Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

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John e Melissa: Luigi e Princesa zeram o jogo

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São Paulo

Na manhã da última segunda-feira, dia 3 de abril, os portões da Universal Hollywood se abriram pouco antes das 8h, horário em que o parque de diversões teoricamente começa a funcionar.

E entre as primeiras pessoas que entraram às centenas, como uma manada ordenada, estavam John e Melissa. Ou devo dizer Luigi e Princesa? Para eles, tanto faz, até porque os dois estavam fantasiados desses personagens do videogame Super Mario. John estava com um macacão jeans em cima de uma blusa verde, uma boina da mesma cor com a letra L bordada em feltro na frente, e um vasto bigode postiço. Melissa estava com um vestido bufante cor-de-rosa e luvas brancas que iam até o cotovelo, além de uma peruca loira e generosa de cabelos sintéticos ("Até fazem de cabelo humano, mas custa mais de mil dólares", ela me explicou).

John e Melissa: Luigi e Princesa zeram o jogo
John e Melissa: Luigi e Princesa zeram o jogo - Chico Felitti/Folhapress

John e Melissa estavam ali para ter o casamento que lhes foi negado. É que o parque de diversões abriu um novo brinquedo, em que frequentadores podem jogar em carne e osso Mario Kart, um jogo da franquia em que os personagens correm de kart enquanto jogam cascos de tartarugas uns nos outros e deixam cascas de banana na pista.

O casal correu da entrada do parque para a Mariolândia, que fica nos fundos do terreno. "A gente sempre sonhou com esse dia", diz John, enquanto saltita como o personagem de quem está fantasiado. E foram cinco anos de sonho. Os dois se conheceram em um fórum virtual de fãs do videogame. Ele era um pós-adolescente de 21 anos que trabalhava num fast food de burritos em San Diego na Califórnia. Ela era uma empresária, que tinha um salão de manicure em Nova York e dez anos a mais do que ele. O que, para ele, contava como superpoder. "Eu sempre gostei de mulheres mais velhas. Quando apareceu aquele mulherão, que tinha os mesmos interesses que eu, e ainda queria falar comigo, eu fiquei assim", e ele abre a boca em surpresa, enquanto espera para descer uma escada rolante em direção ao brinquedo.

Depois de três meses de mensagens que varavam a madrugada, John resolveu se mudar para estar perto de Melissa. "Ele não me perguntou nem me avisou. Simplesmente mandou uma mensagem numa terça de noite, dizendo ‘Eu estou em Nova York’." Os dois foram morar juntos. E ela achou que a presença de um segundo jogador na sua vida seria a chance para passar para a próxima fase: resolveu abrir uma filial do seu salão, porque agora tinha quem a gerenciasse.

"Daí veio a pandemia, os dois salões ficaram meses fechados e a gente casou pra que ele tivesse direito a meu plano de saúde", conta ela. "Foi tudo muito acelerado, mas hoje vejo que foi a coisa certa." Além de não ter festa, os dois mal contaram para os amigos e para a família que iam juntar os sobrenomes. "Primeiro que não era um momento de comemoração, com tudo o que estava acontecendo no mundo", diz ele. "Segundo que a gente ia querer uma festa com tema de Mario, e ninguém ia entender", diz ela. Então, se casaram na surdina e seguiram o jogo.

Mas, quando meses atrás souberam que o mecânico de macacão vermelho ia ganhar um parque temático só para ele, decidiram que era a hora de celebrar o casamento. Mandaram fazer as fantasias e reservaram um hotel em Los Angeles. E é neste momento que os encontramos, prestes a conhecer a Mariolândia na manhã da segunda passada. Só que muita gente teve a mesma ideia, tirando o casamento: o parque já amanhece apinhado.

Após três horas na fila, John e Melissa chegam ao brinquedo de Mário. Colocam os óculos virtuais que vão servir para eles verem os inimigos, enquanto atiram cascos de tartarugas. E… o brinquedo enguiça. A música para, os carrinhos atolam e a ilusão do universo de Mário morre. Depois de 20 minutos de problemas técnicos, saem de lá de dentro sem ter jogado direito. Em vez de chorar ou se frustrar, Melissa vê nisso um sinal. "It’s hard, but this is not game over!", ou, "É díficil, mas esse não é o fim do jogo".

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