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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Alta nas ações após vídeo com Thammy sinaliza valor da diversidade, diz presidente da Natura

Campanha de Dia dos Pais mostrou ator transgênero cuidando do filho em casa

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São Paulo

O resultado da campanha de Dia dos Pais da Natura neste ano foi uma surpresa, segundo João Paulo Ferreira, presidente da empresa.

Ele afirma que o filme publicitário com o ator transgênero Thammy Miranda era para ser uma apenas uma reflexão sobre a presença dos pais em casa na quarentena, mas provocou polarização, como tantas outras propagandas com protagonistas LGBT, e as ações da companhia dispararam.

Ferreira vê outros possíveis efeitos para a alta na Bolsa, mas diz que pode ser um sinal de valorização da diversidade.

“Tem, talvez, uma novidade porque, talvez, homens trans tenham aparecido menos historicamente. Então deve ter algum elemento interessante para estudar do ponto de vista sociológico nessa resposta”, afirma o executivo.

João Paulo Ferreira, presidente da Natura
João Paulo Ferreira, presidente da Natura - Divulgação

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Há um mês, o sr. foi um dos sete representantes do setor privado que se reuniram com Hamilton Mourão para levar a preocupação ambiental. Como ficou? As políticas vigentes não estão sendo efetivas. Basta ver os resultados práticos de desmatamento. Mas também é verdade que a atuação do vice-presidente tem sido no sentido de estabelecer diálogo. A interlocução tem sido boa, entretanto, ele disse que precisaria de mais tempo para definir metas.

Acho que o relógio está contando e os investidores internacionais, a economia brasileira, os empresários estão ansiosos para que essa boa vontade se transforme em programa com metas práticas.

São casos como o fundo escandinavo que excluiu o investimento na JBS?  Para não ficar do lado vazio do copo, de quem tirou, temos que pensar em quem está querendo colocar. Tem muitos fundos querendo colocar recursos no Brasil, e não estão pondo pela falta de clareza com as políticas de proteção ambiental. O Brasil tem tudo para ser líder mundial em economia de baixo carbono e bioeconomia.

Vai fazer um ano desde a queimada que anoiteceu São Paulo. Por que só agora essa resposta do governo? Estamos falando de um problema sistêmico. Precisa de ação de múltiplos atores: governo em todas as suas esferas, iniciativa privada, setores da sociedade civil, comunidades ativistas.

Cada um vem tentando estabelecer conversas. Acho que a novidade agora é a coalizão, muita gente atuando de forma coligada para tentar promover mudança sistêmica, porque as ações individualizadas estão tendo pouca eficiência.

A fala da boiada do ministro Ricardo Salles elevou a adesão dos que se preocupam com a questão ambiental?  Sem julgar o mérito exato, sem saber todos os detalhes por trás, no mínimo, a falta de clareza ou ambiguidade que transpareceu colaborou para acelerar esse movimento empresarial.

A interlocução com Mourão parece mais adequada do que com o ministro? O vice-presidente tem se mostrado muito aberto ao diálogo, conhecedor do tema amazônico e com intenções na direção correta. A questão é conseguir mobilizar os recursos para realmente fazer com que essas intenções virem resultados.

Ainda no tema ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança), a campanha da Natura de Dia dos Pais foi pensada para discutir a presença paterna em casa durante a quarentena, mas o debate foi para outro lado? Exatamente. Em meio a tantos desafios e restrições da pandemia, puxa, o aumento do convívio entre pais e filhos é um presente. O filme publicitário fala sobre disso.

Alguns influenciadores também foram chamados a dar os seus depoimentos de como está sendo viver a paternidade na pandemia. E um deles era o Thammy, que fez um depoimento muito sensível.

A polêmica se estabeleceu e mostra o reflexo da polarização, da fragmentação da sociedade. É mundial, não é só brasileiro. Nas múltiplas polarizações que vivemos, fomos pegos de surpresa com mais essa manifestação desses extremos ao redor de uma mensagem que era singela e positiva: a presença dos pais.

Não é a primeira campanha da Natura com protagonistas LGBT. Mas, desta vez, teve um reconhecimento do mercado, aparentemente, pela alta nas ações? Há mais de 20 anos a diversidade aparece na essência da Natura. Acreditamos que a diversidade enriquece o debate. Conseguimos estabelecer pontes para conectar agentes que talvez sejam antagônicos, e que sem uma facilitação não dialogariam.

A Natura promove isso porque é uma marca querida em todos os estratos sociais. Sempre fizemos isso. Foi mais uma manifestação.

Tem, talvez, uma novidade porque, talvez, homens trans tenham aparecido menos historicamente. Então, deve ter algum elemento interessante para estudar do ponto de vista sociológico nessa resposta. Mas o que nós vimos foi uma reação líquida muito positiva.

Não acredito que as ações sejam movidas só por isso. Tem outros efeitos que mobilizam o preço. Mas, de qualquer maneira, elas são orientadas ao valor futuro esperado dessa empresa. Então eu acho que é conveniente pensar que as crenças universais que a empresa defende serão cada vez mais valorizadas pela sociedade. Não é esse o único efeito que afeta o preço, mas não tenho dúvida que alguma coisa contribuiu.

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