Mal saiu a notícia da redução na população chinesa e a Bloomberg se voltou para a Índia, seguindo o padrão da cobertura financeira de projetar eventuais impactos de mercado —e ecoando por indianos como Hindustan Times.
Destacou uma estimativa da organização americana Waorld Population Review, dando a Índia com 1,417 bilhão de habitantes contra 1,412 bilhão da China, mais por crescimento próprio do que pela redução. "A ONU esperava o marco mais para o fim deste ano", anotou, indo então ao que interessa:
"Como mercado, a Índia, com a sua crescente classe média, é o maior consumidor de açúcar global, sendo o maior importador de óleos comestíveis. É o segundo maior consumidor de aço e o terceiro maior comprador de petróleo."
Em texto posterior, ecoando por financeiros indianos como Business Standard, a mesma Bloomberg ressaltou o impacto na oferta de mão-de-obra, com uma população jovem crescentemente superior àquela da China, mas contrapondo que o desemprego vem aumentando —e a participação de mulheres é mínima.
Na própria Índia apareceram vozes contra a euforia, por The Hindu e outros, caso de um ex-presidente de seu banco central, Raghuram Rajan. Ele avisou em Davos que "é prematuro pensar que vai ocupar o lugar da China em influência do crescimento global".
Sua explicação foi que hoje a indiana ainda "é uma economia muito menor" do que a chinesa. "Mas isso pode mudar com o tempo, porque a Índia já é a quinta economia e pode continuar crescendo."
Fora da Bloomberg, em outros veículos ocidentais de notícias, a atenção à ultrapassagem em população, pela Índia, foi menor. Nova Déli, que era uma aposta americana em sua nova guerra fria contra Pequim, acabou se mostrando resistente ao alinhamento.
Apesar das rusgas, o comércio sino-indiano acaba de bater novo recorde anual. Talvez mais significativamente, segundo a mesma Bloomberg, a Índia comprou em dezembro "33 vezes mais petróleo russo do que um ano antes", mesmo com a pressão de Washington.
O New York Times, próximo da Casa Branca, vem de questionar o chanceler S. Jaishankar pela defesa do "multialinhamento" indiano, como ele chama, priorizando os "interesses próprios" do país diante da "rápida eliminação da ordem mundial ocidental".
Nesta semana, a estatal inglesa BBC foi além e lançou um documentário contra o próprio primeiro-ministro Narendra Modi, imediatamente questionado pela chancelaria como "propaganda colonial", via Hindustan Times e outros.
Ambos, Modi e Jaishankar, protagonizaram na semana passada uma cúpula virtual, que chamaram de Voz do Sul Global, reunindo mandatários de países emergentes contra o "sistema estagnado" de governança global, ONU inclusive, como destacou o Jagran, o principal jornal em hindi (imagem acima).
No enunciado do Times of India, o principal jornal em inglês, "Modi: Sul Global deve criar uma nova ordem mundial".
O FUTURO DA HUMANIDADE
Por jornais como Huanqiu (Global Times), de Pequim, um porta-voz do governo chinês foi contido ao comentar a projeção de que a rival e aliada asiática já estaria à frente:
"Os dois países devem fazer bom uso do dividendo demográfico, para alcançar seu próprio desenvolvimento e fazer maiores contribuições para o futuro da humanidade."
Saio de férias, para retornar na edição de 27 de fevereiro.
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