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Leandro Beguoci é diretor editorial de Nova Escola (novaescola.org.br). Ele explica sobre o que funciona (e o que não funciona) na educação brasileira.

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A Amazônia precisa de livro e escola, não de garimpo e motosserra

Desenvolver a região passa pelo investimento maciço em educação

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A Amazônia possui alguns dos piores índices educacionais do país. Apenas 18% das crianças de 0 a 3 anos estão em creches –a média de todos os estados da federação é de 34%, o que não é grande coisa.

O Norte também é lanterninha em acesso à pré-escola e em número de jovens que concluem o ensino fundamental. Com raras exceções, as pessoas que vivem do Acre ao Pará, de Rondônia ao Amapá, têm menos oportunidades de aprender e crescer do que seus compatriotas linha do Equador abaixo.

Alunos de escola municipal flutuante na zona rural de Manaus
Alunos de escola municipal flutuante na zona rural de Manaus - Bruno Kelli - 18.jun.15/Reuters

Obviamente, a geografia tem um papel nisso. É difícil levar professores para as escolas do interior e ainda mais difícil manter uma infraestrutura decente de aprendizado. Já fiz muitas viagens pelo norte brasileiro, especialmente no Pará. Qualquer problema simples de resolver em São Paulo ganha muitas camadas de complexidade em Altamira —da merenda ao transporte das crianças. Formação e retenção de professores, então... É um desafio e tanto.

Com as recentes queimadas na região e a crise diplomática que se abriu, o desenvolvimento da Amazônia voltou ao debate público. O ministro do meio ambiente declarou que a população precisa ter acesso às mesmas oportunidades que o resto do país. Difícil discordar dessa afirmação. A questão é que ela mais esconde do que revela. 

O que a gente está chamando de oportunidade e de desenvolvimento? As propostas são vagas. Quando ganham alguma concretude, geralmente em declarações bolsonáricas, falam de garimpo, mineração e agricultura. 

Poucas vezes se ouviu falar de indústria farmacêutica ou de cosméticos, para ficar em exemplos que atravessam a fronteira do óbvio ululante. O modelo de desenvolvimento que sai dos acidentes declaratórios cometidos pelo Palácio do Planalto reforça, na ampla maioria das vezes, o mesmo padrão de desenvolvimento que legou ao norte brasileiro renda baixa, desmatamento em alta e renda sofrível. Difícil imaginar que a repetição vai dar em algo novo. 

Obviamente, há pessoas desesperadas que precisam do garimpo ou da pecuária de baixa produtividade para viver. Mas é difícil imaginar que essas pessoas queiram viver dessas atividades para sempre —ou que queiram o mesmo destino para os filhos. Quando há oportunidades, as pessoas se dão o direito de sonhar mais alto, inclusive com a universidade. Ao dizer “continuem fazendo o que sempre fizeram”, o Brasil incentiva as pessoas a viver no mesmo ciclo de miséria legado pelas ocupações desastradas na região —especialmente as cometidas no governo Vargas e no período militar. 

Uma das maiores contribuições ao desenvolvimento local seria um investimento maciço em educação. É o modelo, aliás, que vários estados do Nordeste já adotaram, como Ceará, Pernambuco e Paraíba. Com clareza política e apoio de organizações da sociedade civil (há o dobro de ONGs no Nordeste do que no Norte), tem havido um crescimento relevante de qualidade da Bahia para cima.

Pernambuco virou referência em ensino médio e o Ceará, especialmente Sobral, nas etapas do ensino fundamental. Há, ali, uma aposta de longo prazo e há disposição para mudar realmente o modelo de desenvolvimento econômico. Óbvio, a educação não resolve tudo —mas dá uma bela ajuda. 

A floresta de pé é essencial não só para a saúde do planeta mas também para o futuro dos milhões de brasileiros que vivem ali. É possível investir nas crianças e adolescentes de Roraima, Amapá e Rondônia, é viável apostar nos adolescentes do Acre, Amazonas, Pará e Tocantins. Porém, não será destruindo um dos maiores ativos dessas pessoas, a biodiversidade, que as oportunidades virão. Sem a floresta, a Amazônia será só uma savana pobre —e basta ver quão poucas oportunidades existem em regiões de deserto, sem petróleo, como a África subsaariana. 

Se o Brasil quiser realmente apostar nas pessoas do Norte, livros deveriam vir antes de motosserras. A ciência deveria vir antes do machado. Aliás, é o que a França faz na Guiana Francesa

Além do dinheiro dos europeus, o Brasil deveria pedir lições sobre o que eles fazem com a sua porção de floresta na fronteira com o Amapá. A Guiana francesa tem educação universal para todas as suas crianças e adolescentes... e um dos maiores percentuais de preservação da floresta na região. Existem bons modelos —mas antes deve vir a disposição de aprender.

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