Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Descrição de chapéu toda mídia

Questionado, publisher do NYT defende independência

Em entrevista à New Yorker, A. G. Sulzberger vê modelo jornalístico 'contestado de forma feroz na era Trump'

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Em menos de um mês, o publisher do New York Times, A. G. Sulzberger, fez duas intervenções no debate que tomou o jornalismo americano, sobre o fim da "objetividade". A primeira foi com artigo na CJR, revista da faculdade de jornalismo Columbia, de Nova York. Agora é uma extensa entrevista à New Yorker.

Reprodução/The New Yorker

Em janeiro, Leonard Downie Jr., ex-editor do Washington Post que atuou no caso Watergate, em estudo para a faculdade Walter Cronkite, do Arizona, havia proposto reconhecer a situação —ou seja, que a busca da objetividade acabou— para o jornalismo dos EUA iniciar o trabalho de resgate da sua credibilidade.

Já Sulzberger evita a palavra objetividade, de significado "estreito", e fala em independência, "palavra que está no testamento do meu tataravô, onde ele cobra da família que mantenha o comando do NYT". Adolph Ochs, seu tataravô, comprou o jornal em 1896 e o "refundou" com o "compromisso da imparcialidade".

A imprensa era "partisan", tomava partido, e a família teria mudado a história do jornalismo, diz Sulzberger. "Pode-se argumentar que isso colocou o jornalismo americano numa nova direção. Esse modelo se tornou o padrão. Nos últimos cinco ou seis anos, na era Trump, vi esse modelo ser contestado de forma feroz."

David Remnick, editor da New Yorker, o questiona seguidamente. Com uma pergunta, sobretudo: "Walter Lippmann [de 'Opinião Pública', 1922] defendeu que os jornalistas não devem servir a uma causa, por melhor que ela seja. O NYT deveria estar servindo à causa da democracia liberal, que está agora ameaçada?".

Acrescenta: "Como isso se alinha com o que você está dizendo?". Ou seja, pergunta se servir à causa da democracia liberal, ameaçada "aqui e no exterior", não contradiz o princípio de ser independente. Sulzberger evita responder, contorna, Remnick insiste: "E aí, o NYT é pró-democracia?". E ouve, por fim: "É claro".

Em seguida, porém, diz Sulzberger: "O NYT serve à causa da verdade. Um público informado é o ingrediente mais importante numa democracia. Acreditamos que uma base comum de fatos é o ingrediente mais importante. O desafio não está na pergunta principal. Ele vem nas perguntas que vêm abaixo dela."

Remnick: "Querendo dizer o quê?". Sulzberger: "Quais perguntas estão por trás disso. Se você é um democrata e acredita que Trump representa uma ameaça à democracia, então é antidemocrático para um veículo como o seu, David, levantar questões sobre as ações, a conduta ou a aptidão do presidente Biden?".

Remnick não comenta e segue questionando. Mais à frente, pergunta, citando um ex-ombudsman do NYT, cargo hoje fechado: "Por que não sair do armário e admitir que é um jornal liberal?". Sulzberger: "'Sair do armário' sugere que nós estamos escondendo algo. Acho que a premissa simplesmente não é verdadeira".

Questionado sobre a falta de confiança, o publisher diz: "Nós vimos que algumas coisas motivam isso. Sejamos absolutamente claros: o ex-presidente dos Estados Unidos passou sete anos dizendo ao público não só para desconfiar de nós, mas que somos inimigos do povo, que nosso trabalho é falso, fabricado".

Sobre ter demitido James Bennet, editor das páginas de opinião, após ele publicar artigo de um senador pró-Trump questionado pela Redação: "É claro que o princípio [da independência] importa. Mas o processo importa, a execução importa. Esse artigo foi publicado apressadamente e isso ficou evidente".

Sobre contratar um colunista pró-Trump: "É uma pergunta realmente capciosa. É mais difícil do que você imagina achar um trumpista que não tenha dito, em algum momento, 'a eleição foi fraudada'. Independência não é 'doisladismo'. Nós não teremos ninguém com histórico de dizer coisas que não são verdadeiras".

Foi assim intermitentemente até o final, quando Remnick lembrou ter começado com Leonard Downie Jr., que hoje defende abandonar a objetividade, mas então evitava até votar, para se manter independente. Perguntou se Sulzberger poderia se reconhecer pró-Partido Democrata e ainda assim ser independente.

Resposta: "As nações ocidentais querem que a Cruz Vermelha declare uma lealdade no conflito [Rússia-Ucrânia]. Eles querem que a Cruz Vermelha diga que a Ucrânia está certa. A Cruz Vermelha está teimosamente afirmando que o mundo precisa de um ator independente para fazer cumprir as leis da guerra".

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