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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Presidente da Eurofarma diz que negociação para produzir vacina da Pfizer no Brasil foi rápida

Maurizio Billi afirma que contrato de tercerização foi simples

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São Paulo

A parceria da dupla Pfizer e BioNTech com a brasileira Eurofarma para a produção da vacina contra a Covid no Brasil, anunciada no fim de agosto, foi um acordo fechado em poucos meses, mas resultado de um relacionamento de décadas, segundo Maurizio Billi, presidente da Eurofarma.

A relação vem desde os primórdios da farmacêutica brasileira, quando ela fazia terceirização para a Pfizer. O modelo fechado agora é semelhante, com um contrato simples e valor financeiro baixo para a Eurofarma, segundo o empresário, que vê potenciais ganhos de imagem.

“Isso invariavelmente te abre outras portas. E no futuro gostaríamos de nos associar a alguma empresa que possa nos fornecer a tecnologia de fabricação das vacinas. Com certeza, fazer no Brasil desde o ponto zero”, diz. ​

Maurizio Billi, presidente da Eurofarma - Reprodução/Instagram

Como foi a negociação com a Pfizer e quanto tempo durou? Foi uma negociação super rápida porque já nos conhecíamos há anos. No começo da nossa empresa, éramos uma terceirizadora. Naquela época não tinha esse conceito de terceirização. Fomos os primeiros. Fazíamos produtos para outras empresas, entre as quais a Pfizer. É um relacionamento de décadas. E embora nos últimos anos não tenhamos fabricado mais nada para eles, estávamos muito em contato a respeito das PDPs (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo) que o governo queria fazer na parte dos anticorpos monoclonais, que depois não deram muito certo.

De qualquer forma, sempre mantivemos contato e eles me telefonaram em junho perguntando se teríamos condição de fazer a vacina. E em um prazo recorde para uma companhia do tamanho da deles, eles vieram, olharam a fábrica, fizeram uma auditoria, uma inspeção, aprovaram, fomos para um contrato muito simples e foi tudo aprovado. Nos próximos meses devemos começar os testes.

O caso da União Química, que ficou tanto tempo anunciando a parceria com a Sputnik, não virou. Qual é a diferença? A diferença é uma empresa como a Pfizer. Eles se mexem só quando têm certeza de ter um bom produto. É reconhecida mundialmente. Uma das maiores farmacêuticas do mundo. Tem as melhores pessoas trabalhando, agiram rapidamente, têm muita credibilidade. Não é uma empresa que ninguém nunca ouviu falar.

Qual vai ser o resultado disso? Vai ter transferência de tecnologia? Quando esse acordo acabar, a Eurofarma vai dominar alguma tecnologia e poder usá-la adiante? Não. O que estamos fazendo hoje é a mesma coisa que faz o Butantan e a Fiocruz. Eles recebem a vacina pronta e vamos fazer a última etapa da formulação, o enchimento em frascos e a embalagem final. Não existe uma cessão de tecnologia.

O que a Eurofarma ganha no horizonte desse projeto para além do negócio imediato? Os ganhos em imagem são o melhor ponto. É muito importante para uma empresa nacional ter um acordo com uma empresa do tamanho da Pfizer. Invariavelmente, abre portas. E no futuro, gostaríamos de nos associar a alguma empresa que possa fornecer a tecnologia de fabricação das vacinas. Com certeza, fazer no Brasil desde o ponto zero.

Vocês revelam quanto a Eurofarma vai ganhar ou percentual? Não vou abrir os valores, mas posso dizer que é uma simples operação industrial. É o fornecimento das nossas instalações , mão de obra e tudo para fazer o produto. É um serviço de terceirização. O valor envolvido para nós é baixo. O que queremos mesmo é esse ganho de imagem, que tem um valor muito alto. Mas o valor financeiro do negócio é extremamente baixo. Só vamos fabricar. Quem vai vender é a Pfizer, como vende hoje.

Esse aumento da produção nacional abre portas para a venda de vacinas à iniciativa privada, que se falou tanto mas ficou de lado?Eu tenho certeza absoluta. Nessa primeira leva, ficaria até injusto as vacinas privadas, porque separaria muito os ricos dos pobres. Então, acho que fizeram direito no primeiro ano. Depois disso, essa vacina vai ser mais ou menos como a da gripe. Hoje, as empresas compram a vacina da gripe para distribuir para os colaboradores. Acho que vai ser a mesma coisa. É um futuro a médio prazo, assim que passar toda essa indefinição. Provavelmente teremos de tomar a vacina durante alguns anos.

Vocês tiveram parceria no caso da Orygen [união entre farmacêuticas que foi criada em 2012 para produzir medicamentos biossimilares]? Exato. Nos aproximamos muito com esse contato da Orygen. Eles conheciam a nossa fábrica também por causa disso. A Orygen se baseava nas parcerias público-privadas do governo. E esse assunto está muito parado, enrolado. Não tenho muita certeza se esse negócio vai andar para a frente.

Era para fazer a produção de biossimilares? Exatamente. A Pfizer tem uma linha de biossimilares maravilhosa e gostaria de nos passar através da Orygen. Mas o problema é que o governo precisa assinar as parcerias e são coisas que não andam. Os processos governamentais andam no próprio ritmo deles.

A Eurofarma pretende elevar o investimento em inovação? Somos muito forte em genérico de marca. A empresa é líder de receituário no Brasil, ou seja, os médicos prescrevem as marcas e nós fazemos um trabalho de ir a procura dos médicos para que eles prescrevam nossas marcas. Somos os líderes disso no Brasil. E temos uma linha de genéricos puros, de farmácia. Esse é o nosso forte, produtos de marca e genéricos.

Somos hoje a farmacêutica que mais investe em inovação dentre as latino-americanas. Estamos procurando inovar não só na parte de genéricos mas também em incrementais e radicais. Inauguramos um centro de inovação com mais de 400 cientistas que procuram novos produtos.


Maurizio Billi

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