A despeito dos comentários do ministro Paulo Guedes sobre a nota do filho do porteiro no vestibular nesta semana, especialistas no mercado de ensino privado avaliam que o Brasil ainda vai precisar de programas como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) por muitos anos.
Há uma expectativa de que a demanda por carreiras de saúde, como médicos e fisioterapeutas, cresça nos próximos anos para tratar sequelas da Covid. Mas a oferta do ensino público é insuficiente atualmente. E é aí que entra o papel do Fies, segundo William Klein, da consultoria Hoper Educação. "A fala do ministro está na contramão das necessidades educacionais do país", diz.
Segundo Klein, o que vem segurando a inclusão no ensino superior é o EAD (ensino a distância), porém, o modelo é mais popular em cursos de negócios e pedagogia. "Há um limite para medicina no EAD. Onde se estuda medicina? Quem pode pagar é o aluno de alta renda. O Fies dá essa possibilidade para a baixa renda", afirma.
O especialista ressalva que o Fies teve o momento com critérios muito permissivos, atraindo até alunos de renda mais alta, que não necessitavam. Mas hoje a régua é muito alta, ou seja, impede o acesso de quem precisa do financiamento para estudar, segundo ele.
Há também o impacto sobre a saúde financeira das instituições de ensino superior privadas, que no passado surfaram no programa, mas hoje sofrem os efeitos da perda de alunos presenciais na pandemia, enquanto a receita da operação online é muito mais baixa. E como o Fies é um programa de financiamento da modalidade presencial, é natural que seus contratos também tenham recuado.
Segundo o presidente da consultoria Hoper, há no setor a previsão de o número de faculdades pequenas e médias fechadas ou vendidas neste ano será maior do que nos anteriores. "Um bom Fies teria um efeito saudável para a economia, para o aluno que precisa acessar a carreira e para as instituições", diz Klein.
Levantamento da Hoper aponta que o volume de novos contratos do Fies cresceu desde 2011 até superar 731 mil em 2014, quando despencou, chegando a 85 mil em 2019. E teve um novo baque, para cerca de 47 mil no ano passado, com a pandemia.
com Mariana Grazini e Andressa Motter
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