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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Ex-vendedor de biquínis vira banqueiro e atrai investidores milionários

Empreendedor trocou loja na praia pela Neon, fintech financeira que desafia os grandes bancos

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Rio de Janeiro

Antes de fundar a Neon, uma fintech que já arrecadou quase R$ 4 bilhões em investimentos desde sua criação, Pedro Conrade, 30, começou sua carreira com uma loja de biquínis no Guarujá, litoral de São Paulo, ainda na adolescência.

Após ganhar uma bolsa de estudos e se mudar para a capital paulista, a distância impediu que a loja de biquínis continuasse funcionando. Mas outros negócios acabaram surgindo.

Fundou outras startups com um sócio até abrir a Neon, que já conta com 22 milhões de clientes. Hoje, depois de 14 anos, Conrade é um bem-sucedido empresário do setor financeiro. "Sempre fui um empreendedor."

Pedro Conrade está sentado com os braços apoiados em uma mesa. Ele segura um celular e sorri.
Pedro Conrade, CEO da Neon, um dos bancos digitais que têm conquistado parte do público dos bancos tradicionais oferecendo serviços menos burocratizados - Rafael Roncato - 22.jan.18/Folhapress

Como deixou de ser o dono de uma loja de biquínis para se tornar um banqueiro? Eu não me considero um vendedor de biquíni nem um banqueiro. Sempre fui um empreendedor. Nasci querendo ter o meu próprio negócio.

A loja começou quando uma amiga de São Paulo falou que ia para o Guarujá e não encontrava biquíni por um bom preço e com qualidade. Meu pai me deu um dinheiro para pintar a loja, montar a vitrine e comprar os manequins. A gente foi ao Brás comprar biquínis. Etiquetei pelo dobro do valor e saí vendendo. Simples assim. Eu tinha 16 anos, estudava e cuidava da loja. Foram dois anos assim. Aí consegui uma bolsa para administração na FGV em São Paulo, fui fazer faculdade, mas continuei com a loja.

As vendas caíram, o estoque começou a não bater. Tudo deu errado. Aprendi que o olho do dono engorda o porco. Tem que estar perto. As coisas não vão no automático.

E como foi parar no setor bancário? Eu tive um sócio em outras startups antes da Neon. Estava com 23 anos quando montei a fintech. Já era para ter me formado, mas eu trabalhava. Estiquei enquanto deu, mas tive que abandonar [a graduação].

O estopim [para abrir a fintech] foi quando usei R$ 1,00 do meu cheque especial e me cobraram R$ 46 de tarifa. Gastava R$ 800 por ano em tarifa de banco, sendo que eu ganhava R$ 1.500 por mês.

Eu já entendia um pouquinho desse monte de tecnologia, não muito. E quis começar uma conta digital: um aplicativo conectado ao cartão. Você usa, vai tendo as despesas, deposita e paga no boleto. Começou assim. E foi se tornando algo maior. Qual é o objetivo? Tirar o cliente das garras das tarifas nos "bancões".

Hoje tem cartão de crédito, empréstimo pessoal, consignado privado, investimentos, todos os tipos de transações.

Na Neon, começou sozinho ou teve sócio? Muita gente se juntou no começo e, até hoje, tem um grupo de sócios com 10% da empresa.

A Neon começou como uma empresa de tecnologia, sem licenças de instituição financeira. Fizemos parcerias com bancos para poder operar. Com o tempo, conseguimos licenças de instituição de pagamento, DTVM [Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários ] —por meio da aquisição da Magliano—, e, recentemente, de financeira com a compra da Biorc.

Precisou de investidores para começar? A primeira rodada da Neon foi de R$ 855 mil com 14 investidores-anjo. Eu vejo as startups hoje começando com um cheque de US$ 3 milhões e ainda reclamam. Eu tive que ralar para conseguir investidores. Até hoje, a empresa levantou mais de R$ 3,7 bilhões em investimentos.

Como convenceu essas pessoas a investirem em um negócio de alguém sem experiência? As pessoas conseguiam ver que eu tinha vontade de fazer as coisas acontecerem. E o investimento não é chegar para alguém e falar: "oi, tudo bem? Me dá o dinheiro. Tchau". Você conhece [o investidor], diz o que está construindo. Depois de um mês, vai lá e fala ‘Olha, eu já fiz isso aqui’.

Foi assim com todos os nossos investidores. Na primeira vez que eu falei com a General Atlantic [gestora de private equity], por exemplo, que foi uma grande investidora, eu estava procurando US$ 300 mil. Eles falaram: "Aqui na GA é, no mínimo, uns US$ 30 milhões para começar a fazer sentido". Eu disse: "Tá bom, daqui a duas vidas eu volto e peço esse dinheiro". Três ou quatro anos depois eles investiram na Neon.

Como a empresa se difere dos bancos tradicionais? Na Neon, as pessoas têm acesso a diferentes créditos. A gente, quando analisa o usuário, sabe se está negativado. E aí damos a chance de a pessoa construir o crédito conosco. Vem aqui na Neon, usa nossa conta por dois ou três meses, paga uma conta de luz, recebe seu salário, faz sua portabilidade. A gente entende seu comportamento e quase esquece do seu passado. Aliás, 80% da nossa aprovação vêm 30, 60 ou 90 dias após a pessoa estar na Neon.

Então não tem como negar pedido de crédito ao cliente? Tem. Se chegou alguém aqui superendividado e negativado, a gente não dá um cartão de crédito hoje. Mas, se usar a conta da Neon por dois ou três meses e fizer mais duas ou três coisas, como colocar um investimento de R$ 50, eu já consigo dar um primeiro crédito para ser utilizado.

Como fazem para competir com os grandes bancos? Os "bancões" têm estruturas de custos fixas muito caras. A gente não tem. O time é quase 100% remoto. Hoje são 50 pessoas no escritório das 2.200 que trabalham na empresa. Cerca de 60% do time mora fora de São Paulo. Qual é a conversa aqui? Ser eficiente e low cost [gerar pouca despesa] para não passar a nossa eficiência para o cliente.


Raio-X

Pedro Conrade

Idade: 30

Carreira: Fundou a fintech Neon em 2016. Antes, foi sócio de uma venture building e de outras duas startups.

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