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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Presidente do BB critica instinto intervencionista e diz que recuperação da economia tem o formato do símbolo da Nike

Rubem Novaes diz que há sempre saudosistas do que já houve de pior em termos de política econômica

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Instintos Um dos liberais que ingressaram no governo Bolsonaro com Paulo Guedes, Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, critica quem defende o aumento de gastos públicos para dar o arranque na economia pós-pandemia. "Sempre que há uma forte crise, os piores instintos intervencionistas se assanham", disse. "Reflexos negativos óbvios apareceriam no câmbio, nos juros e na confiança empresarial. Alguns irresponsáveis falam em romper o teto dos gastos. Seria um desastre total!"

Frentes A crítica ocorre em meio a um debate entre economistas sobre qual deve ser o papel do Estado na crise provocada pelo coronavírus. A discussão é travada também dentro do governo --uma ala defende a ampliação dos gastos estatais no programa Pró-Brasil, cujo porta-voz é Braga Netto (Casa Civil).

Retrovisor "Há sempre economistas saudosistas do que tivemos de pior em termos de política econômica. Não aprenderam que a expansão do Estado, normalmente acompanhada de muita corrupção, foi a causa preponderante de seguidas décadas com relativa estagnação", afirmou Novaes ao Painel.

Raiz Em sua opinião, o governo deve "cuidar das emergências e atrapalhar pouco na retomada. O Estado não é solução. É o problema".

O presidente Banco do Brasil, Rubem Novaes
O presidente Banco do Brasil, Rubem Novaes - Amanda Perobelli/REUTERS

Libera O executivo observa que as projeções indicam que o PIB pode cair até 5% neste ano, mas pode piorar a depender do tempo de quarentena --Novaes é favorável ao "isolamento seletivo". "Sabe aquele símbolo da Nike? É como vejo o formato de nossa recuperação a partir da liberação da produção e do comércio."​

Veja a íntegra da entrevista concedida nesta segunda (27), por e-mail, por condição imposta do entrevistado.

É possível saber qual será o tamanho da recessão no Brasil neste ano?
Ainda há muita indefinição, pois dependemos da difusão do vírus e das medidas dos governantes relativas ao isolamento social. Projeções para o crescimento do PIB variam de -2 a -5%. Esperamos que o bom senso prevaleça e possamos caminhar rapidamente para um isolamento seletivo.

Que medidas econômicas podem atenuar essa recessão? Essas medidas já foram todas colocadas em prática?
O Banco Central agiu rápido garantindo liquidez ao sistema financeiro. Os bancos prorrogaram de imediato prestações a vencer e estão incrementando o crédito para sua clientela. E o Ministério da Economia fez deslanchar um poderoso arsenal de medidas econômicas visando proteger os mais desfavorecidos e manter saudável o aparelho produtivo. Poucos países fizeram tanto e tão rápido para atenuar os efeitos da crise.

Há medidas que podem ser acionadas adicionalmente, caso a economia piore além do que está no radar? Quais?
Dificilmente a economia vai piorar além do que está no radar. Só mesmo se governadores e prefeitos mostrarem total insensibilidade com relação ao desemprego e ao fechamento de empresas, o que não deverá acontecer. Sabe aquele símbolo da Nike? É como vejo o formato de nossa recuperação econômica a partir da liberação da produção e do comércio.

Há economistas que defendem hoje que seria necessário o Brasil ampliar o investimento e os gastos públicos para dar um arranque na economia após a pandemia. Como avalia?
Há sempre economistas saudosistas do que tivemos de pior em termos de política econômica. Não aprenderam que a expansão do Estado, normalmente acompanhada de muita corrupção, foi a causa preponderante de seguidas décadas com relativa estagnação. Não conseguem perceber que a confiança na higidez das contas públicas e a criação de um ambiente favorável ao investimento privado são as verdadeiras causas de um crescimento saudável e consistente.

Qual seria a resposta liberal "puro-sangue" para uma crise como a que vivemos?
Impedir que as medidas fiscais emergenciais de agora contaminem o orçamento futuro, acelerar reformas e privatizações, reduzir impostos e despesas permanentes e criar um arcabouço regulatório simples e estável. Queremos um Estado enxuto e previsível. Sem isso, não vemos solução.

Não é otimismo acreditar que o investidor privado irá aplicar em concessões ou obras no momento em que a economia global mergulha em recessão?
Realmente temos alguns potenciais investidores fortemente atingidos pela crise. Vejam o caso Boeing/Embraer, por exemplo. Mas, por outro lado, há uma expressiva liquidez no mundo em busca de retornos seguros. A Infraestrutura brasileira pode se transformar numa grande fronteira de investimentos em futuro próximo. É só caprichar no marco legal e mostrar responsabilidade na condução da economia.

Qual deve ser o papel do Estado nesta crise?
Cuidar das emergências e atrapalhar pouco na retomada. O Estado não é solução. É o problema.

Quais riscos o sr vê caso o Brasil decida ampliar gastos públicos para enfrentar a recessão?
Sempre que há uma forte crise, os piores instintos intervencionistas se assanham. Com a ampliação de gastos públicos não emergenciais, iríamos jogar fora toda a credibilidade duramente conquistada. Reflexos negativos óbvios apareceriam no câmbio, nos juros e na confiança empresarial. Alguns irresponsáveis falam em romper o teto dos gastos. Seria um desastre total!

Faz referência ao plano Pró-Brasil?
Ao espírito de ampliar gastos públicos não emergenciais.

Na sua opinião, qual papel devem desempenhar os bancos estatais na atual crise?
A Caixa Econômica tem mostrado um desempenho excepcional ao cuidar dos mais desprotegidos. É o Banco Social do governo, por excelência. O BNDES também está ativo em programas fundamentais como o FOPAS, voltado ao crédito para cobrir folhas de pagamento e procura coordenar os bancos privados no apoio aos grandes setores críticos. Em condições normais, o Banco ocupa-se fundamentalmente do desenvolvimento econômico. O Banco do Brasil tem características diversas dos outros por não ser um banco público puro sangue. Sendo empresa de capital aberto, com praticamente 50% do capital em mãos privadas, não nos cabe conceber políticas públicas. Isto, entretanto, não nos desobriga de responsabilidades neste momento. Temos plena consciência de nosso papel na sociedade, papel esse que se materializa no compromisso de apoiar substancialmente nossa clientela de pessoas físicas e jurídicas, para que estejam íntegros na retomada que se avizinha.

A agenda de reformas econômicas, de privatizações e de reforma do Estado depende do Legislativo e do Judiciário. Como avançar nessa agenda em meio ao clima de constante conflito institucional produzido pelo próprio presidente e seus seguidores quando criticam parlamentares e o STF?
Trilhar o caminho da prosperidade, com viés liberal, não pode ser vontade apenas do Executivo. As lições recentes da história demonstraram claramente o que não dá certo. Independentemente de negociações políticas, o que garantirá a comunhão de objetivos entre os três Poderes será o convencimento do que é melhor para o país.

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