Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

NYT cobra que Biden pare com 'invocações superficiais da Guerra Fria'

Citando o acordo saudita-iraniano mediado pela China e a paralisia da OMC pelos EUA, jornal critica busca de 'confronto'

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Sem esconder o espanto com o acordo negociado por Pequim, entre Arábia Saudita e Irã, o noticiário do New York Times foi se alterando ao longo de três dias. Na sexta-feira, de início, evitou até citar a China no enunciado.

No sábado, em manchete, afirmou que o acordo foi "mediado pela China, deixando os EUA à margem", China que "desafia os EUA". Mais, em chamada para uma análise, logo abaixo, "Papel da China sublinha a ambição de Xi Jinping de oferecer uma alternativa à ordem mundial liderada pelos EUA".

Destacou opinião do Council on Foreign Relations, ligado ao establishment de política externa, de que "alguns no Golfo claramente veem este como o século chinês". Pior, "os sauditas expressam vontade de se filiar à Organização para a Cooperação de Xangai", voltada à segurança multipolar, já com Rússia e Índia.

Por fim, no domingo, o noticiário do jornal mudou de vez, aceitando que o "pacto pode transformar o Oriente Médio" e que Arábia Saudita e Irã, "assim como toda a região, têm muito a ganhar". Que foi "um golpe da China", uma vitória.

Em editorial, New York Times defende que EUA e China 'estão ligados por milhões de interações normais e pacíficas todos os dias' e 'existe um incentivo substancial para manter esses laços'
Em editorial, New York Times defende que EUA e China 'estão ligados por milhões de interações normais e pacíficas todos os dias' e 'existe um incentivo substancial para manter esses laços' - Reprodução

Ao fundo, o mesmo NYT produziu extenso editorial, apresentado com destaque a partir de sábado, cobrando de Joe Biden que contenha sua "postura cada vez conflituosa", sob o título "Quem se beneficia do confronto com a China?":

"A relação entre EUA e China, apesar de todos os seus problemas, continua a trazer benefícios econômicos substanciais para os moradores de ambos os países e para o resto do mundo. As invocações superficiais da Guerra Fria são equivocadas. Não é preciso mais do que olhar para perceber que esse relacionamento é muito diferente."

Embora cite o acordo mediado pela China, a motivação do editorial parece ter sido outra —o virtual abandono da Organização Mundial do Comércio por Biden, no rastro de Donald Trump:

"Os EUA não devem se afastar de fóruns onde há muito tempo se relacionam com a China. A OMC opera um tribunal de recursos para julgar disputas comerciais. O tribunal, no entanto, não funciona há mais de dois anos [porque] o governo Biden se recusou a fornecer apoio. Isso é um erro."

"A construção de uma ordem internacional baseada em regras, na qual a América desempenhou papel principal, foi uma das conquistas mais importantes do século 20. Não pode ser preservada se os EUA não continuarem a participar dessas instituições."

Na sexta, como noticiaram Reuters e outros, o Japão se juntou a um "mecanismo alternativo de recursos" formado há dois anos e que já reúne dezenas de países. Entre eles, China e Brasil, além de outros asiáticos e latino-americanos e a União Europeia. Com os EUA à margem.

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