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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Ao Vivo em Casa

Dono da Estrela prevê brinquedos mais caros no Natal

Segundo Carlos Tilkian, alta nos preços de matéria-prima deve ser repassada

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São Paulo

Carlos Tilkian, presidente da Estrela, prevê alta no preço dos brinquedos no Natal. O reflexo da pandemia sobre a produção chinesa favoreceu a fabricação do produto no Brasil, e os pedidos cresceram por aqui.

Porém, o câmbio provocou o aumento da exportação pelos fornecedores brasileiros de insumos, como plásticos e embalagens, que já começaram a faltar, segundo Tilkian. No Dia da Criança, o preço final não foi impactado pela escassez da matéria-prima, mas no Natal deve ser diferente, diz ele. ​

*

Quando a pandemia começou, em março, já se falava no impacto do câmbio. O que aconteceu desde então? Logo no início, praticamente 95% dos nossos clientes foram obrigados a fechar as portas. Isso teve um impacto muito grande para nós, não só do ponto de vista de novos pedidos e faturamentos, mas secou um pouco o recebimento porque a maior dos clientes acabou privilegiando a administração do seu próprio caixa. Não honraram os pagamentos, então, foi um momento bastante difícil para nós. Estabelecemos o comitê de crise e a estratégia de como lidar com a situação.

Isso foi até o fim de abril. A partir de maio, sentimos que as operações de ecommerce começaram a tomar um papel relevante para o setor de brinquedos. Empresas especializadas que só faziam isso, e que provavelmente tinham planos de crescer no setor de brinquedos ao longo dos três próximos anos, acabaram conseguindo este crescimento em um ou dois meses.

Em paralelo, a maioria dos nossos clientes de lojas físicas acabou abrindo algum tipo de atendimento nos meios digitais, com WhatsApp, ou site, retirando nas lojas, drive-thru de shopping. Gradativamente, a partir de maio, começamos a sentir a volta dos negócios com brinquedos no Brasil. As principais feiras desse mercado acontecem no início do ano, onde todos os importadores colocam pedidos. O início da pandemia, na China, ficou muito próximo do Ano Novo chinês. E a grande produção para o ano começa nesta época. Foi exatamente no período em que teve lockdown lá.

Eles atrasaram? Isso fez com que eles atrasassem o reinício da produção. Com o passar do tempo, e as consequências ruins no mundo todo, o real foi se desvalorizando e fez com que o produto importado tivesse um preço muito mais alto.

O atraso na produção e o maior preço na importação fizeram com que tivesse uma queda significativa de entrada de importados no Brasil, o que deu oportunidade para a indústria nacional ocupar o espaço. Então, de junho para cá, o setor está atendendo os pedidos, que cresceram muito para o fabricante nacional.

Tem alguma ordem de grandeza? No caso da Estrela, tivemos uma colocação de pedidos 25% acima do ano passado. Infelizmente, não conseguimos atender todos por coisas que ocorrem no Brasil. O câmbio muito favorável acaba incentivando os produtores de insumos básicos a exportar mais.

Então, houve muita falta de insumo, principalmente de cartão, embalagens litografadas, caixas de papelão e alguns termoplásticos. Conseguimos fazer uma colocação para o Dia da Criança maior do que no ano passado, com uma perspectiva muito positiva para o Natal, porque os dados oficiais reportam uma queda de 50% de entrada de produtos importados de janeiro a agosto deste ano comparado com 2019.

O ecommerce não substitui as lojas físicas, certo? Não. Ele foi muito importante para nós porque as lojas físicas estando fechadas, o crescimento do ecommerce gerou um novo fluxo de produção, vendas e recebimento. Agora, ainda hoje no Brasil, o ecommerce não consegue substituir as lojas físicas. O que nós sentimos no Dia da Criança, onde praticamente todas as lojas já estão abertas, é que efetivamente o ecommerce vai ter um papel muito mais relevante do que no ano passado, mas a grande fatia ainda está com as lojas físicas.

Qual foi o impacto da falta do insumo sobre o preço? Para nós, no Dia da Criança não teve impacto, não estamos mexendo. Provavelmente, para o Natal, nós seremos obrigados. É que a negociação para o suprimento para o Dia da Criança já vinha sendo feita com antecedência. Houve a queda em abril, mas as negociações retomaram. Então, nós temos aumentos muito expressivos, preocupantes. Temos coisas, todas acima de dois dígitos, alguns beirando 20%, principalmente na área de cartonados, o que vai obrigar certamente as empresas a repassarem parte ou todo esse aumento de custo para os preços.

