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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Startup de brasileiro chega ao país e converte dado pessoal em dinheiro

André Vellozo, fundador da DrumWave, chega ao país para lançar sistema que converte dados em moeda corrente

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Brasília

O empreendedor brasileiro André Vellozo, 53, mora no Vale do Silício, nos EUA, onde fundou a DrumWave, empresa de tecnologia que desenvolveu uma plataforma que promete transformar os dados pessoais de qualquer pessoa em dinheiro. Isso mesmo.

Para ele, hoje, o uso maciço de redes sociais, aplicativos e sistemas de pagamento cria uma base de informações gigantesca sobre comportamentos e perfis de cada cidadão. E isso vale ouro.

O problema é que somente gigantes como Google e Facebook, entre outros, geram dinheiro com esses registros, seja fazendo análise para impulsionar cliques e receitas, seja vendendo esse acervo digital.

André é um homem branco de cabelos grisalhos. Ele usa camiseta preta.
André Vellozo, fundador da DrumWave - Arquivo pessoal

Vellozo criou um sistema que monetiza esses dados e os transfere para uma carteira digital, batizada de Dwallet, que poderá ser usada para transações financeiras, como pagamento de contas, transferências e até aplicações financeiras.

Para isso, ele já fechou no Brasil parcerias com o Serpro [Serviço Federal de Processamento de Dados], maior servidor de dados do país, e com ao menos três grandes redes que servirão de pontapé inicial para que a "carteira de dados" seja massificada no país.

Nesta semana, ele chega ao Brasil para apresentar seu modelo de negócio à equipe do governo eleito. Ele defende que a solução tem potencial de reduzir a pobreza no país.

Monetizar é a mesma coisa que comprar e vender dados? Não. Os dados têm valor. Hoje qualquer relação nossa, seja social ou financeira, gera um registro, produz um dado, e ele mostra um pouco de quem somos, os nossos hábitos, preferências. A LGPD, a lei de proteção de dados, obriga as empresas a arquivarem e protegerem nossos dados. A nova legislação também obriga que eles sejam entregues quando forem solicitados pelo titular, você. Isso significa que as companhias já estão preparadas para o manuseio desses dados, que é um pedaço do meu negócio.

Hoje, as empresas compram e vendem esses dados umas das outras e ganham com essa operação. Constroem estratégias comerciais. O dono desse dado, você, recebe o que por isso? Zero. Nos EUA, empresas que violaram as regras de proteção de dados foram multadas em bilhões e bilhões de dólares. Quem recebeu essa indenização? O governo. É isso que proponho mudar.

Como ganhar com os dados pessoais? A solução da DrumWave pode ser comparada ao Sistema Brasileiro de Pagamentos em que a moeda é o seu dado. Funciona como se fôssemos a Visa ou a Mastercard. Credenciamos agentes pelo país, que ficam responsáveis pela custódia dos dados. Esses agentes fecham contratos de parceria (adesão) com as empresas interessadas em fazer parte dessa cadeia, que passa a aceitar a DrumWave —ou a Dwallet que tem o seu dado convertido em dinheiro— como moeda de pagamento.

Um exemplo: imagine que você, hipoteticamente, vá a uma cafeteria credenciada. Lá, você, que é um cliente habitual, sempre toma seu cafezinho e esse pedido fica registrado, com detalhes —com espuma, sem cafeína. Você paga e o caixa pergunta se você autoriza o compartilhamento do dado com terceiros. A decisão de aceitar ou não, claro, é sua. Se autorizar, você pode ficar com 20% do valor da negociação dos seus dados, e a cafeteria, com 80%. Hoje ela fica com 100%. Eventualmente, ela poderia te oferecer o café de graça naquele momento como forma de pagamento. São muitas as possibilidades.

Essas relações comerciais, no caso, geram um crédito que vai para a sua carteira, a sua poupança de dados, que poderá ser utilizada na rede credenciada.

Quantas empresas no Brasil já estão credenciadas? Assinamos um contrato com a Serpro, a maior empresa pública de tecnologia do mundo. Também fechamos com uma grande varejista, um dos maiores bancos, uma grande empresa de alimentos.

Pode dizer como essas parcerias vão se converter em benefícios para os brasileiros? Ainda não posso revelar. Essas parcerias serão anunciadas em breve pelo presidente da DrumWave no Brasil.

Essa plataforma tende a se fundir com o Sistema Brasileiro de Pagamentos? O que presenciamos hoje é a colisão entre duas galáxias: a infraestrutura construída pelas big techs, como Google e o Facebook, e a das big finance, os bancos. Os bancos centrais estão se tornando bigtechs. O Brasil lançou o Pix, o próprio Sistema Brasileiro de Pagamentos, o open banking, são inovações que servem de referência para o mundo.

O BC brasileiro está muito atento à economia dos dados. O presidente, Roberto Campos Netto, já declarou que a tendência é essa monetização de dados. Na outra ponta, os bancos estão virando marketplaces e os marketplaces, bancos. A DrumWave é uma startup resultante da fusão desses dois mundos. E isso só ocorre porque o dado tem valor.

Afinal, qual será a fonte de receita da DrumWave? As operações. Cobramos uma taxa das credenciadoras e um fee [tarifa] por transação.

De que forma sua ideia pode ajudar a reduzir a pobreza? Acho que dá para criar um programa social de renda mínima com dados. Seria preciso uma articulação maior dos entes públicos e privados. Quando você coloca o dado na mão do cidadão —não importa a classe social— isso gera valor, cria renda.


Raio-X

André Vellozo

Idade: 53

Formação: autodidata em cibernética

Carreira: Empreendedor, inventor e investidor radicado há 12 anos nos EUA, onde fundou a DrumWave. Possui diversas patentes junto ao USPTO (United States Patent and Trademark Office) e recebeu vários prêmios.

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