Nina Horta

Escritora e colunista de gastronomia, formada em educação pela USP.

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Nina Horta

Pouco se sabe sobre a gastronomia australiana

Em livro, foodie Cherry Ripe fala sobre jabuticabas, goiabas e comida oriental

1. Cherry Ripe, nome de mulher de cabaré antigo, mas uma das únicas foodies australianas, ótima escritora, se dedicava mais a jornais. Pouca gente a conhece, pena. O livro é "Ripe Enough?".

2. Acho que a vi em Oxford, nos saudosos simpósios comandados por Alan Davidson, este também um homem apaixonante.

3. Ninguém falava muito sobre a comida australiana e ainda ouço pouco sobre o assunto. Cherry Ripe estava sendo introduzida a exotismos. Comida asiática nos anos 1980, molho de soja e de peixe, leite de coco. Anos 1990. A discussão era o que se podia chamar de fusion ou não. Ela dizia que tudo era fusion, até torta de batatas com carne, da Inglaterra. E havia de tudo na Austrália. Mesmo jabuticaba. Brilhantes e negras, dizia ela, do tamanho de cerejas e roxo-negro, maduras. Suas cascas que muita gente acha amargas são mais espessas do que as de um tomate-cereja. Gosto de comê-las fazendo um buraquinho e chupando o suco delicioso e branco com a polpa branca também, e cuspindo a pequena semente preta. É nativa do Brasil e cresce bizarramente direto do tronco da pequena árvore.

Lichias, mangas, sapotis, era tudo uma novidade e um paraíso. Abio, sapoti, quem diria?

E a jaca? Gostava dela cozida em leite de coco ou numa calda com açafrão.

Galhos de árvore de jabuticaba
Árvore de jabuticaba - Eduardo Knapp - 6.out.2016/Folhapress

4. A papaia tinha que ser firme, com a casca esverdeada. Pode ser comida ralada com manga verde, numa salada, mas a fruta tinha que estar dura. Bom para se comer com peixe grelhado ou mesmo com rolinhos vietnamitas.

Receita: 3 colheres de suco de limão

1 colher de nam – pla ou molho de peixe tailandês.

1 colher de açúcar

500 g de papaia verde, ralada finamente

2 colheres (chá) de gengibre ralado

2 dentes de alho, socados

2 pimentinhas vermelhas, fatiadas. (menos, se preferir)

Misture o caldo do limão, molho de ostra e açúcar muito bem. Junte a papaia, o gengibre, o alho e a pimenta. Enfeite com amendoim. Serve 8 pessoas, como acompanhamento.

Eram assim os australianos nos anos 1990...

5. Sem contar as goiabas, o maracujá, o sapoti. E teimava que não fora a maçã a fruta do bem e do mal, e sim o mangostão. Descreve com carinho o caqui duro, chocolate, e avisa que é preciso conhecê-lo para saber comê-lo sem cica, docinho e gostoso. Enlouqueceram com a manga.

6. Enfim, via-se que a Austrália não tinha uma identidade culinária muito forte e passavam, como nós passamos, pela comida alheia vendo o que lhes apetecia. Experimentaram risoto, tomate seco, polenta, macarrão de todos os jeitos, azeites, azeitonas.

7. Parece que gostavam mais da comida oriental e chegaram à conclusão que a comida vietnamita era mais saudável do que a tailandesa, resumindo tudo num ditado vietnamita: “Uma refeição sem verduras é como uma discussão sem argumentos.”

Um pacote de papel de arroz

Coração de alface

Cenoura ralada

Frango desfiado ou camarão cozido

Cebolinha verde em pedacinhos

Folhas de coentro

Molho de peixe como dip.

Coloque um pedaço de folha de arroz umedecida num prato. Recheie com a grossura de uma salsicha para o rolinho não arrebentar. Não deixe aberto, ponha as pontas para dentro. Cubra com pano úmido até a hora de servir. Misture ao molho de peixe, como dip, pimenta vermelha, alho e um limão. Sirva com uma salada.

8. Parágrafo que não tem nada a ver. Quem ainda não assistiu a Tatá Werneck como entrevistadora? É a pimenta vermelha que falta a alguns molhos. Muuuuito boa.

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