é que, dessa perspectiva, estamos entrando num mundo multipolar dividido entre muitos centros de poder –não bipolar."
Tanto quanto a China, os balanços ocidentais sublinham os papéis representados por Índia, Brasil e Turquia.
ÍNDIA VS. OCIDENTE
Na Índia, a sequência de questionamentos ao primeiro-ministro Narenda Modi levaram a reação nacionalista na imprensa, como resumido em editorial do Jagran, o maior jornal, dizendo que "agora o governo sabe muito bem que as potências ocidentais se tornaram ativas contra ele":
"Não é só o documentário malicioso da BBC, mas a declaração do investidor americano George Soros, com a intenção de interferência indevida na Índia. Não é de estranhar que o relatório da americana Hindenburg sobre o grupo Adani faça parte da mesma campanha fora da Índia contra Modi".
Por Times of India e outros, o chanceler S Jaishankar ironizou: "Você acha que o timing é coincidência? Não sei se a temporada eleitoral começou na Índia, mas com certeza ela começou em Londres e Nova York". A eleição indiana é no ano que vem.
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