O embate de Luciano Hang com senadores que o interpelaram na CPI nesta quarta-feira (30) foi visto por especialistas como um possível ingrediente para a eventual candidatura ao Senado que o empresário tem alimentado.
Enquanto alguns dos parlamentares opositores ao governo o acusaram de tentar usar o depoimento para fazer propaganda da varejista Havan mostrando o vídeo da rede de lojas, ele pode ter conseguido fortalecer uma marca política junto ao eleitorado seguidor de Bolsonaro.
Para Emmanuel Publio Dias, consultor de marketing político e professor da ESPM, Hang repetiu nesta quarta o que vem fazendo desde o início da gestão Bolsonaro, ou seja, não conversa com o público em geral, mas com a base bolsonarista. E no ambiente da CPI, diante dos senadores, pode ter reforçado a narrativa do contraponto, de que os empresários geram emprego, enquanto os políticos, não.
Embora ainda não tenha se declarado candidato, o personagem construído por Hang nos últimos anos, com o discurso e até o figurino que ele não dispensou nesta quarta, lhe servirá de capital político em uma eventual tentativa eleitoral, segundo Dias. E a performance na CPI foi mais um episódio dessa trajetória.
Na avaliação do antropólogo Fred Lucio, também professor da ESPM, a performance de Hang vai muito além da questão mercadológica. "O objetivo é promover a ideologia, até pelo fato de ele usar as cores da bandeira nacional, colocando no próprio corpo essa perspectiva", diz Lucio.
Do ponto do marketing, tecnicamente, não há ganhos para a empresa, segundo Adriano Sá, professor da Fundação Dom Cabral.
"Aquela frase do 'falem mal mas falem de mim' não funciona para marcas. É pouco provável que a exposição em uma CPI tenha repercussão positiva. As marcas ganham potência e escala quando são faladas em contexto positivo na opinião pública", afirma Sá.
com Mariana Grazini e Andressa Motter
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