Será que a gente vai ouvir que no Dia da Criança o brinquedo foi o novo arroz? Não. Longe disso. Especialmente para o Dia da Criança. Grande parte do suprimento já estava negociado com os preços fixados. Então, para o Dia da Criança, no caso da Estrela, nós não temos nenhum aumento de preço. Para o Natal há produtos que nós temos importado, mas nesses, você é obrigado a repassar porque o câmbio teve um aumento muito expressivo. E o impacto dos insumos entra de forma diferente na composição dos produtos. Em alguns produtos, o termoplástico é mais importante. Já em tabuleiro, o impacto maior é o do cartão, mas longe de ser algo parecido com o arroz.

Nas suas previsões do começo da pandemia, a indústria brasileira poderia até gerar emprego. Era otimismo de Papai Noel? Foi uma realidade. Além do câmbio, tem outro fator com o qual nós não contávamos. As crianças não puderam ir para a escola, ficaram em casa. Então, dentro do setor de brinquedos, os segmentos de jogos e quebra-cabeças tiveram um crescimento expressivo durante a pandemia porque foram produtos muito procurados pelos pais para ajudar no processo de entretenimento.

Quebra-cabeça, inclusive, para adultos, de até 5.000 peças já que os adultos também estavam em home office ou em algum tipo de reclusão. Então, independentemente do câmbio ou da menor entrada de produto importado, o que nós começamos a ver a partir de maio foi um crescimento muito forte nesses dois segmentos. Para a nossa felicidade, foram exatamente os segmentos onde a Estrela tem uma liderança de mercado expressiva, principalmente nessa área de jogos e jogos para a família.

Não sei se podemos dizer que numa pandemia tem alguma coisa bonita, mas como as famílias ficaram mais em casa, teve um envolvimento dos pais com seus filhos, que no dia a dia, em anos anteriores, era muito mais difícil.

Na medida que o núcleo familiar permaneceu em casa, os nossos produtos foram também um instrumento muito bonito de reaproximação. Como os nossos livros, com os pais voltando a ler e estimulando as crianças a ler durante o dia.

Somando todos esses fatores, na Estrela, de março até agora, nós já contratamos mais de 180 pessoas, estamos beirando os mil funcionários. No primeiro momento, a nossa estratégia foi “ninguém sai, nós vamos ver como vamos fazer”. Então, não só não mandamos ninguém embora, como tivemos a felicidade de poder contratar.

A Estrela tem uma linha nova de livros. Qual foi o comportamento disso?​ Nós lançamos, dois anos atrás, a editora Estrela Cultural com o objetivo de ampliar a relação da empresa com as crianças e os adolescentes. Nós também queríamos ser uma alternativa adicional para que as crianças não fiquem só na tela de algum eletrônico.

Entramos em um momento difícil, em que as grandes livrarias tiveram problemas financeiros e pediram recuperação judicial, mas o nosso principal foco é o atendimento às escolas públicas, através das concorrências públicas. Já tivemos a chance de participar de concorrências do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação] em 2018, vendemos uma quantidade importante de livros. Várias prefeituras, ao longo do ano, sempre fazem concorrências e também o foco em escolas particulares.

E tem uma outra linha, dos cosméticos? A Estrela tem 83 anos, e uma das nossas características é estar muito próximo do consumidor. Sistematicamente, a gente faz pesquisas com crianças, pais, professores, psicólogos, para tentar entender o novo momento das crianças.

E o que a gente vinha reparando é que, ao longo do tempo, principalmente as meninas, estavam se afastando muito mais rapidamente do mercado de bonecas. Talvez, há 15 anos, uma menina de 10 ou 12 anos brincava de boneca. Hoje, em uma idade muito mais jovem, já começa a se afastar, infelizmente. E o que nós percebemos é que uma dessas áreas novas de interesse era justamente a de cosméticos.

Depois de dois anos de maturação, fazendo pesquisa e desenvolvimento da coleção, nós lançamos a Estrela Beauty com uma preocupação muito grande, de que os nossos produtos não fossem vistos como um estimulador para a vaidade precoce. Mas, muito pelo contrário, para que ele fosse um instrumento para que as meninas pudessem aprender a brincar com as cores sem nenhum padrão de beleza. E para que ela pudesse, usando os produtos da forma com que ela acha mais bonito, se sentir uma menina mais feliz.

São propostas que a gente dá para a menina ter a opção de, um dia, ela querer ser uma guerreira, e de, no outro dia, ela querer ser uma princesa. Ela pode fazer essas escolhas.

Percebemos que era muito difícil passar todo esse conceito tendo um espaço em uma drogaria ou em um hipermercado, em uma loja de perfumaria ou de cosméticos. Então, a alternativa foi abrir lojas próprias. Abrimos três lojas na cidade de São Paulo. Tínhamos um projeto de expansão já no início de 2020, mas, com o fechamento dos shopping no início do ano, ele teve que ser adiado para o ano que vem. Com toda a dificuldade da economia brasileira nesses últimos anos, o fato de a gente ter ampliado as nossas operações com a Estrela Cultural e com a Estrela Beauty nos dá um rejuvenescimento de marca muito importante.

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