Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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Nicolás José Isola

O antissemitismo cresce no Brasil

Precisamos conversar sobre o crescimento do antissemitismo no país

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Meses atrás o presidente Lula disse: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus."

Poucos brasileiros sabem que a conexão entre o povo judeu e o Brasil é muito antiga. De fato, a primeira e mais antiga comunidade judaica da América foi estabelecida no Brasil, onde os judeus sefarditas fundaram a primeira sinagoga em Recife, em 1636.

Famílias de refugiados judeus da Iugoslávia vieram para a Albânia escapando do Holocausto
Famílias de refugiados judeus da Iugoslávia vieram para a Albânia escapando do Holocausto - Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos

A Kahal Zur Israel (Congregação Rochedo de Israel) foi a primeira sinagoga das Américas. Funcionou em Pernambuco durante o período de dominação holandesa (1630 a 1657). Durante esse período, emigraram para o Recife milhares de judeus sefarditas de origem portuguesa, refugiados nos Países Baixos, que vieram para a então colônia holandesa atraídos pela liberdade de culto religioso.

A comparação do presidente Lula foi um indicador inestimável de que uma parte da sociedade brasileira está sendo levada para um olhar pró-palestino cego, sem muita dimensão do que acontece em termos da violência física e simbólica naquele país, onde os direitos não são humanos.

O dia 7 de outubro de 2023, mulheres foram estupradas, crianças mortas, bebês sequestrados e a arrepiante lista poderia continuar. Falas como a do presidente Lula foram só gasolina jogada em cima do fogo.

Tem-se estendido uma narrativa superficial que não tem muito interesse em aprofundar no que Hamas é e representa, e quanto a violência daquele grupo tem se capilarizado na educação da sociedade palestina. Também não há muito interesse em entender que, nos bastidores, o grupo Hamas está ligado aos piores eixos do terrorismo internacional. Israel desejaria que a Palestina fosse uma democracia. Palestina deseja que Israel desapareça.

Porém, desculpas, não é esse o assunto desta coluna. Trata-se, sem nenhuma dúvida, de um conflito antigo e complexo com muitas variáveis em jogo.

Os dados têm mostrado que o antissemitismo cresceu (e muito) no Brasil depois da invasão de Hamas sobre o território de Israel. Só no mês seguinte ao ataque do 7 de outubro de Hamas, os casos de antissemitismo no Brasil cresceram mais de dez vezes conforme relatório da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Naquele mês, a organização detectou 467 casos de mensagens em redes sociais ou eventos públicos ofensivos ao povo judeu, ante 44 ocorridos no mesmo período de 2022, um aumento de 961%.

Precisamos de espaços para conversar sobre o antissemitismo crescente no país. No mundo corporativo existem algumas iniciativas na região para tentar gerar conversações sobre o antissemitismo. Um exemplo disso é a JAE3, Rede de Empresários, Executivos e Empresários Judeus Argentinos, criada por um grupo de executivos e empreendedores. Trata-se de um espaço apolítico e não-religioso de luta contra o antissemitismo com o objetivo de trabalhar por um mundo tolerante, diverso, inclusivo e democrático na sociedade e representar os membros da comunidade judaica na Argentina e sua identidade.

Hoje abriga mais de 500 líderes argentinos, judeus e não-judeus, unidos para trabalhar por esta causa naquele país. Entre os fundadores estão Diego Bekerman (GM LATAM Microsoft), Verónica Cheja (Urban Grupo), Carolina Zang (Zang, Bergel y Viñes), Valeria Abadi (Globant), Ezequiel Herzsage (IRSA), Diego Yanni (Accenture) e Mariano Filarent (Meta).

A degradação das sociedades é paulatina. Como a rede JAE3, necessitamos de outros espaços de reflexão e visualização deste fenômeno de ódio social. Precisamos estar atentos e conversar sobre o crescimento do antissemitismo no Brasil. Por quê? Muito simples, porque calar não é uma alternativa.

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