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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Após 30 anos, Campos Machado troca PTB por Avante e chama Jefferson de ditador

A filiação à nova sigla ocorrerá no domingo (13) e se deve, segundo o parlamentar, ao fato de Roberto Jefferson ter se transformado em um ditador

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Brasília

Figura histórica do PTB, partido no qual militou por 30 anos, o deputado estadual Campos Machado, 81, decidiu se mudar para o Avante.

A filiação à nova sigla ocorrerá no domingo (13) e se deve, segundo o parlamentar, ao fato de Roberto Jefferson, presidente nacional do partido, ter se transformado em um “ditador”, que ele não reconhece mais.

SÃO PAULO, SP, 15.02.2019 - O deputado estadual Campos Machado (PTB) na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)
SÃO PAULO, SP, 15.02.2019 - O deputado estadual Campos Machado (PTB) na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) - Bruno Santos/Folhapress

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O que o sr fará no Avante?

Vamos assumir a presidência do diretório estadual do Avante em São Paulo, vamos transformá-lo em um grande partido. Tudo o que criei no PTB vou criar no Avante.

Como sou muito audacioso, penso em eleger três deputados federais e cinco estaduais em 2022.

Quem está deixando o PTB junto com o sr?

Nós elegemos 57 prefeitos e 47 vice-prefeitos na última eleição. Acredito que 80% venham comigo. O deputado estadual Roque Barbieri se filia junto comigo ao Avante. O ex-ministro Rogério Magri me ligou e disse que não é PTB, é Campos Machado. Nourival Silva [um dos líderes dos caminhoneiros no estado] disse que está comigo, são 550 mil caminhoneiros no estado. Marcos Costa [que concorreu a vice de Celso Russomanno], o PTB mulheres, o PTB afro, o PTB jovem... Todos os departamentos creio que se mudarão comigo. São 58 diretórios regionais que eu montei no estado, vai ser muito difícil que boa parte deles não me acompanhem.

O sr rompeu com Roberto Jefferson. Por que brigaram?

Eu não falo com o Roberto Jefferson há três meses.

Existem 2 Robertos Jeffersons. O primeiro, que eu conheci há 25 anos, meu amigo, meu irmão de fé. Eu sou leal a esse Roberto Jefferson, com quem nunca tive a menor desavença, discórdia, nada.
Mas o Roberto Jefferson que eu conheci há 3,4 meses é um ditador, de uma radicalidade incrível. É alguém que não tem nenhuma memória dos seus amigos mais leais, dos que estiveram com ele nos mais difíceis momentos.

No segundo turno da eleição, ele interveio para que o partido não apoiasse o Bruno Covas de jeito nenhum. Nesses 15 dias finais de campanha, fizemos carreatas, movimentos nas ruas só com o meu nome. Isso para mim foi a pá de cal.

No interior, as cidades tem peculiaridades, não tem linha ideológica. As pessoas querem saber quem vai calçar a rua, quem vai cuidar da saúde, coisas assim. Não pudemos lançar todos os candidatos que gostaríamos porque ele ia criar problemas na articulação. Não podia coligar nem com o DEM, nem com o PSDB, nem com o PSD, nem com outros partidos.

O Roberto Jefferson que eu conheço, meu parceiro, fui bastante leal a ele. Esse segundo é um desconhecido, não só em relação a mim mas também em relação a outros amigos. Como não temos mais nenhuma convergência, nem amizade, não tinha porque permanecer no partido.

O sr acha que o Roberto Jefferson está agindo assim por pragmatismo, para se aproximar do Bolsonaro?

Eu acho que é uma questão de ciência e de medicina. Não é possível alguém mudar tanto quanto ele mudou em tão pouco tempo. Quem o conheceu há 25 anos como eu conheci, de repente ver outro com essa postura? Quando ele vinha a São Paulo, nunca deixava de me ligar, era meu irmão. De três meses para cá, terceiros tiveram que entrar no meio para fazer a minha desfiliação. A gente não conversa mais. O outro Roberto Jefferson, para mim, está viajando pelo mundo, quem sabe ele volta um dia. Esse que está aí não é o Roberto Jefferson que eu conheço.

O sr acha que ele está mentindo? Criou um personagem?

Mentindo não, mas alguma coisa aconteceu com o meu amigo que ele se transformou nessa figura, atacando Deus e todo mundo, rompendo com os amigos mais fiéis e esqueceu o passado.

O sr não teme perder o seu mandato de deputado?

Ontem [quinta (10)], eu recebi a visita de amigos em comum e eu fiz a renúncia da comissão provisória, criada após a intervenção que ele fez no partido, e ele concordou com a minha desfiliação.

