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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Novo líder empresarial terá de reduzir foco financeiro e buscar legado, diz diretor de escola de negócios

Para Antonio Batista da Silva Junior, da Fundação Dom Cabral, chefes de empresas devem sair com nova postura da pandemia

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São Paulo

A pandemia aprofundou a urgência de uma mudança no perfil dos líderes empresarias no Brasil, segundo a escola de negócios da Fundação Dom Cabral. Ainda muito focados em resultado financeiro, os presidentes de empresas terão de entender que agora é preciso conciliar performance da companhia com progresso social, principalmente no Brasil, segundo o presidente-executivo da instituição, Antonio Batista da Silva Junior.

"A pandemia vai ter de acelerar essa percepção [de mudança] dos vários setores, do governo e das empresas. Acho que o líder não sai incólume da pandemia. Ele vai ter que sair com uma nova visão, uma nova postura, uma nova ação", diz Batista.

A tendência é mundial, segundo ele, mas agravada aqui. "Ainda que o Brasil seja uma economia muito desintegrada do comércio global, e que o país tenha perdido protagonismo nas grandes pautas, o que acontece lá fora acontecerá aqui também. Temos problemas específicos. A distribuição da renda no Brasil é criminosa", diz.

Antonio Batista da Silva Junior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral, aparece no canto direito da fotografia, de paletó preto e braços cruzados.
Antonio Batista da Silva Junior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral - Divulgação

Como vocês chegaram à conclusão sobre o perfil de foco financeiro dos líderes atuais?

A gente precisa compreender a evolução da sociedade para poder direcionar nossas ações educacionais. A educação vai para onde vai o mundo.

Uns cinco anos atrás, nós saímos num périplo, conversando com mais de 250 CEOs para entender a angústia, as dores, a percepção deles.

As empresas que vão sobreviver ao final do século 21 são aquelas às quais a sociedade conferir legitimidade para operar. E esse é um mal estar, porque o executivo que tradicionalmente foi educado e preparado para ser um executivo de entrega de resultado econômico e financeiro, hoje, tem uma nova demanda, que é a de construir legados.

Hoje, o executivo vai ter que ser menos escravo do resultado, e ser mais um agente de progresso. Ele vai ter que saber conciliar performance e progresso, porque as empresas precisam ser produtivas, eficientes e terem lucro, mas não é só isso.

Essa é uma mudança grande no mundo corporativo. É uma demanda nova, um paradigma que está em transição, que vai exigir novos comportamentos.


É um profissional que consegue olhar para as desigualdades?

A pergunta que você faz para um executivo é: 'através dos produtos e serviços que você faz, qual o problema da humanidade que você tenta resolver?'.

Aí entram problemas de desigualdade social, de clima, de educação, de água, do meio ambiente.


E é possível mudar essa mentalidade? Em quanto tempo?

Claro que eu acho possível. Esse é o nosso papel. A educação é transformadora. E isso é urgente, tem que começar imediatamente.


Fica mais urgente com a pandemia?

Sem dúvida, a pandemia escancarou. Ela aumentou as diferenças sociais e agravou um problema que já era existente no mundo inteiro. Essa dívida social cresce de maneira acelerada. O problema de saúde está rebatendo no problema econômico.

A pandemia vai ter que acelerar essa percepção [de mudança] dos vários setores, do governo e das empresas. Eu acho que o líder não sai incólume dessa pandemia. Ele vai ter que sair com uma nova visão, uma nova postura, uma nova ação.

As novas gerações são muito voltadas para propósito, para emoção, para paixão com ideias. Então, as empresas têm que vincular emocionalmente seu propósito com o propósito da nova geração, que são os funcionários e os consumidores.


É uma tendência no mercado brasileiro e fora?

Acho que sim. É uma tendência mundial. Ainda que o Brasil seja uma economia muito desintegrada do comércio global e que o país tenha perdido sua presença nas grandes pautas como agente protagonista do mundo, o que acontece lá fora acontecerá aqui também mais cedo ou mais tarde, numa velocidade maior ou menor.

Acho que nós temos problemas específicos. Um deles é o grande fosso social. A distribuição da renda no Brasil é criminosa.

com Mariana Grazini e Andressa Motter

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