Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Índia, China e Rússia se reúnem por segurança, mas foco é o dólar

Grandes economias emergentes e até Warren Buffett organizam encontros e tratam do futuro da moeda americana

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Enquanto ecoava a coroação na Inglaterra, a Índia se voltou para outra cerimônia, o encontro de chanceleres da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, da sigla em inglês) em Goa.

Neste ano o país preside o grupo, que é tratado na cobertura como um Brics para segurança nacional, e seu célebre ministro S Jaishankar recepcionou até o colega paquistanês Bilawal Bhutto. Por jornais como Jagran, em hindi, salientaram-se suas críticas abertas, como "o Paquistão é o porta-voz da indústria terrorista".

Mas a questão era a China. Pela segunda vez em dois meses, Jaishankar se reuniu com Qin Gang, para avançar mais um pouco na solução da disputa de fronteira, como mostraram Times of India e Global Times, entre outros. Ao fundo, porém, estava a saída do dólar.

Em imagem reproduzida por jornais indianos e chineses, os ministros S Jaishankar (dir.) e Qin Gang conversam em Goa, na Índia - Reprodução/The Times of India

Por indianos como Economic Times, a Bloomberg e a Reuters noticiaram, dos bastidores da SCO na Índia, que Moscou negocia com Nova Déli para receber os pagamentos por armamentos, petróleo e gás em outras moedas, não a indiana rúpia nem o dólar americano.

Segundo uma autoridade indiana, "a Rússia quer ser paga em yuan".

Não por coincidência, o site Axios noticiou que o assessor de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, correu a Riad para se reunir ainda no fim de semana com seus colegas de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Índia. Os dois primeiros acabam de se filiar à SCO como parceiros.

Sullivan iria oferecer investimento americano para construir uma rede de ferrovias, para escoar petróleo a ser pago em dólar, em oposição à chinesa Iniciativa Cinturão e Rota, anota o Axios.

CINTURÃO SE AMPLIA

Indian Express e Hindustan Times avaliam que a SCO, como o Brics, vai sendo dominada pela ascensão da China, com os membros se ligando à Cinturão e Rota —à exceção do Brasil, "mas ele já está recebendo bilhões para infraestrutura com Lula se aconchegando a Xi Jinping".

Ainda assim, os dois blocos são úteis à Índia para "convergir com os companheiros", "enfatizar a proximidade com Moscou" e, via SCO, "se manter envolvida na discussão regional", da Ásia Central, sobre questões como o Afeganistão, "da qual ficaria excluída".

Segundo a Bloomberg, no domingo também o Afeganistão entrou para a Cinturão e Rota, num encontro em Islamabad entre Qin, Bhutto e seu colega afegão Amir Khan Muttaqi.

Reprodução/CNBC

BUFFETT E A FÉ NA MOEDA

Outro evento global que ganhou atenção, até na China, foi o encontro anual do grupo de Warren Buffett, 92, quando este e seu vice Charlie Munger conversam com investidores. A CNBC transmitiu e separou os destaques. Pergunta de uma jovem:

"Pretendem monetizar a dívida [dos EUA] imprimindo trilhões. Antecipando-se a isso, já estão se afastando do dólar grandes economias como China, Arábia Saudita e Brasil. Enfrentaremos um momento, no futuro, em que o dólar não será mais a moeda global de reserva? O que nós, cidadãos americanos, podemos fazer para nos resguardar do que parece ser o início da desdolarização?".

Com a jovem sob aplausos, Buffett sorriu (acima) e respondeu:

"É muito interessante. Nós somos a moeda de reserva, não vejo outra opção. [Mas] ninguém sabe até onde você pode ir antes que saia do controle. Você não vai querer escolher o ponto em que vai virar um problema, porque então estará tudo acabado. Devemos ter muito cuidado. É fácil para a América fazer muito, mas, se fizermos demais, é difícil ver como se recupera, uma vez que você deixa o gênio sair da garrafa e as pessoas perdem a fé na moeda. Todos os tipos de coisas podem acontecer. Não consigo prever, mas sei que não são boas. Nós vamos ver. Você espera por uma liderança que reconheça o problema. A América é rica, temos tudo a nosso favor, mas isso não quer dizer que podemos simplesmente imprimir dinheiro indefinidamente."

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