Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nosso estranho amor
Descrição de chapéu casamento

Ari & Paula: o pedido de casamento antes do primeiro beijo

Donald Trump havia sido eleito presidente em 2016 com promessas de deportar estrangeiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

'Se você precisar, eu me caso com você'

Era 9 de setembro de 2017 quando a brasileira Paula Schoenau ouviu a frase de um colega de trabalho numa clínica que oferece acompanhamento psicológico gratuito na cidade americana de Richmond, onde ela mora desde 2014, quando saiu de Curitiba para os EUA. A voz que emitiu a frase era de Ari Laoch, um americano ruivo, gentil e tatuado, e os dois só tinham se cruzado um punhado de vezes. Conversado a valer, tinha sido só uma, na reunião que acabara de acabar. Nunca tinham sequer se beijado.

A clínica Health Brigade atende pessoas trans, como o próprio Ari, e imigrantes, como a própria Paula, entre outros grupos. Ele era um dos poucos psicólogos contratados do lugar. Ela era uma estagiária nos últimos semestres do mestrado em psicologia. Os dois talvez fossem trabalhar juntos em um novo grupo de apoio, e por isso tinham se reunido.

Antes do pedido de casamento, ele havia feito perguntas como: “Como estão as coisas? Você se sente segura com esse governo no poder?”. Donald Trump havia sido eleito presidente em 2016 com promessas de deportar estrangeiros e dificultar a obtenção de cidadania americana. “Isso não me afeta, acho”, respondeu Paula, que tinha visto de estudante.

Duas horas depois que ela saiu da reunião, ele mandou uma mensagem: “Era sério. Eu me casaria com você.” Ela começou a desconfiar que poderia ser verdade, por mais que fosse absurdo, e escreveu de volta: “Mas não seria melhor a gente ter um encontro antes?” Ele topou. Marcaram o primeiro encontro para dois dias depois do pedido de casamento.

Noivos que estão fazendo aulas para apresentarem uma 'dança surpresa' no casamento - Christian von Ameln/Folhapress

Por coincidência, ela tinha naquele fim de semana o lugar ideal: estava cuidando dos cachorros de uma família milionária, que morava à beira de um lago e que deixava a casa à disposição de Paula quando viajavam de férias.

Em 11 de setembro, ele foi almoçar na mansão onde ela ficava de babá canina. “Eu cozinhei. A gente conversou.” Conversaram um tanto, por 15 horas seguidas. “A gente nem falou do pedido.” Quando se deram conta, o sol tinha se posto. Eram dez da noite, e ele rompeu o silêncio: “Eu estava falando sério sobre casamento.” Paula respondeu com sinceridade. “Ari, desde 2014 eu moro neste país. Outros homens já se ofereceram. No momento em que nosso relacionamento acabar, você vai querer se divorciar de mim, e eu não posso passar por isso.” O medo dela não era só da dor, mas também de uma deportação.

Ari diz que o pedido de casamento a uma mulher em quem nunca tinha encostado era mais lógico do que impulsivo. “Tinha uma atração intelectual. Eu acho a Paula esteticamente agradável, mas também tem uma preocupação de ser um ser humano maravilhoso que vai ter de enfrentar empecilhos injustos”. Para ele, aquelas horas de conversa já bastavam. “Por que a gente tem que experimentar uma coisa várias vezes antes de se dar conta de que gosta dela? Eu gosto da Paula. E soube rápido que nela teria uma companheira, atração e compaixão.”

Ari foi embora do primeiro ‘date’ às seis da manhã do domingo. “A gente nem transou”, diz Paula. No dia seguinte, uma segunda, ele pediu a mão dela em casamento à sua mãe, que voltaria para o Brasil horas depois. A mãe deu sua bênção e partiu na terça. Na sexta, foram cuidar da papelada na prefeitura. Na sexta seguinte, se casaram, sem que ninguém do trabalho soubesse.

Se alguém pergunta a Ari se o casamento foi um impulso, ele responde de pronto: “Qual é o risco que eu estou correndo aqui? De ter o coração partido de novo? Por que não? Eu não queria que a Paula fosse embora.”

Mas Paula não foi embora. Em vez disso, os dois partiram para uma lua de mel em uma casa de campo, na primeira viagem juntos. E os meses que se seguiram foram uma série de primeiras vezes. “A gente namorou depois do casamento”, diz ela.

Ari Laoch, 45, e Paula Schoenau Laoch, 42, estão casados há quatro anos. E também namoram há exatos quatro anos. Se vai ser para sempre, nenhum dos dois sabe, nem garante. Mas Paula mostra a tatuagem que ambos carregam no antebraço. O horizonte de uma cidade que, vista por um ângulo é Richmond, na Virginia, e vista de ponta-cabeça é Curitiba.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.