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Com 'olimpistas', Brasil mostrou ao mundo e a si a potência criativa que é
Danilo Verpa/Nopp | ||
Avião 14 Bis durante a Abertura da Olimpíada Rio 2016 realizada no Estádio do Maracanã |
De tempos em tempos, ao longo da história do Brasil, um grupo de brasileiros se reúne para fazer algo inusitado, fora da curva, algo que surpreende e reafirma o Brasil perante o Brasil, nos lembrando a todos a vocação de grandeza que esse país tem.
Foram assim os modernistas na Semana de Arte Moderna de 1922, os tropicalistas na década de 1960 e, recentemente, os "olimpistas", como batizei o grupo de produtores criativos, artistas e intelectuais que surpreenderam o mundo e o próprio Brasil com as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
Quando a grande maioria de nós esperava pouco ou quase nada das cerimônias de abertura dos Jogos de 2016, eles encantaram o mundo graças ao talento e à paixão de Fernando Meirelles, Andrucha Waddington, Daniela Thomas, Rosa Magalhães, Marcelo Rubens Paiva, Vik Muniz, Fred Gelli, Flávio Machado e outros tantos talentos.
Sob a batuta de Abel Gomes, eles produziram cerimônias de abertura do nosso jeito. E fomos campeões porque não quisemos ser os Estados Unidos ou a China ou o Reino Unido, por exemplo. Fomos lindos porque fomos nós mesmos.
Atolado numa dura crise e cheio de motivos para não acreditar em si, o Brasil mostrou ao mundo e sobretudo a si mesmo a potência criativa que é, que somos. O Brasil pode ser um "soft power" e se projetar no mundo não apenas com nossas commodities.
A propaganda brasileira, por exemplo, conquista todos os principais prêmios mundiais porque ela espelha a criatividade atávica do Brasil. Nosso cinema, nossa arquitetura, nossa literatura, nossas artes plásticas, nossa música são exemplos continuados desse "Brasilzão" que conquista o mundo quando joga o seu próprio jogo bonito.
A feiura de nossa desigualdade social e nossos desatinos políticos fazem esse Brasil talentoso descrer de si mesmo. Aí a bossa nova vai lá e pimba! Faz o país voltar a acreditar que pode ser ele mesmo, mas de um jeito diferente, como João Gilberto.
Não estou aqui defendendo que o Brasil fique sempre querendo inventar a roda, pelo contrário. Tem muitas áreas em que o Brasil economizaria tempo e dinheiro copiando o que dá certo nos países mais desenvolvidos do mundo.
O Brasil oscila entre o complexo de superioridade, que é querer fazer tudo do jeito dele, e o complexo de vira-lata, o nosso complexo de inferioridade de descrer mesmo de áreas em que somos muito fortes, descrer de nossas próprias virtudes.
Como na propaganda de Marcelo Serpa e Washington Olivetto, ou no design de Fred Gelli, que deu um banho de talento no design da Rio- 2016, para ficar em duas áreas nas quais o Brasil tem excelência mundial e não precisa ficar copiando ninguém.
O Rio de Janeiro que encantou o mundo tem design de Oscar Niemeyer, paisagismo de Burle Marx e a vida criativa, risonha e original dos cariocas. O povo carioca foi medalha de ouro em hospitalidade, porque recebeu do jeito dele, do jeito carioca.
É isso que o Brasil, se quiser ser uma potência e se afirmar com o seu "soft power", tem que entender e não pode esquecer.
Os "olimpistas" das cerimônias de 2016 nos levaram ao céu no Maracanã. Eles nos lembraram que, para ganhar e encantar o mundo, a receita, pelo menos na área de marketing e cultura, é ser apenas o que a gente é e pronto, porque aí a gente é "bão" como Guimarães Rosa.
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