Em 2002, quando morreu o então presidente do PTB, José Carlos Martinez, fui eu quem apresentou o nome do Roberto Jefferson para a sucessão. Depois, quando ele estava preso, a Cristiane era candidata e ninguém queria. Eu convenci as pessoas que não aceitavam, abri a convenção lançando o nome dela, em homenagem à história do Roberto Jefferson. Em todos os momentos mostrei lealdade.

Por que você acha que eu sou opositor do Doria? Porque eu não concordei com o que ele fez com o Geraldo Alckmin. Dizer que não foi traição é brincadeira, traiu sim. E eu não vejo mais os alckmistas de outrora. Lealdade é fundamental na política.

Eu não tenho cargo no governo, apoiei o Celso Russomanno em razão de sermos a maior oposição ao João Agripino [ele usa o segundo nome de Doria para se referir ao governador] e o Bolsonaro decidiu apoiá-lo justamente porque sabia que faríamos oposição ao Doria. Na última hora, consultei o Marcos da Costa e ele aceitou ser vice, numa campanha em que o Republicanos não apareceu.

O PTB trabalhou mais pelo Russomanno do que o Republicanos?

Eu não vi trabalho do Republicanos na campanha do Celso, pode perguntar ao Elsinho Mouco.

E os alckmistas abandonaram o Alckmin?

Não vi nenhum deputado alckmista receber o Alckmin lá na Assembleia, só eu. Eu fiz até um acordo tácito com o PT, eu não falo do Lula e eles não falam do Geraldo.

O sr fará do Avante um partido de oposição ao Doria?

O Avante seguirá a orientação do novo líder, que tem posição firme em relação ao João Agripino. Nada impede que o Avante apresente um candidato ao governo em 2022. Eu não tenho essa pretensão, mas tem pessoas que podem aderir ao Avante com essa intenção.

O sr está indo para um partido nanico. Pretende dar alguma direção ideológica ao Avante?

O Avante tem oito deputados federais, o PTB tem 10. E o Avante acabou de eleger a prefeitura de Manaus. Não é nanico. E o presidente Luiz Tibé vai me dar total liberdade para fazer do Avante um partido forte.

O sr pretende influenciar na política nacional do Avante? Hoje, o partido apoia a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara, por exemplo.

Eu vou entrar no partido no domingo, minha preocupação é SP.

O que farão Benito Gama e Armando Monteiro [outros caciques do PTB]?

Não falamos ainda. Mas na Bahia, por exemplo, o Benito ficou chateado porque o Roberto Jefferson começou a chamar o ACM Neto de anão, criou um clima ruim, difícil e o Benito acabou saindo. Eu vou conversar com eles no fim de semana sobre a possibilidade de virem para o Avante.

O PTB fica de pé com o atual Roberto Jefferson?

Eu acho que não adianta radicalizar, xingar ministro do Supremo. Ele diz que é conservador. Espera um pouquinho. Todo mundo é conservador, no sentido de que família é família, mãe é mãe. Isso é ser conservador, agora a maneira como as coisas estão sendo levadas é um ponto fora da curva, de desequilíbrio mental total. Eu não vejo futuro neste novo PTB.

O sr vê semelhança do atual Roberto Jefferson com o Bolsonaro?

Ele está tentando de qualquer maneira se aproximar do presidente, mas até radicalismo tem limites. O presidente é inteligente e está em campanha para a reeleição. Ele não vai fazer nada que possa prejudicar a campanha dele. Se ele se uniu ao Arthur Lira, ao PP e ao Republicanos, que são de centro, acho que será mais comedido e vai procurar um partido que não seja radical para dar sustentação para ele.

O sr vê Doria como um candidato de centro contra Bolsonaro em 2022?

O Doria não é centro, não é direita, não é nada. O Doria é ele mesmo. Só pensa nele, não divide espaço com ninguém. Ele se elegeu prefeito, saiu para governador, prometeu cumprir os quatro anos, não vai cumprir. Ele está fazendo economia para fazer obras, reduzindo a aposentadoria das pessoas para fazer obras! Olha a disputa da vacina. Estão brigando pela paternidade de um filho que ainda nem nasceu.

Além disso, o Doria não está preparado para governar o país, ele é meio aloprado, precipitado e além de tudo tem só um objetivo: as eleições. Eu acho que deve surgir um nome de centro que agregue mais.

Pode ser Luciano Huck?

Desculpe a sinceridade, mas Luciano Huck está brincando de política e quem acredita que ele será candidato está sendo ingênuo demais. Ele não é da política, não tem trajetória política, nunca foi vereador. Faz teleconferência com historiador indiano, filósofo? Política é uma coisa séria e a candidatura do Huck é uma brincadeira de mau gosto.

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