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Reality show nas alturas

Prova de corrida na montanha: gincana maluca ou desafio só para as lendas?

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Se corrida é prazer, e vice-versa, como demonstrado sobejamente aqui, correr na natureza, especialmente na montanha, com seus miradouros e belvederes, é prazer elevado à enésima potência. Sugiro aproveitar o dia livre e o sol de verão de outono deste feriado de 1º de maio para colocar a premissa à prova.

Se o leitor está em São Paulo, vale o pequeno esforço para ir à Cantareira, à Serra do Mar, ao Cinturão Verde ou à surreal paisagem do Rodoanel Norte, que, como na música, ainda não é construção e já é ruína.

Caso não se trate de uma corrida descompromissada na montanha, mas de uma prova de corrida na montanha, uma prova de aventura, no jargão, aí a coisa pode mudar bastante de figura.

Algumas dessas provas não prezam exatamente pelo limite de inscrições, e é bastante comum formar-se uma fila indiana de dezenas, centenas de corredores já na primeira pirambeira.

É que alguns desses eventos, no afã de oferecer uma experiência mais intensa para o cliente, não economizam nos singletracks, as trilhas pelas quais só passam, quando muito, cabras.

Ultrapassagem ali é um feito, até para os experientes.

Mesmo bastante longe das grandes altitudes, uma prova lindíssima, o Desafio 28 Praias de Ubatuba, que quando eu corri ainda era disputado na primavera, também é pródiga em formar essas filas dignas de uma foto de Sebastião Salgado. A coisa para mim começou complicada logo na partida dos meus 21K, no riozinho do canto direito de Itamambuca, quando à muvuca da "meia" se juntou a rapaziada que disputava a maratona "full".

Corredora na prova Desafio 28 Praias, em Ubatuba
Corredora na prova Desafio 28 Praias, em Ubatuba (SP) - Hernán Reig

Havia chovido cães e gatos de madrugada, e logo era preciso enfrentar um trecho de singletrack com direito a segurar em corda para prosseguir. A imigração em Nova York talvez fosse mais rápida.

(Não ajudou nada ter nos pés um clássico do minimalismo, um Nike Free primeira edição, drop 3 milímetros, coisa finíssima, mas totalmente inadequado para a lança.)

Corredores durante a prova Desafio 28 Praias, em Ubatuba
Corredores durante a prova Desafio 28 Praias, em Ubatuba (SP) - Hernán Reig

Nem todas as provas de montanha são experiências dignas de um reality show. As provas proprietárias da Mizuno organizadas na Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, tinham grande estrutura e se serviam sempre das estradas de asfalto entre Treviso, na vizinhança de Criciúma, e Bom Jardim da Serra, o destino final, a quase 1 500 metros de altitude.

As SCs eram interditadas para o evento.

Paulo Vieira, da coluna No Corre, ao completar a prova na Serra do Rio do Rastro
O colunista ao completar a prova na Serra do Rio do Rastro (SC) - Arquivo pessoal

Ali, o que pegava mesmo para mim eram os slogans motivacionais, a alusão à dificuldade topográfica do evento que "só os fortes", "só os ninjas", "só as lendas" eram capazes de transpor, ainda que não houvesse um mísero singletrack para vencer ou uma cordinha para puxar.

Pior ainda era o erro de concordância expresso em cartazes e outras peças de mídia OOH: "Aqui se fabrica lendas."

Lembro de ter comentado nas redes sociais, mas a adesão foi baixa.

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